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Flotilha navega entre sabotagens e ameaças

Atenas, Grécia, 30/06/2011 – Faltando poucas horas para os dez navios da Segunda Flotilha da Liberdade – Continuamos Sendo Humanos partam rumo à Faixa de Gaza, às ameaças de Israel somaram-se supostas ações de sabotagem. A Flotilha, que tentará romper o bloqueio israelense pelo segundo ano consecutivo, inclui dois cargueiros transportando cinco mil toneladas de ajuda humanitária, especialmente material de saúde, educativo e de construção.

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Da direita para a esquerda: Ann Wright, coronel reformada do exército dos Estados Unidos, Vangelis Pissias e Dror Feiler.
Em águas internacionais já se encontra um dos barcos franceses, o Dignity, que partiu da Córcega no dia 25, à espera de se unir ao restante do comboio humanitário.

Depois que a colisão internacional organizadora da Flotilha realizou, no dia 27, uma entrevista coletiva em Atenas para jornalistas de todo o mundo, a fim de anunciar sua partida hoje ou amanhã, o navio Juliano, do grupo Barcos para Gaza-Suécia, foi alvo de um ato de sabotagem no Porto de Pireu, no sudeste da Grécia, onde estava ancorado. A caixa da hélice ficou destruída e o eixo cortado, mas os danos “são reparáveis” e tudo foi registrado em vídeo por mergulhadores da organização como prova da sabotagem, afirmaram os organizadores.

“Uma coisa é um poder estrangeiro pressionar a Grécia para atrasar nossa viagem, outra muito diferente é agentes inimigos operarem em território grego”, afirmou o porta-voz da Barcos para Gaza-Suécia, Mattias Gardell. “É hora de a comunidade internacional dizer basta”, afirmou o grupo em um comunicado. O Juliano, propriedade da Barcos para Gaza na Suécia, Noruega e Grécia, homenageia com seu nome o israelense Juliano Mer-Khamis, ator e diretor do Teatro da Liberdade, assassinado em 4 de abril na cidade palestina de Jenin, norte da Cisjordânia.

A Faixa de Gaza sofre um bloqueio imposto por Israel desde fevereiro de 2006, depois que o Hamas (Movimento de Resistência Islâmica) venceu as eleições gerais palestinas. Nos anos seguintes, a medida se tornou mais rígida, sobretudo após a ofensiva militar Chumbo Derretido, do final de 2008.

O Movimento Gaza Livre, organizador da Segunda Flotilha, garantiu que as ameaças de Israel não deterão os planos. “Se chegarmos até Gaza, teremos cumprido nosso objetivo, se não chegarmos, outras futuras flotilhas nos seguirão, uma após outra, ano após ano, até o bloqueio acabar e Israel cumprir a legalidade”, disse o músico e ativista sueco-israelense Dror Feiler, em Atenas.

A Grécia está sob pressão de Israel para que impeça a partida dos navios, em um momento de especial vulnerabilidade para este país, devido à crise financeira que enfrenta. “Fazemos um apelo ao governo grego para que não se converta em cúmplice das ações ilegais de Israel sucumbindo às pressões e some-se à França em sua postura de não impedir a saída dos barcos”, disse Vangelis Pissias, coordenador da delegação grega.

“Israel tenta por todos os meios deter nossos navios, com pressões sobre governos, ameaças às seguradoras e companhias de comunicações, com intimidações contra defensores dos direitos humanos e demandas frívolas”, afirmou o Movimento Gaza Livre em um comunicado.

O gabinete de segurança israelense, presidido pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, reafirmou sua decisão de impedir a chegada da Flotilha a Gaza, embora com “o mínimo atrito possível com os passageiros dos barcos”, segundo comunicado divulgado pelo escritório do primeiro-ministro. A rádio pública israelense também informou que o Executivo fez acordo com o Egito para que o material humanitário dos cargueiros possa ser descarregado no porto egípcio de Al Arish para ser levado a Gaza por terra.

Israel afirma ter informações de que no comboio viajam ativistas “dispostos a matar soldados israelenses com substâncias químicas”, quando estes tentarem abordá-los, e que também haverá passageiros da Fundação de Ajuda Humanitária da Turquia (IHH), organizadora da primeira flotilha, e do Hamas, organizações que considera “terroristas”.

Estas declarações foram feitas um dia depois que funcionários e representantes da chancelaria informaram ao gabinete não disporem de dados sobre os militantes ou grupos associados a organizações terroristas planejando integrar a Flotilha. Israel usou argumentos semelhantes antes e depois do ataque de seus comandos ao navio capitânia da primeira flotilha, o Mavi Marmara, no dia 31 de maio de 2010, quando este estava em águas internacionais rumo a Gaza. Na operação militar morreram nove ativistas turcos.

Um representante dos familiares das vítimas do barco, que este ano se retirou da Flotilha “por motivos técnicos”, viajará no navio espanhol Gernika, junto com outras 45 pessoas de todo o território peninsular, entre ativistas, representantes políticos e jornalistas.

“O Gernika levará o espírito de nossos companheiros assassinados. É uma demonstração de solidariedade com os que não podem viajar este ano”, disse à IPS Manuel Tapial, coordenador da Rumo a Gaza. A ministra espanhola para Assuntos Exteriores e de Cooperação, Trinidad Jiménez, pediu a Israel que atue com “prudência” em relação à Segunda Flotilha.

Neste comboio viajarão 50 jornalistas internacionais, incluindo esta repórter, os quais foram ameaçados por Israel, no dia 26, de serem proibidos de entrar em seu território por dez anos, mas logo voltou atrás. Entre os países que participarão estão Alemanha, Austrália, Bélgica, Canadá, Espanha, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Grécia, Holanda, Irlanda, Itália, Noruega, Suécia e Suíça. Um navio com integrantes de várias nações árabes pode juntar-se à frota vinda da Jordânia nos próximos dias.

Cerca de 500 ativistas e personalidades da sociedade civil internacional estão prontas para navegar. Mas existe o medo de as forças israelenses atacarem o comboio usando gás lacrimogêneo, dispositivos lança-água, bombas de ruído e cães amestrados. Envolverde/IPS