Nova análise das universidades de Campinas, Viçosa e Boston aponta que erros em modelos da pesquisa anterior levaram a resultados exagerados.
Um novo estudo da Universidade Estadual de Campinas, da Universidade Federal de Viçosa e da Universidade de Boston sugere que os resultados da análise feita pelos cientistas Maosheng Zhao e Steven Running, da Universidade de Montana, que afirma que as plantas crescem menos com o aquecimento global, estão errados.
A pesquisa de Zhao e Running, publicada em agosto de 2010, declarava que a produtividade dos vegetais estava decaindo no mundo todo por causa das secas causadas pelo aquecimento global, e que este declínio já estava ocorrendo há uma década, tendo chegado a 1%.
De acordo com o novo relatório, o documento de Zhao e Running se baseia em modelos com erros, e por isso levou a resultados exagerados na perda de produtividade. “O modelo deles foi ajustado para prever uma produtividade menor mesmo para pequenos aumentos na temperatura. Não surpreendentemente, os seus resultados foram predeterminados”, disse Arindam Samanta, principal autor do novo estudo.
A nova pesquisa mostra que, na verdade, houve um aumento na produtividade durante as secas e um decréscimo dessa produtividade nos anos de 2006 e 2007, em que não houve seca na Amazônia, contradizendo as descobertas do relatório anterior. “Tal comportamento errático é típico do modelo mal formulado deles, que carece de dinâmica da umidade explícita do solo”, explicou Edson Nunes, coautor e pesquisador da Universidade Federal de Viçosa.
A análise deste ano indica que Zhao e Running usaram dados do satélite Modis da Nasa que estavam afetados por nuvens e aerossóis. “Analisando os mesmos produtos de dados de satélite após filtrar cuidadosamente os dados corruptivos de nuvens e aerossóis, não conseguimos reproduzir os padrões publicados por Zhao e Running”, esclareceu Liang Xu, coautor e estudante de graduação da Universidade de Boston.
Além disso, o relatório de 2011 revela que as perdas de produtividade do modelo dos autores são irrelevantes, chegando a 0,1% entre 2000 e 2009. “Esta é a proverbial agulha no palheiro. Não há nenhum modelo preciso o suficiente para prever tais mudanças em intervalos de tempo tão pequenos, mesmo em escalas hemisféricas”, analisou Simone Vieira, coautora e pesquisadora da Universidade Estadual de Campinas.
Segundo os cientistas da análise de 2011, o que causou essa diferença é que as conclusões de Zhao e Running estão fundamentadas em mudanças simuladas na produtividade das florestas tropicais, mas são incompatíveis com as medições feitas com o material coletado das florestas.
“O grande (28%) desacordo entre as previsões do modelo e a verdade imbui pouquíssima confiança nos resultados de Zhao e Running”, lamentou Marcos Costa, coautor do novo relatório, professor de Engenharia de Agrícola da Universidade Federal de Viçosa e coordenador de pesquisa em mudanças globais do Ministério da Ciência e Tecnologia.
Os autores do novo documento ressaltaram que, para captar as tendências de crescimento das plantas, são necessários dados climáticos e de satélite precisos, além de um modelo adequado para essa proposta. “O estudo de Zhao e Running não chega nem perto. A análise deles dos dados de satélite é falha porque eles incluíram dados de baixa qualidade e não se importaram em testar as tendências para significância estatística”, opinou Ranga Myneni, autor e professor de geografia da Universidade de Boston.
Mas Andy Pitman, codiretor do Centro de Pesquisas de Mudanças Climáticas da Universidade de Nova Gales do Sul, declarou que tais discordâncias são normais na ciência. “Os envolvidos nessa troca de opiniões são todos cientistas respeitados e excelentes. O que está causando problema é o método científico. Zhao e Running publicam um relatório. Uns o atacam. Outros o defendem. Apenas o tempo determina quem está certo. Ciência perfeitamente legítima”.
“Isso não significa que não possa haver uma recusa, ou que os resultados de Zhao e Running estejam errados, e sim enaltece como grandes grupos de pesquisa podem chegar a conclusões diferentes quando usam suposições diferentes”, finalizou Pitman.
* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.