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Etiópia e Ruanda dão exemplo em mortalidade materna e infantil

Bosena, de 25 anos, com um bebê em seus braços ao lado de uma movimentada estrada em Adis Abeba. A Etiópia conseguiu avanços importantes na redução da mortalidade infantil e materna. Foto: Jacey Fortin/IPS
Bosena, de 25 anos, com um bebê em seus braços ao lado de uma movimentada estrada em Adis Abeba. A Etiópia conseguiu avanços importantes na redução da mortalidade infantil e materna. Foto: Jacey Fortin/IPS

 

Johannesburgo, África do Sul, 3/7/2014 – A cada ano morrem três milhões de recém-nascidos e 6,6 milhões de meninos e meninas menores de cinco anos no mundo, mas Ruanda e Etiópia, dois dos países menos avançados (PMA) da África, são um exemplo na redução da mortalidade de mães e filhos.

No Fórum de Associados 2014, que terminou ontem em Johannesburgo, organizado pela Aliança para a Saúde da Mãe, do Recém-Nascido e da Criança (ASMRN) e o governo da África do Sul, foram anunciados compromissos importantes relacionados com as finanças, a prestação de serviços e políticas dos Estados para erradicar a elevada mortalidade.

No total, os representantes de governos e do setor privado representados no Fórum, que começou no dia 30 de junho, anunciaram 40 compromissos para acabar com a mortalidade infantil e materna. Apesar de progressos notáveis na redução das duas taxas em todo o mundo, nas últimas décadas a queda na mortalidade de recém-nascidos ficou paralisada.

Porém, Ruanda e Etiópia estão entre os dez países que reduziram sua mortalidade infantil e materna, segundo um novo plano de ação global apresentado no Fórum. O Plano de Ação para Todo Recém-Nascido (Enap) proporciona a estratégia necessária para reduzir os 2,6 milhões de natimortos e 2,9 milhões de mortes de recém-nascidos que ocorrem todos os anos e que poderiam ser evitadas.

Ruanda e Etiópia investiram em intervenções sanitárias de alto impacto, incluídas a imunização, o planejamento familiar, a educação e a boa governança. Tedros Adhanom Ghebreyesus, ministro das Relações Exteriores da Etiópia, informou à IPS que os investimentos em vários setores, e não exclusivamente na saúde pública, ajudarão a reduzir o número de mortes de mães e filhos.

“Se não investirmos em agricultura, água e saneamento, bem como no setor da saúde, então todo progresso que conseguimos na redução da mortalidade infantil e materna terá sido inútil”, afirmou. “Os trabalhadores comunitários da saúde ajudaram a reduzir as taxas de mortalidade na Etiópia”, destacou o ministro.

Segundo o Enap, as mortes neonatais constituem 44% das mortes de menores de cinco anos que acontecem no mundo, e o investimento em atenção médica de qualidade ao nascer poderia salvar a vida de três milhões de mulheres e crianças a cada ano. “Agora é o momento de focar na ação e na execução, para garantirmos que mais vidas sejam salvas”, disse Graça Machel, copresidente da ASMRN. “Alguns países progrediram e outros não. Temos que aprender com eles, para manter o impulso”, acrescentou.

Junto com o Enap, foi iniciada a contagem regressiva para 2015 do informe Cumprindo a Agenda de Saúde para Mulheres e Crianças, que inclui 75 países, serve como um boletim de qualificações dos êxitos obtidos em matéria de saúde materna e infantil, e revela que persistem iniquidades importantes.

“O tema da contagem regressiva é a pendência que temos”, apontou Machel. “Muitas mulheres e crianças estão morrendo quando existe um tratamento simples” que poderia salvá-las, destacou. Mais de 71% das mortes de recém-nascidos poderiam ser evitadas sem a necessidade de cuidados intensivos. No geral, esta é a consequência de três fatores: precocidade, complicações no parto e infecções graves.

Mariame Sylla, especialista em saúde do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), ressaltou à IPS que os países devem aprender uns com os outros. “As estratégias comunitárias, nas quais os governos levam os serviços sanitários às pessoas e estas aos serviços, demonstraram sua eficácia”, afirmou, acrescentando que “o acompanhamento dos resultados também é muito importante para garantir a prestação de contas no setor da saúde”.

“Contar com parteiras profissionais também ajudaria as mães de primeira viagem a compreender melhor a maternidade e a reduzir as taxas de mortalidade de mulheres e crianças”, assegurou o ministro da Saúde da África do Sul, Aaron Motsoaledi. Porém, para o chanceler da Etiópia, “esses esforços são simples mas podem ser difíceis de cumprir”.

“Os países menos adiantados, como a Etiópia, alcançaram progressos na redução da mortalidade infantil e materna por sua vontade política”, destacou Janet Kayita, especialista em saúde do Unicef. Mas “a chave do sucesso da Etiópia não tem a ver apenas com a liderança de tomar a decisão de reduzir as taxas de mortalidade infantil e materna, mas também com sua organização em nível comunitário”, enfatizou.

Segundo Kayita, “a Etiópia é um dos poucos PMA que institucionalizou a melhora da qualidade no setor da saúde, utilizando o mecanismo de recompensa dos serviços de boa qualidade e responsabilizando aqueles com menor rendimento”. Envolverde/IPS

Números exemplares*

Etiópia

• Redução de 47% na mortalidade de menores de cinco anos entre 2000 e 2011, passando de 166 para 88 em cada mil nascidos vivos.

• Embora a Etiópia continue tendo uma das taxas de mortalidade mais altas da África, esta baixou 22%, de 871 em 2000 para 676 em 2011, para cada cem mil nascidos vivos.

• A atenção primária de extensão na comunidade para mulheres e crianças aumentou através de 40 mil trabalhadores da saúde.

• A escolaridade atingiu quase a igualdade no biênio 2008-2009, com 90,7% para as mulheres e 96,7% para os homens, contra 20,4% e 31,7%, respectivamente, em 1994-1995.

Ruanda

• Redução de 50% da mortalidade de menores de cinco anos entre 1992 e 2010, de 151 para 76 em cada mil nascidos vivos.

• Redução de 22% da mortalidade materna, de 611 para 476 em cada cem mil nascidos vivos, entre 1992 e 2010, e de 55% entre 2000 e 2010, de 1.071 para 476 a cada cem mil nascidos vivos.

• Aumento da cobertura de parto com pessoal qualificado, de 31% em 2000 para 69% em 2010.

• Em 2013, as mulheres constituíam 64% do total de legisladores, a maior porcentagem no mundo.

* Com base em dados nacionais e internacionais oficiais.