St. Augustine, Flórida, abril/2011 – Sou contra a utilização da energia nuclear para a produção de eletricidade desde que prestei serviços, entre 1975 e 1980, no Technology Assessment Advisory Council, um conselho de assessoria técnica vinculada ao Congresso dos Estados Unidos. Inclusive antes disso, para mim era evidente que a força nuclear é uma temível tecnologia militar que busca uma “segunda vida” no campo civil.
O plano de Dwight Eisenhower denominado “Átomos para a Paz” era a estratégia para subsidiar esta tecnologia, que nunca foi economicamente viável. Era dito que produziria eletricidade a baixíssimo custo. Mas ao público nunca foi dito tudo que havia para dizer: os riscos para a saúde e ambientais, e que não existiam planos para o armazenamento dos dejetos, que continuam radioativos durante séculos.
Estranhamente, para uma sociedade tão dedicada ao “livre mercado” como os Estados Unidos, a energia nuclear foi a primeira verdadeira indústria socialista, criada pelo governo, à qual foram dados subsídios de milhares de milhões de dólares e indenização por todos os riscos de acidentes graças à infame Lei Price-Anderson, que protege os operadores da energia nuclear diante de qualquer tipo de responsabilidade, e que é endossada aos contribuintes e às gerações futuras. As companhias privadas que operam usinas nucleares podem ter lucro com essa atividade enquanto os riscos são socializados.
Ainda não há solução para o armazenamento seguro e de longo prazo para os dejetos nucleares. Os Estados Unidos possuem 71 mil toneladas métricas desses dejetos localizados em tanques de água ao lado da maioria dos reatores. Este parece ser também o caso do Japão quanto aos reatores de Fukushima. Esses perigosos dejetos serão difíceis de transportar, se é que algum dia se encontrará um lugar seguro para depositá-los. As usinas nucleares devem ser desmanteladas depois de 25/30 anos, embora muitas delas, como as dos inutilizados reatores japoneses, tenham quase 40 anos de uso. Estima-se que o custo do desmantelamento equivale ao da construção das usinas.
O mais importante é que agora existem muitos bons estudos (ver www.ethicalmarkets.com e www.greentransitionscoreboard.com) que demonstram que as usinas nucleares não são necessárias. Um estudo – que calculou em mais de US$ 2 trilhões o total dos investimentos privados desde 2007 em fontes de energia ecológicas e limpas em todo o mundo – mostra que uma combinação dos investimentos em eficiência energética de fonte solar termal, torres de energia e fotovoltaica (paineis de teto e novos telhados), bem com de turbinas de vento e energia hidráulica e geotérmica, faz com que estas tecnologias tenham custo competitivo apesar dos subsídios maciços concedidos à energia nuclear e de combustíveis de origem fóssil.
Não são apenas o vento e o Sol as fontes de energia mais eficientes que também podem ser instaladas e colocadas em funcionamento em alguns meses, muito antes dos dez anos que demora, em média, a construção de uma usina nuclear. Além disso, existe a disponibilidade de energia geotérmica, especialmente no Japão e na Islândia, países que estão na confluência de placas tectônicas.
A acusação fundamental contra a energia nuclear é que a fissão é simplesmente o mais perigoso, estúpido e caro meio de ferver a água! A eletricidade é, habitualmente, gerada por água fervente e seu vapor usado para que as turbinas produzam elétrons. A água pode ser fervida utilizando petróleo, gás, carvão, calor solar, energia eólica ou geotérmica, que são os meios mais simples empregados na maior parte da Era industrial. Construir uma vasta e custosa usina, desenterrar urânio e usar carvão enriquecido e enviá-lo por trem ao reator nuclear é a mais incômoda e sem sentido maneira de ferver água!
A energia nuclear tampouco pode ser de utilidade diante dos problemas da mudança climática devido aos seus custos, apesar de a indústria apregoá-la como “livre de carbono”, o que, claramente, não é certo. E, por fim, como sugere Ervin Laszlo em seu “Pacto com o Diabo” para o Huffington Post e em seu site www.burningissuesforum.com, a expressão “futuro nuclear” não passa de retórica e empregá-la é irresponsabilidade.
Uma vez que todos os custos sociais, ambientais e os riscos para a saúde sejam adequadamente avaliados e sejam cortados os subsídios nucleares, veremos o erro cometido pelos governos que apoiam a energia nuclear. Depois de Chernobyl, Three Miles Island e agora Fukushima, e das centenas de apenas evitados acidentes em centrais nucleares, muitos deles não informados, os economistas já não serão capazes de chamar esses custos de “efeitos externos” (um lapso freudiano) ou de afirmar que o ocorrido foi inesperado. Envolverde/IPS
* A economista norte-americana Hazel Henderson (www.ethicalmarkets.com) é autora de “Ethical Markets: Growing the Green Economy” (2007) e coautora do índice sobre qualidade da vida Calvert-Henderson (www.calvert-henderson.com).