Nairóbi, Quênia, 9/3/2012 – Ruth Muriuki chega sempre ao mercado de Gakoromone, em Meru, Província Oriental do Quênia, conduzindo sua caminhonete repleta de tomates e repolhos que pôde cultivar apesar da escassez de chuvas. Ela se vale de uma estufa que comprou utilizando microcréditos. “Um pacote de dez tomates, que há três meses custava o equivalente a US$ 0,50, agora vale o dobro. Não temos alternativa”, declarou David Njogu, vendedor de verduras neste mercado ao ar livre. Muriuki oferece um repolho grande por US$ 1,50, quando há três meses custava US$ 0,50.
Os preços dos produtos de hortas dispararam nos últimos três meses no Quênia, porque as chuvas esperadas para o período outubro-dezembro do ano passado foram escassas e a produção foi afetada. Agora, vários produtores optam por cultivar em estufas para evitar os efeitos da mudança climática, e contam com apoio financeiro de instituições de microcréditos. Nas estufas, cujas paredes e teto em geral são de vidro ou plástico transparente, a temperatura e a umidade podem ser controladas, o que permite cultivar o ano todo.
Sarah Chebet, das colinas de Nandi, na Província de Rift Valley, descreveu sua experiência de dois anos com este novo sistema como “um sonho feito realidade”. “Comprei minha estufa com um microcrédito da instituição local. Nos dois últimos anos, pude comprar uma máquina de moer, instalei um posto de venda e adquiri duas vacas e 400 quilos de milho, que tento vender quando os preços aumentam”, contou esta mulher de 28 anos e um filho.
Em uma única estufa, coleta, em média, quatro caixas de tomate por semana, que lhe rendem US$ 100. As colinas de Nandi são uma das regiões mais secas do país. “Nosso filho ainda é pequeno, por isso estou investindo no negócio, para poder estabilizar minha renda antes que ele comece a ir à escola”, disse Chebet. Seu marido cuida de outros projetos agrícolas em sua terra de dois hectares.
A companhia Amiran Kenya Ltd. vendeu mais de 2.300 estufas em todo o país nos últimos dois anos, segundo seu encarregado de projetos, Silas Tuewi. “A maioria foi comprada por intermédio de instituições de microcréditos focadas em mulheres, jovens e centros educacionais. Quase a metade das estufas é de propriedade de mulheres”, afirmou. A Amiran é uma das maiores firmas de produtos hortícolas do Quênia, e se especializa na construção de estufas. Alguns produtores apelam para construtores independentes.
“Para atingir a maior quantidade de produtores possível, assinamos um acordo com três instituições bancárias: Fundo Financeiro para Mulheres Quenianas, Banco Igualdade e Banco Cooperativo do Quênia”, explicou Tuewi. Já a Companhia de Seguros CIC oferece cobertura para estufas construídas por profissionais em caso de incêndio, danos causados por ventos fortes ou destruição por algum outro desastre natural.
“Descobri que as estufas e a irrigação são a forma de avançar, porque a agricultura que depende da chuva me fez fracassar muitas e muitas vezes, mais ainda no passado recente. As chuvas já não são confiáveis”, ressaltou Muriuki, de 64 anos e sete filhos. Na região de Meru, as “chuvas sempre chegam dia 15 de março de cada ano. Não havia dúvida disso. Contudo, nos últimos anos, a situação mudou. Não há nenhuma garantia de chover nesse dia, como quando eu era jovem” contou.
Em sua pequena porção de terra, menos de um hectare na aldeia de Karimagachiije, Muriuki produz pelo menos uma tonelada de verduras por semana em sua estufa. Ela vende seus produtos em diferentes mercados na Província Oriental e na Província Central, ganhando o suficiente para pagar a educação das duas filhas mais novas. “É minha primeira oportunidade de pagar as cotas da universidade. Antes de começar esse projeto, meu marido cuidava do pagamento”, afirmou.
No entanto, como Chebet, ela não tinha dinheiro para começar sozinha seu projeto de horta. “Há três anos fui ao Fundo Financeiro para Mulheres Quenianas e pedi emprestado o equivalente a US$ 3.750”, contou Muriuki. O Fundo é dedicado especialmente a conceder créditos às mulheres quenianas. Os empréstimos se estendem principalmente a grupos de ajuda mútua, onde cada membro é garantia do outro. Até agora, essas instituições apoiaram cerca de 500 mil mulheres de baixa renda para levarem adiante diversos empreendimentos de pequena escala, nem todos relacionados com a agricultura.
“Em minha estufa utilizo um sistema de irrigação por gotejamento em que a água é liberada através de canos estrategicamente enterrados no solo, com uma abertura ao pé de cada planta. Isto maximiza o uso da pouca água disponível, pois evita desperdício e vazamento”, explicou Muriuki. O custo médio da construção de uma estufa no Quênia varia de US$ 1.250 a US$ 3.125, dependendo de onde comprar os materiais, sua qualidade e o tamanho da estrutura. “Nunca, em toda minha vida, consegui juntar dinheiro necessário para um projeto assim. Mas, graças às instituições de microcréditos, que se centram nos interesses das mulheres, me converti em uma empresária independente em minha velhice”, comemorou Muriuki. Envolverde/IPS