Assistimos ao aumento da produtividade do trabalho nas áreas das novas tecnologias, só que não há absorção de mão de obra.
Quando avaliamos o papel da internet no redesenho dos novos movimentos sociais e das suas respectivas mobilizações, é fundamental considerar como o capitalismo parasita os nós das redes sociais. Um ponto de partida oportuno é o olhar de Carlo Formenti, professor de Teoria e Técnica dos Novos Meios da Universidade de Salento (na Puglia, Itália), consolidado no livro Felizes e Explorados, Capitalismo Digital e Eclipse do Trabalho (Ed. Egea), ainda sem tradução para o português.
Em suas recentes intervenções, Formenti argumenta que o modelo produtivo formado a partir da livre e espontânea cooperação de comunidades em rede (como no caso do software livre), aparentemente sem uma motivação comercial direta, transforma-se na base do novo capitalismo imaterial.
A gigante Google, por exemplo, mantém em segredo o algoritmo de busca, mas coloca à disposição os seus aplicativos para que os desenvolvedores possam implementar outros programas a partir do conhecimento de pedaços dos códigos. O mesmo ocorre com a Apple, uma empresa que abre os códigos para, estrategicamente, atrair desenvolvedores, que por sua vez trabalham de graça na esperança de entrarem num processo de seleção de talentos.
Existem setores da indústria do entretenimento que já estão em condições de reduzir a zero os custos de marketing ou de desenvolvimento e pesquisa porque são alimentados graciosamente pelos consumidores-produtores da própria rede. Na esfera da comunicação, Youtube, Myspace ou Facebook operam dentro da mesma lógica. Sem contar que, nesses casos, o objetivo é manter o consumidor enclausurado nessas redes o maior tempo possível.
Em sua apresentação no Festival da Inovação da região italiana da Puglia no início deste ano, Formenti enfatizou que aquilo que nos é apresentado como uma democracia econômica é, na verdade, uma gigantesca máquina de exploração, que consegue não só apropriar-se gratuitamente do trabalho de milhões de pessoas, mas que está produzindo uma drástica redução das relações de força dos trabalhadores das esferas da informação e do conhecimento.
Assistimos ao aumento da produtividade do trabalho nas áreas das novas tecnologias, só que não há absorção de mão de obra. A própria Google opera com pouquíssimos trabalhadores fixos em relação à monstruosa produtividade e aos ganhos que realiza. Portanto, a chamada “Nova Economia” e a internet atuam como agentes aceleradores desse motor, porque promovem o trabalho gratuito e a superexploração do trabalhador, vide condições desumanas dos operadores de telemarketing, muito bem analisadas pelo livro Infoproletários: Degradação Real do Trabalho Virtual, organizado por Ricardo Antunes e Ruy Braga (Boitempo, 2009).
Que os “infoproletários” do mundo unam-se enquanto é tempo, principalmente diante dessa nova configuração do capitalismo digital. Tanto melhor que o chamamento para a sublevação venha por meio de uma rede social.
* Publicado originalmente no site Brasil de Fato.