Fotógrafo retrata a construção da maior usina solar térmica do mundo

Jamey Stillings acompanha dos ares este projeto imenso, já planejando uma iniciativa mais ampla na qual mostrará as tensões socioambientais causadas pela construção das usinas de energia renovável.

No meio do deserto do Mojave, na Califórnia, Estados Unidos, está sendo construída a maior usina solar térmica do mundo e o fotógrafo norte-americano Jamey Stillings aproveitou para registrar todas as fases desse projeto de dimensões extraordinárias.

Stillings vem documentando as atividades de construção nos quase 1,5 mil hectares do Sistema Gerador de Energia Solar Ivanpah desde o seu início, em outubro de 2010. Tendo o acesso dificultado devido à burocracia, ele realizou grande parte do seu trabalho com o auxílio de um helicóptero.

“Acredito que o trabalho aéreo pode ter um impacto significativo ao promover o diálogo sobre o uso da terra e dos recursos e a sua relação com o desenvolvimento de grandes projetos de energia renovável”, comentou.

Essa relação despertou um sentimento conflituoso no fotógrafo, que acredita que temos um desafio enorme em frente.

“O que descobri com o passar do tempo é que a questão da construção de energias renováveis é muito mais complicada do que podemos presumir”, comentou Stillings, que se tornou conhecido por acompanhar outros grandes projetos que enfrentam o dilema do desenvolvimento humano às custas da natureza, como a história da “Ponte sobre a Barragem Hoover”.

‘A evolução de Ivanpah Solar’ está servindo de base para uma análise muito maior dos projetos de energia alternativa por parte de Stillings, uma iniciativa batizada de “Mudando Perspectivas sobre o Desenvolvimento das Energias Renováveis”.

“Ampliarei minha pesquisa para olhar novos projetos de energia renovável no oeste dos Estados Unidos. Espero expandir a iniciativa para uma escala global nos próximos anos. Isso dependerá da minha capacidade de conseguir apoio fiscal para o trabalho que está sendo feito”, comentou.

Stillings espera iniciar a cobertura aérea de outros projetos já nos próximos dois meses, mas ainda não tem plano para desenvolver seu trabalho no Brasil.

Ivanpah

A maior usina solar térmica do mundo, cujos investimentos foram feitos pela NRG Solar, Google e BrightSource, visa à geração de 377 megawatts, o suficiente para atender a 140 mil residências na Califórnia durante as horas de pico.

O complexo de US$ 2,2 bilhões, constituído de três usinas separadas, será construído em fases até 2013. Durante o pico de atividades em 2012, 2,1 mil pessoas trabalhavam no local, que está 50% instalado. A previsão é de que 86 empregos sejam mantidos na fase de operação e manutenção.

Ao contrário da tecnologia fotovoltaica, que converte a radiação diretamente em energia, a usina funciona gerando vapor em altas temperaturas para mover uma turbina, como na maioria dos processos tradicionais de geração de energia. Porém, com o diferencial de o combustível ser a energia solar.

Mais 300 mil espelhos controlados eletronicamente acompanharão o sol em três dimensões, refletindo a luz para boilers instalados no topo de três torres. Neles, tubos com água aquecida criam vapor superaquecido, que é direcionado para turbinas tradicionais onde a eletricidade é gerada.

Controvérsias

Um projeto dessa envergadura não teria como escapar de impactos ambientais mesmo sendo em um deserto, um ambiente onde grande parte da população acredita ser praticamente sem vida.

O estudo de impacto ambiental da usina mostra que 22 espécies de plantas classificadas com status especial devem ser afetadas pelo projeto, entre elas a Mojave Milkweed (Asclepias nyctaginifolia), uma planta rasteira com flores brancas e verdes criticamente ameaçada de extinção.

Entre as espécies de animais, a principal é a tartaruga do deserto, classificada como ameaçada em nível federal, além de corujas, águias e morcegos. Os construtores já alocaram US$ 56 milhões para realocação das tartarugas.

Ambientalistas argumentam que existiriam outras opções de local para a construção da usina, como por exemplo, antigas áreas de mineração e agricultura exauridas existentes na região.

* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.