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Falcões querem ameaça “mais concreta” contra o Irã

Washington, Estados Unidos, 3/2/2012 – O governo do presidente Barack Obama deve tomar medidas para tornar mais concretas as ameaças de ataque dos Estados Unidos, ou de Israel, contra o Irã, segundo o quarto de uma série de estudos publicados por um grupo de trabalho bipartidário dominado pelos falcões (ala mais belicista) de Washington.

Entre outras iniciativas, os Estados Unidos devem aumentar sua força naval no Golfo, ampliar a frequência e a dimensão de seus exercícios militares nessa área e aumentar as possibilidades ofensivas de seus aliados na região para convencer Teerã a deter seu programa nuclear, segundo o informe patrocinado pelo Bipartisan Policy Center (BPC – Centro de Política Bipartidária). Este país também deve oferecer a Israel vários navios-tanque e munições para ampliar seu atual arsenal.

“Não defendemos um ataque militar de Israel, mas acreditamos que uma ameaça mais crível servirá para aumentar a pressão para que Teerã negocie”, comentou o general da Força Aérea, Charles Wald, um dos presidentes da equipe de trabalho, em uma declaração divulgada junto com o informe de 76 páginas, divulgado no dia 1º. Caso estas medidas, combinadas com sanções econômicas mais duras, não tenham sucesso, Washington deverá lançar uma “operação cirúrgica efetiva contra o programa nuclear do Irã”, com ataques aéreos e o envio de unidades de suas Forças Especiais durante algumas semanas, segundo o grupo.

Intitulado “Meeting the Challenge: Stopping the Clock” (Enfrentando o Desafio: Parando o Relógio), o último estudo foi apresentado em um clima de incerteza, quando não de clara confusão, sobre as intenções de Israel e dos Estados Unidos, bem como as do próprio regime iraniano. A resposta retórica de Teerã às duras sanções econômicas e contra sua indústria petroleira, implementadas por Estados Unidos e pela União Europeia, foi desafiadora.

Entretanto, altos funcionários da Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea), com sede em Viena, que terminaram nesta primeira semana de fevereiro uma visita de três dias ao Irã, afirmaram que seus anfitriões se mostraram mais comunicativos do que em outras oportunidades, e responderam suas perguntas sobre as possíveis aplicações militares de seu programa nuclear. Há outra visita prevista para dentro de três semanas.

Paralelamente, algumas autoridades deste país deram sinais contraditórios nos últimos meses, desde reiteradas declarações de que Washington espera reiniciar as negociações dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (China, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha e Rússia), mais a Alemanha, e que um ataque militar seria contraproducente, até fixar limites que o Irã não poderia atravessar sem provocar uma resposta militar.

O Congresso norte-americano, onde tem maior influência o lobby pró-Israel, parece disposto a aprovar novas sanções econômicas, mesmo antes de entrarem em vigor as medidas mais drásticas tomadas até agora: as de excluir empresas estrangeiras com vínculos com o Banco Central do Irã do sistema financeiro dos Estados Unidos.

Quanto a Israel, o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu parece acompanhar os esforços de Washington para conter as tensões que alcançaram um ponto máximo após o assassinato, no mês passado, de um cientista iraniano especializado em questões nucleares, que, se presume, foi cometido pelo Mossad, o serviço secreto israelense. Em certo momento, o próprio Netanyahu sugeriu que a estratégia de sanções estaria tendo o efeito desejado, enquanto o ministro da Defesa de Israel, Ehud Barak, declarou que a possibilidade de um ataque ao Irã estava “longe”.

Entretanto, o BPC claramente se colocou ao lado dos falcões, inclusive repreendendo algumas autoridades israelenses e norte-americanas por mostrarem reservas sobre uma operação militar. “Ao demonstrar essa incerteza, os líderes iranianos deixarão de ter claro que suas ações terão consequências que excedem sua capacidade de resposta”, queixa-se a equipe do estudo.

Além de Wald, esta equipe é presidida pelo ex-senador do Partido Democrata, Charles Robb. O grupo de 13 pessoas está integrado por destacados funcionários aposentados, vários parlamentares dos dois partidos, bem como três neoconservadores do governo de George W. Bush (2001-2009): o ex-subsecretário de Defesa para assuntos políticos, Eric Edelman, o assessor para Meio Oriente do ex-vice-presidente Dick Cheney (2001-2009), John Hannah, e o ex-secretário adjunto de Estado para o controle de armas e não proliferação, Stephen Rademaker.

Como em informes anteriores sobre o Irã, o grupo esteve dirigido por Michael Mokovsky, que foi consultor do controvertido órgão do Pentágono criado em 2002 para encontrar provas dos vínculos entre Al Qaeda e Saddam Hussein (1937-2006) e justificar a invasão do Iraque no ano seguinte.

“Evitar que o Irã obtenha capacidade nuclear é o desafio mais urgente em matéria de segurança nacional enfrentado pelos Estados Unidos”, reitera o informe desde o começo de seu texto. Além disso, alega que a República Islâmica não será tão fácil de “dissuadir” ou “conter” se tiver a bomba atômica, como ocorre com outras potências nucleares, incluída a própria Coreia do Norte. Afirma, também, que o Irã pode produzir suficiente urânio enriquecido para ter uma arma nuclear no prazo de dois a seis meses, “se quiser”.

O informe propõe um acordo negociado como o principal objetivo para melhorar a credibilidade dos Estados Unidos e das ameaças de Israel contra o Irã, mas Makovsky afirmou à IPS que a equipe se opõe a uma solução que permitisse a Teerã continuar enriquecendo urânio. A maioria dos especialistas deste país considera ser pouco provável que a República Islâmica aceite deixar de enriquecer urânio. Teerã deu a entender que só concordaria em limitar o enriquecimento a 3,5% e a melhorar o regime de inspeções da Aiea. “Nosso informe diz claramente que o Irã deve encerrar seu programa nuclear”, esclareceu Makovsky.

Um ataque israelense contra o Irã “implicaria sérios riscos”. Contudo, Washington “não poderia permanecer neutro diante de um conflito entre Israel e Irã”, segundo o informe. “Se Israel atacar e o Irã adotar duras represálias, Washington terá de responder, e isto significa que poderíamos nos ver envolvidos em um novo conflito sem termos nós mesmos escolhido o momento. Não incentivamos Israel a atacar o Irã, mas os Estados Unidos devem deixar claro que nosso país nunca abandonará Israel”, acrescenta.

O documento sugere objetivos iranianos a serem atacados em caso de conflito bélico, e prevê ajuda humanitária caso necessária. “Os Estados Unidos perderiam apoio internacional para as operações militares contra os iranianos, ou para futuras ações contra outros países, se descuidassem das consequências humanitárias de um ataque”, destaca o estudo.

O informe reconhece que a população norte-americana está cansada de guerras, depois das do Iraque, Afeganistão e da Líbia, ainda mais em tempos de crise econômica. “O regime iraniano não representa a mesma ameaça que o Terceiro Reich, mas tampouco derrotá-lo exige um esforço hercúleo”, conclui o informe. Envolverde/IPS