O que é melhor: um longa ou seis curtas, os quais, com enredo comum formam uma ficção de duas horas? Nas mãos de um diretor competente e de ótimos atores ambas as opções merecem ser valorizadas.
O cinema argentino vive nos oferecendo belas intrigas ficcionais. A mais recente, o filme “Relatos Selvagens”, é um drama com toques de comédia, que narra situações comuns ao cotidiano de todos nós, mas com desfechos, digamos, tragicômicos.
As inspirações para a meia dúzia de episódios são os relacionamentos: familiares, profissionais; amizades, conflitos e, principalmente, os efeitos que determinados acontecimentos e atitudes provocam nas pessoas, muitas das quais pouco ou nada sabemos.
A abertura da fita reúne, não por acaso, pouco mais de uma dezena de pessoas num mesmo voo, e o seu desfecho inesperado nos dá uma pista daquilo que o ser humano é capaz de fazer quando se sente contrariado, atacado ou desrespeitado.
O que assistimos a seguir com desfechos surpreendentes nos coloca diante de situações de conhecimento público. Segundo o dicionário Priberam, selvagem é o homem ou o povo que vive sem mais noções sociais do que as que o instinto lhe sugere.
Apesar da evolução em várias áreas, nesse século XXI a humanidade parece que regrediu, está perdendo a crítica, a tolerância e aquilo que nos diferencia dos animais: a razão e a capacidade de discernir. Os episódios desta obra de ficção são uma pequena amostra do que estamos nos transformando por não sermos capazes de compreender o quanto somos interdependentes, e que estamos aqui, neste mundo, a serviço uns dos outros. Por aqui, fico. Até a próxima.
Serviço:
Relatos Salvagens, Argentina/Espanha, 2014
Direção e roteiro: Damián Szifron
Produção: Agustín Almodóvar, Pedro Almodóvar, Leticia Cristi, Esther García, Axel Kuschevatzky, Matías Mosteirín, Hugo Sigman, Pola Zito
Elenco: Ricardo Darín, Rita Cortese, Nancy Dupláa, Darío Grandinetti, Oscar Martínez, Osmar Núñez, María Onetto, Erica Rivas, Leonardo Sbaraglia, Julieta Zylberberg
Duração: 122 min.
https://www.youtube.com/watch?v=Dgs8d78EKeQ
* Leno F. Silva escreve semanalmente para Envolverde. É sócio-diretor da LENOorb – Negócios para um mundo em transformação e conselheiro do Museu Afro Brasil. É diretor do IBD – Instituto Brasileiro da Diversidade, membro-fundador da Abraps – Associação Brasileira dos Profissionais de Sustentabilidade, e da Kultafro – rede de empreendedores, artistas e produtores de cultura negra. Foi diretor executivo de sustentabilidade da ANEFAC – Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade. Editou 60 Impressões da Terça, 2003, Editora Porto Calendário e 93 Impressões da Terça, 2005, Editora Peirópolis, livros de crônicas.