Estaria Angela Merkel tentada a dissolver o euro?

Enquanto Merkel se esforça para encontrar uma solução, seus assessores fazem planos para o fim do euro. Foto: Reprodução/Getty

Por ora, dissolver o euro seria mais caro do que tentar mantê-lo junto, mas se a Europa não parar de apenas discutir, as contas mudarão.

Especula-se que Angela Merkel esteja considerando agora mesmo como dissolver o euro. Para essa mulher extremamente prática, há também uma razão prática para começar a se preparar para um rompimento: tal cenário está se tornando cada vez mais provável. A Grécia espera o pior. Boa parte do sul da Europa está em crise e os credores do norte estão se tornando cada vez menos compreensivos. Uma desintegração caótica seria uma calamidade. Enquanto Merkel se esforça para encontrar uma solução, seus assessores certamente estão fazendo planos razoáveis sobre um cenário de fim da união monetária. Por ora, dissolver o euro seria mais caro do que tentar mantê-lo junto, mas se a Europa não parar de apenas discutir, as contas mudarão.

Comecemos pela Grécia. Há uma falácia comum, na Alemanha inclusive, de que expulsar os gregos constituiria uma maneira muito menos cara de dar uma lição útil. Com efeito, o Banco Central Europeu (BCE) detém títulos da dívida grega cujo valor de face é de € 40 bilhões (US$ 50 bilhões), os quais seriam convertidos para uma dracma desvalorizada e os quais poderiam não ser honrados pela Grécia. Mais cerca de US$ 160 bilhões em empréstimos que a Grécia recebeu poderia ter o seu valor reduzido ou mesmo zerado. Os US$ 122 bilhões da dívida temporária que a Grécia acumulou com o sistema de pagamentos do BCE poderiam se transformar em uma perda. Adicione-se o outro empréstimo de, digamos, US$ 122 bilhões para fortalecer a Grécia e a conta atinge US$ 392 bilhões. Estimar o custo da expulsão da Grécia é um trabalho de adivinhação, mas a parcela da Alemanha pode atingir US$ 135 bilhões, cerca de 4% do PIB do país.

Um plano B mais ousado amputaria muito mais do que apenas o local de infecção, cortando fora Espanha, Irlanda, Portugal e Chipre. O custo de um plano B mais robusto seria alto. Quando se soma o valor dos títulos das dívidas soberanas mantidas pelo BCE, as dívidas temporárias em seu sistema de pagamento, empréstimos de resgate, e um pacote de estímulo para suavizar o impacto de ser removido do bloco, o custo total para Espanha, Irlanda, Portugal, Chipre e Grécia talvez atinja US$ 1,8 trilhão. Mas o cheque em branco para proteger os outros quatro países em crise após uma caótica expulsão grega pode ser mais alto do que isto; e a expulsão mais ampla estabeleceria uma zona do euro mais defensável e coordenável.

O euro poderia ter sido salvo há muito tempo caso os políticos houvessem concordado a respeito de quem deveria arcar com o que ou de quanta soberania se abriria mão. Em vez de ir adiante, Merkel esperou, contando com a possibilidade de que ajustes fiscais e reformas estruturais estimulariam mais crescimento no sul da Europa e de que os políticos poderiam se entender. No entanto, a evidência é de que o tempo está contra ela. A não ser que Merkel pressione em alguma direção, a escolha terá que ser feita entre uma dissolução cara mais cedo e uma realmente catastrófica mais tarde.

* Publicado originalmente no jornal The Economist e retirado do site Opinião e Notícia.