[media-credit name=”©Greenpeace/Vinai Dithajohn” align=”alignright” width=”400″][/media-credit]O acidente de Fukushima teve significativo impacto negativo na opinião publica mundial sobre o uso da energia nuclear. As redes e mídias sociais garantiram a atenção em tempo real da grande mídia e o acidente se manteve na pauta mesmo depois que passou para a fase de gestão de danos. Em muitos países se pensa em submeter a questão a plebiscito.
Essa alta exposição permitiu que a maioria se informasse do acidente pelas mais diferentes mídia: o índice de informação sobre o vazamento nuclear foi de 81%, segundo o Gallup-Global WIN. Embora 60%, na média global, digam que se informaram pela TV e 17% pela Internet, é certo que a mídia social e as redes sociais, principalmente o Twitter e o Facebook, tiveram um papel crucial. Circularam a informação em tempo real globalmente e mantiveram o assunto na pauta da grande imprensa, inclusive e principalmente nas TVs.
Na média global, a reação negativa ao uso da energia nuclear subiu 11 pontos, de 32% para 43%, na comparação das pesquisas antes e depois do acidente de Fukushima. (O Estado de São Paulo tem uma boa matéria, aqui, na versão impressa para assinantes há gráficos mais completos na página A18).
As variações entre países são bastante interessantes e podem ter consequências políticas. No Brasil, por exemplo, a reação negativa subiu cinco pontos, de 49% para 54% colocando o Brasil entre os 15 países que mais rejeitam o uso da energia nuclear. Milton Jung, em nossa conversa hoje na CBN, me disse que há ONGs e movimentos sociais se movimentando para aprovar um plebiscito sobre energia nuclear no Brasil. Essa maioria contra provavelmente levará o governo, que é favorável, a se opor virogosamente a que ele seja realizado. Essa opinião prévia não significa necessariamente que o resultado de um plebiscito fosse negativo. Uma campanha equilibrada, com todos os prós e contras, poderia mexer com essa tendência, para mais ou para menos. O próprio movimento ambientalista está dividido sobre energia nuclear, aqui e no mundo, porque é das poucas fontes tradicionais de geração em larga escala que não emite gases de efeito estufa, embora não seja “limpa”. Hoje, o economista da USP, José Eli da Veiga, conceituado ambientalista, publicou coluna no jornal Valor (infelizmente o conteúdo integral está disponível apenas para assinantes), fortemente favorável à energia nuclear.
Os resultado para a Alemanha explica bem porque a chanceler Angela Merkel, em apuros junto ao eleitorado de seu país por causa da crise da Euro-economia, recuou da intenção de retomar o programa nuclear: a rejeição ao uso de energia nuclear aumentou de 64% para 72%. Já era majoritária, tornou-se hegemônica.
Na França, onde a energia nuclear domina a matriz elétrica, os contrários passaram de 31% para 41%. A rejeição ainda está longe de se tornar majoritária.
Interessante é notar que nos dois países que têm na energia nuclear a única saída para o abandono rápido do carvão, China e Índia, a rejeição a ela ainda é bastante baixa, embora tenha dobrado depois de Fukushima. Na China, passou de 16% para 30%, quase o dobro e, na Índia, de 17% para 35%, um pouquinho mais que o dobro.
Curioso é que, no Japão, onde se deu o acidente, a reação negativa subiu de 28% para 47%, 19 pontos percentuais, mas não chegou a se tornar majoritária.
O acidente está longe de superado. Segundo a empresa responsável por Fukushima, serão ainda nove meses até o fechamento a frio dos reatores, isto é até que o material radiativo tenha sido inteiramente resfriado, o vazamento totalmente controlado e o invólucro do material nuclear restaurado.
O risco ainda é elevado. A fase de efetivo encerramento do acidente ainda está longe e depende do cumprimento de várias etapas anteriores com sucesso.
A ideia de um plebiscito sobre energia nuclear cresce em vários países. Esta é uma questão de interesse público e segurança coletiva. Tipicamente uma questão que deveria mesmo ser submetida a consulta popular.
*Para ouvir o comentário do autor na rádio CBN clique aqui.
**Publicado originalmente no site Ecopolítica.