“A maior traição que se pode cometer com o eleitor é ser eleito para integrar a oposição e migrar para a base governista. Vivemos num momento em que muitos políticos se intimidam diante da maioria e se tornam travestis políticos.”
Com esse desabafo em recente entrevista, o senador Demóstenes Torres expressa sua revolta diante da corrosão pelo qual o seu partido, o DEM, passa. O fenômeno a que se refere não é isolado e assola a maioria dos partidos.
Como disse o expurgado dirigente do PV estadual de São Paulo, Mauricio Brusadin: “Vivemos um período em que o Estado virou um condomínio de partidos, onde o partido no poder faz o papel de síndico”.
E é isto mesmo, não há partido de oposição de verdade. O comportamento geral é “bovino” e patrimonialista.
A única coisa que interessa à maioria dos partidos é assegurar-se das condições necessárias para saírem-se bem nas próximas eleições. Danem-se os compromissos assumidos com a sociedade.
Dane-se o eleitor. Vale até o estelionato eleitoral.
Vota-se na esquerda, e ela serve aos interesses inconfessáveis da direita ruralista, como no caso do Código Florestal. Ignora-se que mais de 80% dos eleitores clamam pela defesa de nossas florestas.
Vota-se pela reforma política, e o que se vê são os condôminos discutindo seus arranjos, deixando intacta a estrutura que perpetua maus políticos e má política. Vota-se em uma nova forma de fazer política, e, assustados com o enorme apoio do eleitorado à candidatura Marina, passa-se à operação desmonte de sua imagem.
Medo, oportunismo, fisiologismo, desfaçatez, cinismo e patrimonialismo parecem ser os adjetivos que descrevem melhor o descompromisso dos partidos com seus eleitores e militantes.
Tenho perguntado às militâncias do PT, do PV, do PSDB, do PPS, do PDT, do PTB e do DEM se se reconhecem em seus dirigentes ou nas propostas defendidas pelos seus partidos para o país.
As respostas…? Pergunte leitor, você mesmo, e confira a desesperança.
O caso que estamos observando nestas semanas é exemplar. Após conquistar 20 milhões de votos e incendiar a juventude com suas propostas inovadoras, Marina Silva e todos os seus apoiadores estão sendo pressionados a sair do PV. A maioria dos dirigentes nacionais preferiu se tornar linha auxiliar dos partidos no poder. Renunciaram à responsabilidade de se tornar protagonistas de uma nova etapa da história política.
Fim do PV para a Marina?
Esperança extraordinária para aqueles que acreditam que a construção da maioridade política brasileira está em curso e não se curva à estreiteza fisiológica que decompõe a maioria dos partidos.
* Ricardo Young é empresário e foi candidato ao Senado pelo PV nas últimas eleições.
** Publicado originalmente no jornal Folha de S.Paulo e retirado do site IHU On-Line.