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Estados Unidos veem oportunidade de aproximação com a Venezuela

Foto: Divulgação/Internet

Washington, Estados Unidos, 8/3/2013 – Após a morte do presidente Hugo Chávez, os Estados Unidos expressaram seu desejo de melhorar as relações com a Venezuela. Porém, funcionários e analistas independentes acreditam que qualquer aproximação levará tempo e enfrentará muitos obstáculos.

Especialistas norte-americanos também acreditam que o vice-presidente venezuelano, Nicolás Maduro, conta com as maiores chances de vencer as próximas eleições, que devem ser convocadas dentro dos próximos 30 dias. Afirmam que se Maduro for eleito sucessor de Chávez e liderar um governo com amplo consenso, provavelmente as relações com Washington melhorarão.

“A oposição perdeu as eleições presidenciais de outubro e também as regionais em dezembro, e agora seus membros se acusam entre si”, disse Michael Shifter, presidente do Diálogo Interamericano, centro de Estudos com sede em Washington. “Creio que Maduro está em uma posição muito sólida”, afirmou. Mas, para garantir uma vitória o vice-presidente, provavelmente, terá que consolidar sua base política, que compartilhe os sentimentos antinorte-americanos que caracterizaram Chávez, segundo analistas.

No dia 5, poucas horas antes da morte de Chávez, Maduro anunciou a expulsão de dois adidos militares norte-americanos acusados de quererem desestabilizar o país, e sugeriu que Washington havia inoculado de alguma forma o câncer no presidente. Para David Smilde, do Escritório em Washington para Assuntos Latino-Americanos (WOLA), o momento em que Maduro fez este anúncio revelou que seu objetivo era criar unidade sob sua pessoa antes da iminente morte do presidente.

“Creio que o ocorrido ontem foi parte de uma campanha eleitoral, e, portanto, não necessariamente relacionada com o processo com o qual estamos tentando melhorar as relações”, disse a jornalistas na quarta-feira um alto funcionário do Departamento de Estado norte-americano, que pediu para não ser identificado.

O funcionário qualificou de “vergonhosas” as acusações de Maduro, que foi chanceler venezuelano entre 2009 e janeiro deste ano, cargo que compatibilizou com o de vice-presidente desde outubro de 2012. “Seguramente será uma campanha difícil. Sem dúvida, continuaremos ouvindo coisas sobre os Estados Unidos que não ajudarão a melhorar as relações”, previu.

No entanto, a maioria dos observadores acredita que Maduro estaria disposto a conseguir maior aproximação com Washington do que a tentada por Chávez, que inicialmente comemorou a eleição do presidente Barack Obama em 2008, mas rapidamente se desiludiu e em 2010 declarou persona no grata o embaixador norte-americano em Caracas.

No final de novembro, Maduro manteve uma cordial conversa por telefone com a secretária de Estado-adjunta para Assuntos do Hemisfério Ocidental, Roberta Jacobson, sobre como melhorar as relações bilaterais. “Se Maduro for eleito e liderar um governo com amplo consenso, é provável que as relações com os Estados Unidos melhorem”, disse Smilde.

“Maduro é um negociador, e seu papel foi significativo no avanço das relações diplomáticas com a Colômbia. Alguém pode imaginar uma melhoria semelhante com os Estados Unidos. Mas, a âncora conceitual da ideologia de Maduro é o anti-imperialismo”, na qual os Estados Unidos continuam sendo o inimigo, afirmou Smilde.

Por sua vez, Shifter disse à IPS: “Maduro, obviamente, governará de forma muito diferente em relação a Chávez. Não tem o mesmo carisma nem o mesmo apetite por controle e poder. É um líder sindicalista com muita experiência em negociações, por isso veremos um estilo diferente que poderia oferecer algumas oportunidades para os Estados Unidos. Não quentes e estreitas relações com a Venezuela, mas, ao menos, canais de comunicação e embaixadores nas duas capitais. Isso já seria um avanço”.

Ao mesmo tempo, Shifter disse que a Casa Branca avançaria muito lentamente, para não provocar a ala mais direitista do Congresso norte-americano, que comemorou a morte de Chávez com entusiasmo. Entre outras coisas, os legisladores mais antichavistas pediram ao governo de Obama que respondesse com a mesma moeda às expulsões dos adidos militares em Caracas, medida que funcionários do Departamento de Estado disseram, na quarta-feira, que estava sendo analisada.

“Hugo Chávez foi um tirano que obrigou o povo da Venezuela a viver no medo”, disse o presidente da Comissão de Assuntos Exteriores da Câmara de Representantes, Ed Royce, do opositor Partido Republicano. “Sua morte afeta a aliança de líderes esquerdistas antinorte-americanos na América do Sul. Finalmente, este ditador desapareceu”, acrescentou.

O problema no lado norte-americano é que “alguns membros do Congresso poderiam se tornar muito críticos diante de qualquer sinal de aproximação entre o governo e Maduro”, disse Shifter. E os funcionários de Obama “não irão querer brigar com o Congresso por causa da Venezuela. Assim, tentarão explorar essas aberturas, mas serão muito cautelosos e cuidadosos ao fazê-lo”, acrescentou.

Apesar da hostilidade de Chávez em relação aos Estados Unidos, que atingiu seu ápice quando o governo de George W. Bush (2001-2009) apoiou uma falida tentativa de golpe contra ele em 2002, as fortes relações comerciais não foram afetadas durante seus 14 anos de governo.

Shannon O’Neil, pesquisador de assuntos latino-americanos para o influente Centro de Relações Exteriores, disse em uma coluna para a rede britânica BBC que os Estados Unidos compravam mais petróleo da Venezuela do que de qualquer outro país, enquanto a nação sul-americana era a maior consumidora de produtos manufaturados norte-americanos, particularmente automóveis.

Desde a conversa em novembro entre Maduro e Jacobson, funcionários de menor escalão dos dois países teriam realizado reuniões ocasionais em Washington para explorar novas oportunidades de cooperação, no que um funcionário do Departamento de Estado qualificou de “caminho com algumas pedras”.

“Não começamos com a parte substantiva dessas conversações, assim realmente não fomos muito longe e não estávamos seguros de que o governo da Venezuela desejava continuar esse caminho quando ocorreu a morte de Chávez”, disse o funcionário. Ele também sugeriu possibilidades de cooperação na luta contra as drogas e o terrorismo, bem como em segurança pública e em temas comerciais e econômicos que interessam aos dois países.

Além disso, informou que Washington enviará hoje uma delegação ao funeral de Estado de Chávez e pressionará Caracas para que permita a entrada de observadores internacionais, bem como o trabalho de grupos locais, para acompanharem de perto as próximas eleições. Envolverde/IPS

* O blog de Jim Lobe está no endereço www.Lobelog.com.