O transtorno atinge 1% da população mundial, segundo dados do Instituto Brasileiro de Fluência.
O Oscar 2011 consagrou como melhor filme a história do rei George VI que, após um tratamento exaustivo com um terapeuta, consegue êxito para a explanação de seus discursos no império britânico. O longa-metragem O Discurso do Rei é verídico e destaca os percalços que o rei passou para assumir o trono devido às suas dificuldades de fluência na fala. De característica marcante, a disfemia, conhecida popularmente por gagueira, pode ter seus efeitos reduzidos, mas não curados.
Para a fonoaudióloga Eliane Regina Carrasco, presidente da Associação Brasileira de Gagueira e mestranda em Distúrbios da Comunicação Humana pela Unifesp, “a pessoa sabe exatamente o que quer falar, mas não consegue por causa das repetições, prolongamentos e bloqueios”. Considerada um distúrbio na fluência da fala com interrupções involuntárias do seu ritmo natural, a gagueira surge geralmente durante o desenvolvendo da linguagem, na infância, em crianças propensas ao distúrbio. De causa ainda desconhecida pela medicina, ela é vista como um distúrbio neurobiológico, “causado por um mau funcionamento de algumas áreas do cérebro que são responsáveis pela fala”, destaca a especialista.
Pesquisas médicas, no entanto, continuam a buscar respostas para a questão. Fatores biológicos e genéticos já foram identificados como aspectos presentes na gagueira. Da mesma forma, a questão emocional também deve ser considerada, “porém como um agravante da gagueira e não como causador”, salienta a Dra. Eliane Carrasco.
Como ainda não é possível afirmar com exatidão as causas do distúrbio, a recomendação é que haja um tratamento terapêutico realizado por um fonoaudiólogo especializado. Apesar de a disfemia não apresentar cura, é preciso insistir no tratamento a fim de ter os seus sintomas diminuídos. Por conta da plasticidade do sistema nervoso, peculiar nas crianças, indica-se o início do tratamento o mais cedo possível, com a garantia de resultados mais eficazes.
Compreensão
A melhor maneira de ajudar o gago é respeitando o seu tempo para se expressar. “Atitudes como apressar a pessoa, não prestar atenção, desviar o olhar, tentar completar as palavras mesmo que com a intenção de ajudar, demonstrar pressa ou impaciência, risos e piadas, são atitudes que não ajudam em nada e que podem inclusive trazer mais tensão àquela situação de comunicação, tanto para a pessoa que gagueja como para o ouvinte”, ressalta a fonoaudióloga Eliane Regina Carrasco. Há também grupos de apoio disponíveis em várias regiões que auxiliam e permitem a troca de experiência entre as pessoas portadoras da disfunção.
A gagueira é involuntária e controlá-la não é tarefa simples. Portanto, como portador do distúrbio recomenda-se a procura de um profissional e a persistência no tratamento. Quanto aos ouvintes, resta-lhes respeitar e dispensar atitudes de sarcasmo, muitas vezes presentes nestas situações.
* Publicado originalmente no site Saúde em Pauta Online.