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Florestas autóctones têm quem cuide delas

Budapeste, Hungria, 2/6/2011 – Sete países da Europa oriental assinaram um protocolo para evitar o desaparecimento das florestas virgens da região dos Montes Cárpatos pelo corte ilegal. As florestas antigas têm um valor ecológico único com grandes árvores, outras mortas, mas em pé, e uma incomum biodiversidade que inclui várias espécies ameaçadas e raras. Além disso, seu ecossistema tem inestimáveis benefícios como água potável, ar limpo, retenção de carbono, regeneração de nutrientes e manutenção do solo, entre outros.

Os ministros da República Checa, Hungria, Romênia, Sérvia, Polônia, Eslováquia e Ucrânia assinaram, no dia 27, o Protocolo sobre Gestão Sustentável de Florestas, na Bratislava, com o objetivo de contribuir para a proteção dos recursos dos Montes Cárpatos. As florestas, especialmente a região que se encontra em território romeno, constituem uma das poucas mostras do que foi a vegetação primitiva da Europa.

O Protocolo permitirá que a maior floresta nativa fora da Rússia goze da proteção oficial e de esforços para manter e ampliar a cobertura florestal. O Protocolo sobre Gestão Sustentável de Florestas se integra ao contexto da Convenção sobre a Proteção e o Desenvolvimento Sustentável dos Cárpatos, de 2003, um exemplo de cooperação regional. Estima-se que cerca de 300 mil hectares nativos nos Montes Cárpatos estão na lista de Patrimônio Mundial da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura).

Os Montes Cárpatos do Sul da Romênia constituem a maior área florestal ou fragmentada. Mas apenas 18% dos 250 mil hectares da floresta autóctone estão protegidos, segundo o Fundo Mundial para a Natureza (WWF). Em outros países, como a Eslováquia, a situação piorou a ponto de ter apenas 0,5% da área florestal em condições de ser considerada original. O corte excessivo não afeta apenas a floresta autóctone em si, mas também a biodiversidade e, em especial, as espécies originárias que precisam de seu habitat para sobreviverem.

“O Protocolo da Convenção é um bom sinal, um passo na direção certa e um exemplo para o resto do mundo e da Europa, mas o problema é que se reduz a uma questão de implementação, e nesta região há muitas coisas que ficam apenas no papel”, disse à IPS o diretor do programa Danúbio-Cárpatos, Andreas Beckmann. “Este Protocolo procura se concentrar na execução”, ressaltou. O desmatamento é comum na região, onde vários países procuram resolver o problema com leis e tentando fazer com que sejam cumpridas.

Também faltam dados sobre o corte de pequena escala e empresas processadoras, o que habilitaria o controle de volumes e a origem da madeira. Surpreende como foram conservados os Montes Cárpatos até há pouco, mas nas duas décadas que se seguiram ao regime socialista na região foi descoberto que a área natural estava submetida a uma pressão de desenvolvimento sem precedentes. Além do corte ilegal, o desenvolvimento de infraestrutura como estradas, centros de esqui e outros, avança muitas vezes de forma ilícita e dentro de zonas protegidas oficialmente.

No entanto, nem todas são notícias ruins. A assinatura do Protocolo é um dos últimos mecanismos disponíveis para proteger as florestas da Europa. A União Europeia (UE) aprovou uma nova lei contra o corte ilegal e suas diretrizes ajudarão a controlar a perda dos tesouros florestais. “A norma da UE propõe exigências específicas aos países-membros em termos de implementação e da origem da madeira para o mercado europeu. Países como Ucrânia e Sérvia não têm essa norma, mas serão afetados porque exportam para o mercado europeu”, afirmou.

Exemplos positivos de luta contra o desmatamento na região precederam inclusive a assinatura do Protocolo. A Agência Florestal Romena Romsilva criou uma ferramenta na internet para acompanhar a pegada da madeira, que ajudará a controlar a prática ilegal, uma solução avançada que pode estabelecer um precedente para o resto do mundo. A inclusão da importância da proteção dos recursos florestais na agenda global foi impulsionada pela Organização das Nações Unidas, que declarou 2011 Ano Internacional das Florestas.

A ONU tenta fazer com que as florestas sejam parte de assuntos de desenvolvimento sustentável. Há mais de 1,6 milhão de pessoas que subsistem graças aos seus recursos, das quais 300 milhões vivem deles. O desmatamento, cerca de 130 mil quilômetros quadrados por ano, representa 20% das emissões mundiais de gases-estufa e é responsável pelo desaparecimento de cem espécies diariamente. Envolverde/IPS