“A educação sexista define que as mulheres são boas para determinadas atividades, e não são boas para outras”. A afirmação é da pesquisadora da ONG Ação Educativa e coordenadora do estudo “Gênero e Educação no Brasil”, Denise Carreira, durante audiência pública sobre preconceitos e discriminações na educação brasileira, realizada no dia 4 de maio, na Câmara dos Deputados, segundo informações do Portal R7.
Na ocasião, foi apresentada versão parcial do estudo desenvolvido pela Ação Educativa, que mapeou o papel da mulher na educação do país. Segundo a pesquisa, 97% dos educadores infantis são mulheres. O estudo aponta que ainda predomina a ideia de que profissões como professoras e assistentes sociais são mais adequadas às mulheres por vocação.
Para Denise, o fato de o mercado de trabalho ser menos favorável a elas — que, por exemplo, recebem salários menores — está ligado com a citada vocação, estimulada desde a escola. A coordenadora do Laboratório Interdisciplinar de Estudos de Gênero (Lieg) da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Lídia Possas, concorda. “Quando os estereótipos são mantidos na escola, os alunos absorvem e passam a reproduzir no cotidiano”, analisou.
Para a professora e pesquisadora do assunto há 20 anos, Tânia Brabo, muitos ainda “acham que há profissões que são de homens e, portanto, mulheres não podem escolhê-las”.
“Dentro da sala de aula, os professores falam de cores e brinquedos de meninos e meninas, separam as crianças em filas por gênero, bem como em atividades diferenciadas. Na aula de educação física, fica evidente a separação” exemplificou Tânia.
De acordo com ela, a história ensinada nas escolas não evidencia como as mulheres contribuíram para os progressos das sociedades. “Passamos a não ter direitos, porque todo o modelo não contemplou a mulher como deveria. Se a professora não tem consciência dessa invisibilidade, vai tratar a situação como natural, não possibilitando a discussão. A prática pedagógica precisa mudar nesse quesito de gêneros”, concluiu.
* Publicado originalmente no portal Aprendiz.