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Falcões dos Estados Unidos sobrevoam Genebra

O representante do Arizona, Trent Franks, é um dos legisladores que pede mais sanções contra o Irã. Foto: Gage Skidmore/cc by 3.0
O representante do Arizona, Trent Franks, é um dos legisladores que pede mais sanções contra o Irã. Foto: Gage Skidmore/cc by 3.0

Washington, Estados Unidos, 22/10/2013 – O bom resultado das últimas conversações com o Irã, em Genebra, representou um revés para os políticos de linha dura nos Estados Unidos, que se opõem à distensão, mas ainda estão longe de se render. Os falcões (ala mais belicista de Washington) agora pressionam duro o Congresso, onde têm grande influência, para que aprove uma nova série de sanções antes da próxima rodada de conversações entre Teerã e o P5+1 (China, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Rússia mais Alemanha), nos dias 7 e 8 de novembro em Genebra, na Suíça.

O resultado dependerá em grande parte de quanto o presidente Barack Obama pressionar os legisladores cépticos de seu Partido Democrata, especialmente os mais próximos ao lobby israelense, para que adiem esta votação, pelo menos até que o diálogo esteja concluído. Também será determinante a capacidade de persuasão da negociadora-chefe norte-americana, a subsecretária de Estado para Assuntos Políticos, Wendy Sherman, quando informar aos congressistas sobre os resultados das conversações da semana passada.

Em um fato incomum, Sherman se reuniu em Genebra por uma hora com o vice-chanceler iraniano, Abbas Araqchi. Diplomatas que participaram das conversações mantêm um especial silêncio sobre a proposta apresentada pelo chanceler do Irã, Mohammad Javad Zarif, um sinal de que as potências do P5+1 a estariam considerando seriamente. O informe de Sherman aos congressistas norte-americanos será a portas fechadas.

Antes das conversações da semana passada, os falcões, que invariavelmente defendem as causas do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, já pressionavam o Senado a ratificar rapidamente as novas sanções contra Teerã, aprovadas em julho pela Câmara de Representantes por 400 votos a favor e 20 contra. Os representantes aprovaram as sanções pouco depois que o moderado Hassan Rouhani venceu as eleições presidenciais iranianas. As novas medidas incluem um embargo às exportações petroleiras iranianas, castigando todos os governos ou companhias que as comprarem.

Também seriam congeladas as contas do Irã no exterior e se puniria qualquer empresa que negociasse com as indústrias marítima e automobilística desse país. Entre os autores do projeto se destaca a Fundação para a Defesa das Democracias (FDD), financiada por milionários empresários norte-americanos próximos ao partido Likud, de Netanyahu, como o magnata dos cassinos Sheldon Adelson, o investidor de fundos abutres Paul Singer, e o fundador da rede varejista de equipamentos domésticos Home Depot, Bernard Marcus.

Esses empresários não escondem sua intenção de criar a “beligerância econômica” contra Teerã, segundo disse o próprio diretor-executivo da Fundação, Mark Dubowitz. O objetivo é forçar o Irã a cancelar seu plano nuclear, incluindo o enriquecimento de urânio dentro de seu território, ou se arriscar a uma “mudança de regime”, ao qual se chegaria mediante o colapso total de sua economia.

No momento em que os representantes do P5+1 conseguiam progressos com Zarif em Genebra, falcões do opositor Partido Republicano redobravam em Washington sua campanha por novas sanções. O senador pela Flórida (e possível aspirante republicano à Presidência), Marco Rubio, apresentou um projeto, não só apoiando os novos castigos ao Irã, como também exigindo que Obama não alivie nenhum dos já existentes, até que se comprove que Teerã desmantelou completamente seu programa atômico.

Ao mesmo tempo, o senador Mark Kirk, um dos principais beneficiários do dinheiro de campanha canalizado pelo Comitê de Assuntos Públicos Estados Unidos-Israel (Aipac), exortou o primeiro-ministro da Grã-Bretanha, David Cameron, a rechaçar qualquer acordo que conceda ao Irã o direito de enriquecer urânio, ainda que em níveis muito baixos. Kirk afirmou que um acordo assim seria comparável com a “política de apaziguamento” promovida pelo ex-primeiro-ministro britânico Neville Chamberlain (1937-1940) com a Alemanha de Adolf Hitler antes que fosse desencadeada a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Alguns falcões republicanos vão mais longe. O representante do Estado do Arizona, Trent Franks, apresentou uma proposta para autorizar o uso da força contra o Irã, argumentando que dessa forma “se fortaleceria a mão do presidente Obama” nas conversações. Entretanto, para a maioria dos especialistas, essas iniciativas parecem destinadas a prejudicar as conversações, mais do que serem efetivamente postas em prática.

A imposição de mais sanções e o barulho de baionetas, com projetos sobre uso da força militar, representariam uma bofetada no governo iraniano, que acaba de apresentar uma proposta construtiva”, escreveu Paul Pillar, veterano aposentado da Agência Central de Inteligência (CIA) e destacado analista sobre Oriente Médio, no seu blog Nationalinterest.com. Segundo Pillar, essas ações “alimentariam as já compreensíveis suspeitas iranianas de que aos Estados Unidos somente interessa uma mudança de regime e não um acordo, e dessa maneira Teerã perderia a motivação para fazer mais concessões”.

Na proposta apresentada por Zarif, o Irã expressaria disposição em fixar limites verificáveis durante um ano em todos os aspectos e em todas as instalações de seu programa atômico, incluindo o enriquecimento de urânio. A iniciativa teria sido séria e completa o suficiente para que, em um fato sem precedentes, Zarif e a alta representante da União Europeia para Assuntos Exteriores e Política de Segurança, Catherine Ashton, em nome do P5+1, divulgassem uma declaração conjunta.

No texto afirmam que as conversações foram “substanciais e com projeção”, e anunciaram que especialistas dos dois lados se reunirão às vésperas da nova rodada de negociações de novembro. Agora os falcões temem que Obama comece a aliviar as sanções em troca de concessões iranianas como parte de um processo para fomentar a confiança entre as partes. Envolverde/IPS

* O blog de Jim Lobe sobre política externa dos Estados Unidos pode ser lido em Lobelog.com.