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Estados Unidos buscam outros caminhos para incidir na Síria

Washington, Estados Unidos, 8/2/2012 – Washington estuda outras formas de incidir no desenvolvimento da crise na Síria depois da frustrada tentativa do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) de aprovar uma resolução a favor da mudança de governo nesse país do Oriente Médio para um de unidade nacional. A revolta na Síria está para completar um ano e a contínua violência provocou chamados mais fortes para uma intervenção internacional que obrigue o presidente Bashar al-Assad a dar um passo atrás.

No começo, o Conselho Nacional Sírio (CNS), que parece encabeçar a revolta, se opunha a uma intervenção estrangeira, mas gradualmente foi mudando de posição até considerar que é a única forma de evitar uma guerra civil no país. A ONU estima que nos enfrentamentos do ano passado morreram pelo menos cinco mil pessoas. O CNS divulgou um comunicado chamando a comunidade internacional “a defender e fazer algo para evitar o derramamento de sangue de sério inocentes”, ao mesmo tempo condenando a falta de vontade da Rússia para pôr fim à sua sólida aliança militar com o regime de al-Assad.

As tentativas de coordenar ações internacionais receberam um duro golpe no dia 5, quando Rússia e China vetaram uma resolução do Conselho de Segurança da ONU que propunha ao presidente da Síria ceder o poder ao vice-presidente, Farouk al-Shara, como parte de um processo para um governo de unidade nacional.

O Departamento de Estado norte-americano comunicou, no dia 6, o fechamento da embaixada dos Estados Unidos em Damasco e a repatriação de todo o pessoal. Após os últimos episódios de violência em Damasco, “nos preocupa o fato de nossa embaixada não estar suficientemente protegida de ataques armados. O embaixador, Robert Ford, abandonou a capital síria, mas continua sendo o representante dos Estados Unidos para esse país e seu povo”, diz o comunicado.

As responsabilidades humanitárias dos Estados Unidos também estiveram sobre a mesa. A legisladora Sue Myrick expôs as formas como Washington poderia aliviar a profunda crise que sofrem as comunidades de refugiados sírios nas fronteiras do país, bem como na própria Síria. As duras sanções contra o regime sírio, a ruptura das relações diplomáticas e econômicas e as novas prioridades orçamentárias fixadas por Damasco fizeram disparar o preço dos alimentos básicos. Em algumas áreas do país há escassez de alimentos, de remédios e de eletricidade. Os acampamentos de refugiados da Turquia não parecem estar muito melhor, faltam produtos básicos, além das más condições climáticas.

Armando os rebeldes

O fracasso da resolução do Conselho de Segurança da ONU multiplicou os apelos para que Washington tome medidas independentes na Síria e incida no desenvolvimento dos acontecimentos no terreno. Após a votação do dia 6 no Conselho, a secretária de Estado, Hillary Clinton, propôs à coalizão de “amigos da democracia da Síria” coordenar esforços para tirar Assad do poder.

“Trabalharemos com os amigos da democracia da Síria no mundo para apoiar os planos pacíficos da oposição a favor de uma mudança”, defendeu Clinton. Esta afirmação fez pensar na possibilidade de as potências ocidentais ajudarem os rebeldes com armas e treinamento, algo semelhante ao Grupo de Contato para a Líbia, que no ano passado ajudou a financiar e armar o opositor Conselho Nacional de Transição.

Ainda não parece haver ânimo para uma participação militar direta, mas muitos governantes, como o senador Joseph Lieberman, do Partido Democrata, pediram abertamente o fornecimento de armas, inteligência e outro tipo de assistência militar aos rebeldes sírios, especialmente aos desertores do Exército Livre da Síria.

Preocupação com uma intervenção

Numerosos observadores estão descontentes com a crescente militarização do conflito e muitos consideram que a participação militar do Ocidente distorceria a natureza da revolta. Bassam Haddad, diretor do Programa de Estudos sobre Oriente Médio na Universidade George Mason, escreveu um artigo condenando a forma como uma intervenção estrangeira sufocaria os objetivos originais da revolta, gerando um acalorado debate entre defensores e opositores da medida.

Em entrevista à rede de televisão do Catar, Al Jazeera, Haddad, também fundador do site Jadaliyya, alertou para a transformação gradual da revolta da Síria, “de um levante interno legítimo contra a ditadura para algo muito mais cínico”. Entre outros, acusou os Estados Unidos de apoiarem a revolta na Síria em benefício de seus interesses, ao mesmo tempo que ignoram ou sufocam fenômenos semelhantes, por exemplo, no Bahrein e no Iêmen.

Bashar Jaafari, embaixador da Síria na ONU, capitalizou, no dia 4, essas contradições e perguntou à sua colega norte-americana, Susan Rice porque não “sentia asco” pelos numerosos vetos dos Estados Unidos protegendo as operações militares de Israel contra Gaza, Líbano e, em geral, contra o povo palestino. Rice havia declarado que “sentia asco por Rússia e China impedirem que o Conselho de Segurança cumprisse seu exclusivo propósito”.

As relações de Washington com o regime sírio são delicadas por um assunto obscuro de anos. Com toques de ameaça para os que defendem uma mudança de regime no Ocidente, a Síria havia libertado Abu Musad al-Suri, suposto cérebro dos atentados de 7 de julho de 2005 em Londres, preso dentro do programa de detenções extraordinárias da Agência Central de Inteligência (CIA). O fato foi interpretado como uma declaração implícita das consequências de abandonar o regime sírio e uma lembrança dos laços que os dois países mantiveram durante a “guerra global contra o terrorismo”, lançada pelo governo de George W. Bush (2001-2009).

No contexto da escalada de violência na Síria e da disposição do regime de Assad de recorrer a todas as opções disponíveis para permanecer no poder, muitos analistas consideram que esse tipo de episódio sugere que uma maior intervenção estrangeira só avivará as brasas de uma guerra civil.

“O veto diminuirá a relevância da ONU e aumentará as possibilidades de a Síria afundar em uma guerra civil, alimentada pelo fluxo de armas e pela assistência a todas as partes”, escreveu Marc Lynch, especialista em Oriente Médio da Universidade George Washington, em seu blog foreingnpolicy.com, após a votação do Conselho de Segurança.

“O fracasso da ONU não porá fim aos esforços regionais e internacionais para conter a escalada de brutalidade, mas os empurra para outras opções menos efetivas e para canais menos legítimos. As possibilidades, já escassas, de uma aterrissagem suave na Síria, uma transição política que ponha fim à violência, se aproximam de um fracasso total”, afirmou Lynch. Envolverde/IPS