Acra, Gana, 24/10/2011 – A extinção dos rios, a redução das reservas hídricas subterrâneas, a seca e as tempestades que matam a vegetação obrigam as camponesas de Gana a gastarem muito mais tempo e energia do que antes na busca por água e alimento. Para as mulheres ganesas, a quase desconhecida mudança climática significa mais trabalho para sobreviver.
“As mulheres não participam da tomada de decisões para conter as mudanças do clima, convertidas em uma ameaça para a subsistência nos países em desenvolvimento”, disse o diretor-executivo da Fundação Abibimman, Kenneth Nana Amoateng. No entanto, são elas que devem improvisar soluções e responder aos desafios impostos por este fenômeno. A maioria das mulheres prejudicadas pela variabilidade do clima carece de representação ou fica fora das políticas e dos programas estatais, desenhados para conter suas consequências.
A pescadora Akos Matsiador, de 40 anos, perdeu sua casa no ano passado, quando um aumento imprevisto do nível do Oceano Atlântico atingiu a aldeia de Horvi. “A corrente foi tão forte que submergiu toda a aldeia. Cestas com pescado defumado que havia guardado para vender em outras aldeias acabaram no mar”, contou Mtsiador, que perdeu sua casa e sua fonte de renda. Mtsiador e outras vítimas desta espécie de maremoto, como Mercy Hlordzi, que perdeu seu marido além de sua fonte de renda, vivem em uma cabana perto da casa do chefe da aldeia. “Estamos aqui, mas não fazemos nada porque o mar destruiu nosso trabalho”, argumentou.
Elas, como outras mulheres que passaram pelo mesmo, esperam que o governo intervenha e as ajude a reiniciar a atividade. Suas vozes não estão incorporadas ao discurso e aos processos para conter a mudança climática, pois sabem muito pouco, ou quase nada, sobre o fenômeno e suas consequências na vida cotidiana. Para oferecer-lhes ajuda, a Fundação Abibimman, junto com a organização ambientalista Greenpeace e outras entidades não governamentais, realizaram na semana passada o que se chamou de Sessões sobre Mulheres e Justiça Climática, na cidade de Tema, na costa atlântica. Mulheres de vários povoados e aldeias do país puderam compartilhar suas respectivas experiências nesta atividade.
A última estação seca afetou fontes e cursos de água, e até deixou rachaduras na terra, disse Memuna Sandow, integrante da área eleitoral de Wulugu, no distrito de West Mamprusi, norte de Gana. “A seca causou perda de alimentos, cultivos e animais, elementos básicos para sobreviver. As mulheres cuidam do meio ambiente mais do que os homens, mas na hora de decidir não são consideradas”, afirmou Sandow. A falta de conhecimento sobre a mudança climática as mantém paralisadas sem saber como lutar contra o fenômeno, lamentou.
Por isso é necessário que o Estado as inclua no desenho e na implantação de políticas e programas contra a mudança climática, ressaltou Sandow. “A pouca participação de mulheres nos processos de decisão tem consequências negativas sobre as medidas para combatê-la”, acrescentou. “É um fato indiscutível que as mulheres são as mais pobres das comunidades que subsistem à base de recursos naturais”, concordou a ministra de Assuntos de Mulheres e Infância, Juliana Azumah Mensah.
Na qualidade de signatária de várias convenções internacionais, Gana concordou em incluir a perspectiva de gênero nas pesquisas sobre o impacto da mudança climática, afirmou Mensah. As autoridades consideram incluir mulheres no desenvolvimento de critérios de financiamento e distribuição de recursos para iniciativas destinadas a conter as consequências do fenômeno ambiental, disse a ministra.
“Espero que o resultado das sessões sobre mudança climática passe para os órgãos adequados para comunicar planos à assembleia nacional, bem como às locais”, acrescentou Mensah. “Temos de considerar a terra não como herança de nossos pais, mas como valor que pedimos emprestados aos nossos filhos e que estamos obrigados a devolver”, diz um velho provérbio chinês lembrando por Amoateng. Envolverde/IPS