Uma onda de insegurança econômica misturada com a falta de compradores fez com que os preços do carbono no esquema europeu de comércio de emissões caíssem cerca de 30% nos últimos dias.
A crise econômica na Grécia e em outros países europeus deve reduzir os níveis de emissão de gases do efeito estufa e conseqüentemente não há demanda por créditos de carbono em um mercado que já sofre com um mundo de incertezas, excesso de créditos disponíveis e previstos, além da tradicional lentidão em época de férias de verão na Europa.
Na sexta-feira (24) as permissões de emissão (EUAs, em inglês) para dezembro de 2011 (dez11) registraram uma queda de 22% em relação à semana anterior, com € 12,26/t.
As Reduções Certificadas de Emissão (RCEs), do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), caíram 11% fechando a semana passada em € 10,28. Muitos traders relatam a venda de grandes volumes de créditos por especuladores e bancos.
Na segunda (27) pela manhã, as RCEs para dez11 chegaram a custar menos de € 10/t, a primeira vez que atingem tal valor desde 2009. As EUAs registraram uma baixa de 27 meses na manhã de segunda-feira, com € 11,7/t.
Já no final do dia, os preços se recuperaram um pouco, com as EUAs subindo para € 13,02.
Esta reação pode ter resultado da compra de créditos a preços baixos por parte das usinas, colocando um freio no papel de espectadoras que elas têm desempenhado nos últimos meses, segundo o consultor da IDEAcarbon Matthew Gray.
Nas três semanas anteriores à retração, as EUAs dez11 estavam sendo negociadas entre € 16,5 e € 17,5.
“Para o restante do ano, será difícil que os preços voltem aos níveis vistos antes desta queda”, comentaram analistas da Barclays Capital, que até o início do trimestre estavam otimistas que as usinas de energia começariam a dar cobertura para as vendas pós 2013, finalmente tirando o excesso de permissões do mercado, inflando a demanda por créditos e os preços. A partir de 2013, as usinas terão que comprar a grande maioria das permissões de emissão, não mais recebendo gratuitamente.
Para decepção dos traders, os volumes negociados não explodiram, pelo contrário, apresentaram queda de 15% em relação ao ano anterior nas primeiras dez semanas do segundo trimestre. As atividades de hedging das usinas não devem começar antes de 2012, espera a BarCap.
O Deutsche Bank anunciou que está reduzindo as suas estimativas de preço para as EUAs dez11 e dez12 entre 14% e 19%, citando “problemas estruturais profundos e intensificação da retração fiscal” no sul da Europa, segundo a Point Carbon.
Fortalecimento
Uma das saídas para tornar o EU ETS efetivo na redução das emissões de GEEs seria aumentar a meta da União Européia, diminuindo o limite de emissões das instalações. Porém, a Polônia, que está para assumir a presidência do bloco pelos próximos seis meses, já manifestou que será contrária ao incremento da redução das emissões dos atuais 20% para 25% até 2020, como querem alguns Estados membros e como sugere o Roteiro 2050 para uma economia de baixo carbono, aprovado pela Comissão Européia (Saiba mais).
Mas os planos de aumento da meta de GEEs da UE devem apenas ser colocados na geladeira, pois em janeiro de 2012 a presidência rotativa da UE passa para a Dinamarca, que defende uma meta de corte de 30% das emissões até 2020.
O comitê de mudanças climáticas da União Européia avançou no sentido de implantar uma Diretiva para Eficiência Energética (Saiba mais), que agrega medidas para melhorar os esforços de uso mais eficiente da energia em todos os níveis da cadeia de produção. O comitê aprovou a proposta na semana passada, sendo o primeiro passo para que a diretiva se torne lei.
Incentivos para o uso de tecnologias que possibilitam a cogeração de energia e a redução do uso de energia no setor público estão entre as medidas da diretiva, que deve ter impacto mínimo sobre o mercado de carbono nos próximos anos.
Segundo a comissária para ação climática da União Européia, Connie Hedegaard, a proposta possibilita que o bloco alcance a redução de 25% nas emissões de GEEs até 2020.
Califórnia
Uma notícia boa para os mercados de carbono, veio da Califórnia no domingo (26), onde um tribunal de primeira instância decidiu que o estado pode continuar a implementar o sistema de ‘cap and trade’, tornando mais provável que este mercado entre em operação no início do 2012.
Esta não foi uma decisão sobre o atual processo que corre na justiça californiana sobre a legitimidade do esquema, mas sim uma permissão para que o estado siga em frente com a regulamentação do mercado enquanto o tribunal decide se o ‘cap and trade’ pode entrar em vigor.
* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.