Roma, Itália, 20/6/2013 – Desde sua criação em 2007 para ajudar as nações do Sul a lutarem contra a pobreza, a fome, o analfabetismo, as doenças e a discriminação, o Fundo para o Êxito dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (F-ODM) financiou aproximadamente 130 programas conjuntos em 50 países. Regina Gallego, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), agência que supervisiona os esforços referentes aos ODM, disse que apenas o programa do Fundo sobre nutrição ajudou a redigir ou revisar cerca de 25 planos nacionais sobre o assunto, estimulou a criação de 270 escolas e jardins comunitários e melhorou o acesso à saúde de aproximadamente 534 mil cidadãos.
“Direta ou indiretamente, nossa contribuição melhorou o status nutricional de mais de 900 mil crianças, bem como de 170 mil mulheres grávidas e mães lactantes”, informou Gallego, especialista do Pnud em gestão do conhecimento. O F-ODM, de US$ 700 milhões, é um esforço de colaboração entre o governo da Espanha e a Organização das Nações Unidas (ONU), envolvendo as várias agências. O financiamento está concentrado em oito temas: infância, segurança alimentar e nutrição; igualdade de gênero e empoderamento de mulheres; meio ambiente e mudança climática; emprego juvenil e migrações; governança econômica democrática; desenvolvimento e setor privado; prevenção de conflitos e consolidação da paz; cultura e desenvolvimento.
Raúl de Mora Jiménez, especialista em comunicações do Pnud, disse à IPS que o Fundo trabalha ativamente assistindo vários países. Por exemplo, atualmente está trabalhando para melhorar as condições dos indígenas no Brasil, onde quatro em cada dez vivem em pobreza extrema e mais da metade das crianças apresenta anemia. A Iniciativa dos EcoFornos é parte de um programa conjunto da ONU chamado Promovendo a Segurança Alimentar e a Nutrição para Meninos e Meninas Indígenas do Brasil, uma colaboração entre o governo brasileiro e cinco agências das Nações Unidas destinada a melhorar o nível nutricional de populações nativas.
As cinco agências são Organização Mundial da Saúde (OMS), Organização Internacional do Trabalho (OIT), Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e Pnud. No Peru, as crianças indígenas das regiões dos altos Andes e da Amazônia apresentam algumas das maiores taxas de desnutrição do mundo: mais da metade sofre desnutrição crônica, e muitas são anêmicas e apresentam deficiências de vitamina A. O F-ODM apoia os esforços do governo peruano para melhorar a segurança alimentar e a nutrição em quatro das regiões mais pobres do país, acelerando a implantação da estratégia nacional CRECER.
Na Etiópia, a nutrição melhorou para as crianças menores de cinco anos, destacou Jiménez, mas isto deve sofrer uma aceleração para que este país atinja a meta de reduzir, até 2015, o número de pessoas que sofrem fome. Para isso, o governo etíope desenvolveu uma Estratégia de Nutrição Nacional e um Programa de Nutrição Nacional, que se incluem no programa conjunto do F-ODM. No Vietnã, o programa do F-ODM está concentrado em melhorar a segurança alimentar com um aumento da produção e do consumo de alimentos de qualidade, bem como na administração de suplementos nutricionais.
Esta é tanto uma estratégia de curto prazo para tratar os atuais níveis de desnutrição – através de suplementos de ferro e vitamina A –, como uma estratégia de longo prazo para fornecer uma dieta de maior qualidade por meio de sistemas de produção melhorados, incluindo produtos animais (carne e leite) e de aquicultura.
Gallego disse à IPS que a tendência geral dos indicadores dos ODM indica que, apesar dos progressos, erradicar a fome extrema ainda é um grande desafio. Estima-se que estão desnutridas cerca de 850 milhões de pessoas, ou aproximadamente 15% da população mundial, enquanto um em cada cinco menores de cinco anos no Sul em desenvolvimento tem peso inferior ao adequado. Contudo, a segurança alimentar começa a ganhar terreno nas agendas nacionais de uma forma sistemática e estruturada, destacou.
Gallego afirmou que foi possível extrair várias lições dos programas do F-ODM e, portanto, assegurou que é possível alcançar a meta de reduzir pela metade a proporção de pessoas que sofrem extrema pobreza. É preciso traçar um vínculo entre segurança alimentar e nutrição para concretizar o Desafio da Fome Zero, argumentou. E acrescentou que para as pessoas terem alimento suficiente, mas principalmente alimento nutritivo, é necessário reconhecer a estreita ligação entre os dois temas.
“Em outras palavras, não se deve considerar apenas a quantidade de alimentos, mas também outros aspectos, com o valor nutritivo e sua acessibilidade, bem como a qualidade de saúde, o status socioeconômico e o nível de conhecimentos da população”, acrescentou Gallego. Envolverde/IPS