Dakar, Senegal, 21/9/2011 – Barris cuidadosamente colocados fazem fila na porta de muitas casas do bairro de Leona, em Kaolack, cidade de 20 mil habitantes no oeste do Senegal. São sinais do êxito de um projeto para introduzir o biogás como combustível. Amadou Faye, cuja família cria vacas, cabras e ovelhas, e produz amendoim, foi um dos primeiros a adotar o novo sistema. Nos últimos meses, sua família, de 25 pessoas, usou exclusivamente energia produzida com dejetos de seu gado.
“Gastar 300 mil francos CFA, mais ou menos, para instalar o biogás é difícil. Porém, considero importante. Desde que começamos a usar esta energia não tivemos problemas com cortes de eletricidade”, disse à IPS. “Temos nossa própria fonte de energia. Facilmente encontro peças de reposição quando o equipamento apresenta algum problema, porque a Thecogas Sénégal, a empresa responsável pela instalação, os fornece”, acrescentou.
Os efeitos nocivos no meio ambiente pelo uso de lenha ou carvão como combustível estão bem documentados. Contribuem para o desmatamento e também ameaçam a saúde das mulheres, que passam horas diariamente cozinhando. A eletricidade não é uma alternativa neste país, devido à inadequada geração e às más conexões. Quase todos os países da África ocidental enfrentam cortes frequentes.
No Senegal, estas interrupções são motivo de manifestações públicas contra a companhia estatal do setor. Portanto, junto com Burkina Fasso e Mauritânia, apelou para o biogás como solução parcial. Alassane Dème, secretário-geral do Ministério de energia senegalês, disse que o principal obstáculo do Programa Nacional de Biogás (PNB) é o alto custo de instalação. O PNB promove e apoia a construção de milhares de biodigestores por pedreiros locais.
Estes consistem em uma câmara subterrânea, semelhante a um tanque céptico, no qual se coloca o esterco de vaca e água todos os dias, de forma manual, e um sistema de barris onde o gás produzido é mantido antes de ser canalizado para a cozinha da casa. “A fermentação da mistura do esterco e outros dejetos, em condições semelhantes à digestão humana, produz gás metano, que é enviado por um sistema de tubos para a cozinha ou uma lâmpada”, disse Dème. Anne Mendy Corréa, coordenadora do PNB, explicou que, além do gás, os biodigestores também produzem fertilizante orgânico, que pode beneficiar as famílias em áreas rurais.
Cada biodigestor custa entre US$ 800 e US$ 920, dependendo de seu tamanho, e o governo senegalês subsidia de 35% a 50% do custo, segundo o Ministério de Energia. Ousseynou Ba, chefe de pessoal do Ministério, disse que o PNB está sendo testado na região produtora de amendoim de Kaolack e nas áreas periurbanas da capital, Dakar. Espera-se que cerca de oito mil biodigestores sejam construídos até 2013.
Em Thies, não longe de Dakar, a empresária Aissatou Gning também apelou para o biogás. “Tenho um restaurante. Gastei mais de 500 mil francos CFA (mais de US$ 1 mil) para instalar o digestor, os barris e o sistema de tubos”, contou à IPS. “Tenho dois barris para armazenar, o gás que estou usando há cinco meses, e a agulha mostra que o nível do gás não baixou. Tenho muito esterco de reserva. Devo admitir que o sistema é caro, mas depois de adquirido, já não se tem problemas com energia”, acrescentou.
Em Burkina Faso, que também começou a testar o biogás, Ignace Ouédraogo, chefe do PNB nesse país, disse que o custo de um biodigestor de seis metros cúbicos (dois barris) varia entre US$ 850 e US$ 1.100, dependendo da área de construção e dos materiais empregados. É um pouco mais do que custa no Senegal, mas o governo de Burkina Faso também subsidia os custos iniciais. “O governo destinou um subsídio de 160 mil francos CFA (US$ 340) por biodigestor. Na região das Cascatas (leste), o beneficiário contribui com até 190 mil francos (US$ 404) em dinheiro”, explicou Ouédraogo.
Na Mauritânia, El Hadj Mamadou Ba, presidente da Associação de Autodesenvolvimento, disse que nos últimos três anos seu país conseguiu produzir biogás a custos muito baixos, sem efeitos nocivos para o meio ambiente e para os usuários. “No começo do projeto capacitamos as mulheres nas áreas de Ari Hara e Dioudé Djéri, no Vale do Rio do Senegal (sul da Mauritânia), para administrar as equipes de biogás”, disse à IPS.
Além disso, afirmou que cerca de cem famílias agora cobrem suas necessidades de energia graças aos biodigestores. Segundo Ba, as mulheres treinadas são capazes de instalar outras unidades de biogás, beneficiando mais de 3.500 pessoas e melhorando a higiene nas aldeias. Envolverde/IPS