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Fuga de cérebros faz caminho de volta

Bangalore, Índia, 30/4/2011 – Alguns dos mais brilhantes acadêmicos, que foram o rosto da “fuga de cérebros” da Índia em busca de outros horizontes, agora optam por regressar ao país, como forma de agradecer pela educação de primeira que o Estado lhes deu. Os profissionais são ex-alunos do Instituto de Tecnologia da Índia, o principal do país e considerado um dos melhores do mundo, atrás do Instituto de Tecnologia de Massachusetts e da Universidade da Califórnia, em Berkeley, pelo Caderno de Educação do jornal The Times.

Criado para promover o desenvolvimento industrial após a independência, o Instituto começou a funcionar em 1950 em Kharagpur, em Bengala Ocidental. Atualmente, conta com 15 centros em todo o país. Os graduados são considerados profissionais e acadêmicos de elite, muitos deles com carreiras de sucesso. O Instituto é muito subsidiado pelo Estado e seus graduados que partiram receberam muitas críticas por levarem o dinheiro dos contribuintes, principalmente para os Estados Unidos.

“No momento, há mais consciência de que é preciso devolver à sociedade”, disse Collur Dhananjay, ex-aluno e secretário do capítulo de Bangalore da Associação de Ex-Alunos do Instituto de Tecnologia de Kharagpur. Para Dhananjay, “a atual geração vê a verdadeira riqueza e quer doar mais”. Ele arrecada fundos entre ex-alunos para o projeto “Luz para a educação”, que propõe doar lâmpadas solares para que meninos e meninas de povoados rurais possam estudar à noite em suas casas. Harish Hande, que falou no encontro de ex-alunos, foi quem motivou Dhananjay a participar.

“Disse a eles que nossa educação fora subsidiada pelo povo, incluídos os pobres. Agora é hora de desempenharmos o papel que nos correspondia quando nos formamos”, explicou Hande, cujo trabalho para eletrificação no campo valeu a ele e sua companhia, a Selco-India, numerosos prêmios, inclusive o Ashden, conhecido como Oscar Verde. “Não se trata apenas de devolver à sociedade, mas de ser parte dela e contribuir como sócios, não apenas por generosidade”, acrescentou.

Arjun Menda é outro ex-aluno cuja empresa, a RMZ, coleta fundos para educação por intermédio da Fundação Menda, inspirado pelo projeto de Hande. “A fundação igualará todas as doações da Associação de Ex-Alunos para o projeto ‘Luz para a Educação’”, afirmou Menda. As comunidades tribais da Índia são as mais pobres e as mais atrasadas do país, e 50% ainda não possuem eletricidade, segundo estudo de 2010 do Banco Mundial.

Cada estudante recebe uma lâmpada LED alimentada com baterias de bolso, que podem ser recarregadas todos os dias em um painel solar centralizado existente na escola. A bateria fornece três horas de luz, o que permite estudar em casa e, também, economizar US$ 2,25 por mês em querosene e outros produtos, uma soma significativa para as famílias mais pobres. Em outras partes da Índia, os ex-alunos do Instituto de Tecnologia realizam outras iniciativas.

Entretanto, o consenso geral é que não contribuem muito para reduzir a pobreza nem as carências das áreas rurais. “Em todos os anos que tenho no Serviço Administrativo da Índia, nunca veio um ex-aluno perguntar como colaborar com o setor público”, disse Rajeev Chawla, também formado pelo Instituto Tecnológico, com sede em Bangalore. Foi Chawla que conseguiu projetar e implantar o projeto de governança eletrônica “Bhoomi”, que colocou em formato eletrônico os registros de terra em Karnataka entre 2002 e 2003.

Joy Sem, professor-adjunto do Instituto de Tecnologia de Kharagpur, afirmou que a burocracia dentro do sistema de governança é responsável, mas concordou que é preciso mudar a mentalidade em formação para incorporar a relevância do meio ambiente e do desenvolvimento. Chawla responsabiliza a sociedade, mais do que as carências na formação terciária. “Os desejos de poder, prestígio e dinheiro são um mal social que afeta os estudantes”, afirmou. “Somos pessoal técnico e a frente social chegou tarde para nós”, disse outro ex-aluno. Envolverde/IPS