Arquivo

Exploração petroleira no Ártico causará “danos irreparáveis”

O Noble Discoverer no Porto de Seattle, antes de viajar para o Alaska para a temporada de explorações petrolíferas. Foto: James Brooks/CC by 2.0

Washington, Estados Unidos, 28/8/2012 – Para meados de setembro a companhia anglo-holandesa Royal Dutch Shell espera iniciar perfurações de exploração no Oceano Ártico, diante da costa norte do Alasca, com a permissão do governo dos Estados Unidos, se superar os obstáculos logísticos que se apresentam até agora. Porém, um importante grupo ambiental alerta que as operações provocarão “danos irreparáveis” na região.

O Conselho para a Defesa dos Recursos Naturais (NRDC) divulgou, no dia 20, um informe exortando Washington a proibir as perfurações, dizendo que a Shell é incapaz de impedir e de limpar eventuais vazamentos de petróleo. No entanto, grupos de pressão que apoiam a empresa e membros do opositor Partido Republicano defendem o projeto de exploração, afirmando que o petróleo do Ártico daria aos Estados Unidos recursos energéticos mais baratos durante mais de uma década.

A Shell admitiu que não pode efetivamente limpar eventuais vazamentos de petróleo, e seu barco de resposta para emergências, o Arctic Challenger, não está em condições de resistir a uma tempestade na área. O chefe de campanhas no Ártico da organização Greenpeace, Jackie Dragon, criticou duramente a iniciativa da companhia. “A Shell não pode manter sob controle sua equipe de perfuração em um porto protegido. O que acontecerá quando enfrentar ondas de 20 pés de altura e gelo enquanto perfura o Ártico?”, perguntou.

“A empresa admitiu que a equipe de perfuração não poderia cumprir os padrões exigidos para evitar a contaminação do ar no Ártico” e “quebrou promessas sobre seu plano de resposta diante de vazamentos de petróleo e sobre sua preparação quanto a tempestades” advertiu Dragon. “Não se pode confiar na Shell, e o presidente (norte-americano Barack Obama) não deveria deixar que vá em frente com seu programa de perfuração no Ártico”, enfatizou. Por outro lado, a empresa quer aproveitar o tempo que resta neste verão boreal para perfurar. Se começar agora, deve parar em outubro, o mais tardar, antes da chegada do gelo marinho. Porém, a administração Obama e a Shell continuam em negociações pela autorização das perfurações.

Grupos ambientalistas esperam que, depois do desastre da British Petroleum em 2010 no Golfo do México, e da inspeção que constatou que o Arctic Challenger carece de determinadas medidas de segurança, Washington não autorize a empresa a operar. O informe do NRDC apontou oito razões principais pelas quais a Shell não deve perfurar no Ártico. Primeiro: a indústria petroleira tem um deplorável histórico de vazamentos que nunca limpou efetivamente. A catástrofe de 2010 no Golfo do México é uma viva recordação de quanto um vazamento pode ser grave e de quanto seus efeitos podem durar.

Lawrence Neil, porta-voz do NRDC, disse à IPS que os vazamentos são algo praticamente garantindo na indústria do petróleo. Além disso, “não há forma comprovada de manter uma equipe de perfuração no instável gelo do inverno no Ártico”. Portanto, operar nessa área supõe riscos ainda maiores do que os habituais. Por outro lado, o ruído gerado pela perfuração afetará especialmente os mamíferos marinhos e os oleodutos podem danificar áreas silvestres extraordinárias e habitat fundamental para a fauna e flora, argumentou o porta-voz.

A falta de uma rápida resposta e infraestrutura na região também é causa de preocupação para os grupos ambientalistas, bem como o fato de um vazamento de petróleo ou a simples incursão na área poderem causar a migração dos animais. Entre as espécies que seriam ameaçadas pelas perfurações estão as baleias, os ursos polares e diversos tipos de aves, todas dependentes do ecossistema gelado para sobreviver. E, no caso de a Shell encontrar petróleo, outras empresas se dirigirão para a área.

O informe assinala ainda muitos outros impactos negativos, como o aumento dos gases de efeito estufa, responsáveis pelo aquecimento global. De todo modo, alguns acreditam que tudo isto vale a pena. Se for encontrado petróleo na tundra, a dependência norte-americana do petróleo importado diminuirá drasticamente. Os republicanos dizem que uma descoberta de petróleo na região criaria milhares de empregos e daria impulso à economia. Grupos de pressão e políticos insistem em prorrogar o prazo para a perfuração. À frente desta campanha está a senadora Lisa Murkowski, do Alasca, integrante do Comitê de Recursos Naturais e Energia.

Lawrence e outros ambientalistas alertam que os riscos são muito grandes. Para Lawrence, é simples. “Sem dúvida, há formas mais diretas de reduzir a dependência do petróleo estrangeiro do que perfurando nosso oceano primitivo”, afirmou. “A perfuração no Ártico exige um grande investimento, inclusive de recursos federais, para regular, supervisionar e fornecer serviços de emergência”, e estes investimentos poderiam ser usados “em outras fontes de energia que não contribuem para a catastrófica mudança climática”, ressaltou. Envolverde/IPS