O Brasil tem avançado na pesquisa tecnológica para obter etanol a partir da celulose do bagaço de cana (etanol celulósico), mas faltam investimentos empresariais que viabilizem economicamente a produção. É o que mostra um estudo da Escola de Engenharia de Lorena (EEL) da USP. O trabalho do engenheiro bioquímico Marcelo Brant Wurthmann Saad aponta que a produção em caráter experimental só deverá começar dentro de dois anos. A pesquisa ganhou no último mês de março o Prêmio Petrobras de Tecnologia, na categoria “Tecnologia de Energia”.
Saad reuniu informações sobre a produção de etanol de segunda geração — ou etanol celulósico, devido a hidrólise da celulose — e realizou uma avaliação técnica e econômica sobre a viabilidade do processo. “O processo global inclui tratamento, hidrólise e fermentação”, aponta o professor Adilson Roberto Gonçalves, da EEL, que orientou o trabalho. “A avaliação econômica se concentrou principalmente nas duas primeiras etapas.”
Na primeira etapa, a biomassa vegetal (na pesquisa, a matéria-prima adotada é o bagaço de cana) sofre uma ruptura da estrutura macromolecular, o que facilita o acesso a celulose. “As análises indicam que a opção mais viável é a utilização de um reator de grande escala, em formato tubular e de fluxo contínuo”, conta o professor. “Assim, seriam atendidas as necessidades de uma produção industrial, com menores custos de investimento.”
Na hidrólise, acontece a quebra das moléculas de celulose em glicose, que em contato com as leveduras da fermentação, transforma-se em etanol. “A hidrólise pode ser feita de forma não convencional, com ácidos, ou de maneira enzimática, por meio de um processo biotecnológico”, diz Gonçalves. “O processo enzimático é o mais recomendável, pois além do custo possivelmente menor, possui mais sustentabilidade ambiental”.
Custo
As análises econômicas feitas na pesquisa mostram que o valor estimado de produção do etanol de segunda geração hoje ficaria em R$ 5,80 por litro — mais que o dobro do custo atual. “Deve-se levar em conta que se trata de uma avaliação inicial de um sistema que ainda não foi implantado e otimizado”, ressalta o professor.
De acordo com Gonçalves, há um grande investimento na pesquisa acadêmica, com diversos projetos em andamento. “O que falta é investimento empresarial para a produção sair do papel”, observa. Projetos experimentais de produção de etanol celulósico já são realizados na Europa, Estados Unidos e Canadá — país em que se implantou uma empresa especializada. “No Brasil, as perspectivas são de que a produção experimental comece dentro de dois anos.”
O estudos terão continuidade com a análise econômica da etapa da fermentação, para completar o ciclo de produção. “Também serão utilizados mais dados estatísticos e novas ferramentas de estudo, para aprimorar a avaliação em termos econômicos, já que a produção ainda é mais analisada em termos científicos e técnicos”, conclui o professor da EEL.
A pesquisa é descrita na dissertação de mestrado do engenheiro Bioquímico Marcelo Brant Wurthmann Saad, apresentada no ano passado, sob orientação do professor Adilson Gonçalves. O trabalho ganhou o Prêmio Petrobras de Teconologia, na categoria “Tecnologia de Energia”. A entrega da premiação acontecerá em data a ser definida pela Petrobras.
*Publicado originalmente na Agência USP.