Nova Délhi, India, junho/2011 – Apesar da forte retórica sobre como o centro de gravidade da economia mundial e, com ele, a influência política, se moveu das duas margens do Oceano Atlântico para a Ásia, continua havendo uma forte resistência para refletir essa mudança nas instituições internacionais.
O G-20, que é reconhecido como “o primeiro fórum para a cooperação econômica internacional”, acordou em 2009, em Pittsburg, que o Fundo Monetário Internacional aumentaria em pelo menos 5% a cota dos dinâmicos países emergentes. Na cúpula do G-20 de 2010, em Seul, ficou estabelecido que essa porcentagem seria de 6%, e que no futuro haveria um processo de seleção aberto para as nomeações nas instituições financeiras internacionais em lugar de seguir a tradição não escrita de nomear um titular norte-americano no Banco Mundial e um europeu para liderar o FMI. Porém, é claro que será uma francesa, Christiane Lagarde, a sucessora de seu compatriota Dominique Strauss-Khan.
Não é uma surpresa. A sensação de possuir um direito que vem de um prolongado domínio é difícil de abandonar, embora as relações subjacentes de poder possam ter mudado irreversivelmente.
E conta, naturalmente, o jogo dos números. Estados Unidos e Europa somam 45% dos votos no FMI. Embora já houvesse sido instrumentado o aumento de 6% dos votos das economias emergentes, de modo algum um candidato da Ásia conseguiria obter o cobiçado posto com base em uma maioria de votos.
Também está alterada a realidade do Fundo na economia global. Não apenas a participação da Ásia no produto bruto mundial está perto dos 50%, como também está crescendo em ritmo acelerado. A segunda e a terceira economias mundiais são atualmente a China e o Japão. Nas próximas décadas, outra nação asiática, a Índia, poderá emergir como a terceira economia mundial.
Se Índia e China, junto com outras economias emergentes representadas no G-20, por exemplo, Brasil, África do Sul, México e Indonésia, tivessem se unido para insistir na designação de um candidato comum, duvido que Estados Unidos e europeus fossem capazes de oferecer muita resistência. A saúde da economia global, e em particular a do mercado financeiro, dependem da cooperação proveniente das economias emergentes. O posto de diretor-geral do FMI irá para a França, uma vez mais, por falta de um adversário. E as nações emergentes não lançaram um desafio crível e determinado.
Em primeiro lugar, não houve reivindicações fortes dos países emergentes para pressionar em favor de um candidato saído de suas fileiras. A declaração do grupo Bric (Brasil, Rússia, Índia, China) de impulsionar a candidatura de um representante dos países em desenvolvimento foi emitida pelos representantes de seus países no FMI. Esse foi um nível extremamente baixo para expressar um firme compromisso político e seriedade na demanda. O que se exigia era uma declaração comum dos chefes de Estado ou de governo dessas nações.
Em segundo lugar, os países emergentes deveriam ter se consultado rapidamente para acordar um candidato comum com reputação internacional e reconhecida experiência. Mas isso não ocorreu.
Também parece que a França jogou suas cartas para prevenir um consenso do Bric ou dos países emergentes. Sabendo o quanto a China estava interessada na inclusão de sua moeda na cesta de divisas do FMI, Lagarde se apressou a garantir seu apoio a Pequim e dizer que também estaria aberta para apoiar acordos monetários regionais e a “globalização das moedas emergentes”, o que coincide com a agenda chinesa. Não é de estranhar, portanto, que Lagarde tenha obtido o tácito apoio chinês para sua candidatura.
Conduzidas pelos chineses, as economias do Leste asiático estão se movendo deliberada e sistematicamente para a constituição de um Fundo Monetário Asiático (FMA), que estaria sustentado pelas moedas da China, Coreia do Sul e Japão. O FMA será o próximo passo no desenvolvimento da Iniciativa de Multilateralização Chiang Mai (CMIM), que compreende esses três países mais a Associação de Nações do Sudeste Asiático, chamada Asean+3. Há uma recente decisão de unir o original fundo para crise, de US$ 120 bilhões, do CMIM, com o recentemente criado Escritório de Pesquisa Macroeconômica da Asean+3, que, como o FMI, servirá como mecanismo de vigilância e monitoramento para o proposto FMA. Envolverde/IPS
* Shyam Saran, ex-chanceler da Índia, preside o Sistema de Pesquisas e de Informação sobre os Países em Desenvolvimento.