Doha, Catar, 1/6/2011 – O líder líbio Muammar Gadafi está disposto a acertar uma trégua com os rebeldes e pôr fim aos combates no país, informou o presidente da África do Sul, Jacob Zuma. Como representante da União Africana (UA), Zuma se reuniu com Gadafi, que colocou algumas condições, semelhantes às que frustraram outras tentativas de impor um cessar-fogo.
O líder líbio disse estar disposto a aceitar uma iniciativa de cessar-fogo promovida pela UA para acabar com os combates e o bombardeio da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), em apoio aos rebeldes. Gadafi insistiu que “os líbios devem ter a oportunidade de falar entre eles” para definir o futuro do país, mas os rebeldes se apressaram em rejeitar a oferta. Zuma não disse se Gadafi estaria disposto a renunciar, o que é a reclamação principal dos rebeldes.
O presidente sul-africanao encabeçou em abril uma delegação da UA à Líbia que apresentou uma proposta de trégua. Gadafi disse que a aceitaria, mas a ignorou e reiniciou os ataques. O chanceler rebelde, Fathi Baja, rejeitou o plano desde Bengasi, reduto dos rebeldes. “Estamos totalmente contra. Não é uma iniciativa política, apenas um monte de coisas que Gadafi quer anunciar para permanecer no poder”, disse Baja à agência de notícias Associated Press.
Não há nada novo, disse à rede de notícias Al Jazeera o opositor Idris Traina, que reside na cidade norte-americana de Los Angeles. “No começo ouvíamos que Zuma negociaria uma estratégia de saída para Gadafi e sua família. Depois escutávamos repetidas conversações sobre a trégua, mas o Conselho Nacional de Transição e o povo líbio rejeitaram antes as ofertas e as rejeitarão novamente”, afirmou.
A visita de Zuma coincidiu com a deserção maciça de oficiais das forças de Gadafi. Oito altos comandantes do Exército deram uma entrevista coletiva ontem na Itália e disseram que integram um grupo de 120 oficiais e soldados que desertaram nos últimos dias. A entrevista foi organizada pelo governo italiano para oitos oficiais, cinco generais, dois coronéis e um major.
“O que acontece com nosso povo nos assusta”, disse o general Oun Ali Oun. “Há muitas mortes, genocídio e violência contra as mulheres. Nenhuma pessoa sensata, racional e com um mínimo de dignidade pode fazer o que vimos e o que nos pedem para fazer”, acrescentou. O general Salah Giuma Yahmed declarou que o Exército de Gadafi se enfraquece a cada dia e que sua força perdeu 20% em relação à sua estrutura original. “Os dias de Gadafi estão contados”, acrescentou.
Os 120 militares estão fora da Líbia, informou o representante desse país na Organização das Nações Unidas, Abdurrahman Shalgam, que também mudou de lado. Mas, não disse onde os desertores se encontram.
Por outro lado, o governante Congresso Nacional Africano, da África do Sul, condenou os bombardeios contra a Líbia por parte da Otan na véspera da visita de Zuma. “Também nos unimos ao continente e aos amantes da paz para condenar o contínuo bombardeio da Líbia pelas forças ocidentais”, diz o comunicado divulgado após reunião de dois dias de seu órgão executivo.
A alta comissária da ONU para os direitos humanos, Navi Pillay, condenou a brutalidade da repressão do governo líbio contra os manifestantes e disse que as ações são um escandaloso atropelo. “A brutalidade e a magnitude das medidas adotadas pelo governo da Líbia, e também da Síria, são escandalosas em seu desprezo pelos direitos humanos básicos”, ressaltou. Envolverde/IPS