Apenas a ajuda internacional evita um desastre sanitário maior em Gaza. Foto: Emad Badwan/IPS

 

Gaza, Palestina, 3/4/2013 – “Nos últimos cinco anos recolhemos o lixo por meios muito tradicionais: carros puxados por burros”, contou Abdel Rahem Abul Kumboz, diretor de saúde e meio ambiente da municipalidade de Gaza. Só a cidade de Gaza produz 700 toneladas de lixo por dia, disse Kumboz à IPS. Mais da metade é recolhida todos os dias por 250 carros. “Se faz o trabalho, mas não de forma ótima”, acrescentou.

Como se fosse pouco para os problemas enfrentados pela administração do lixo na Faixa de Gaza, esta simples forma de tratar os dejetos foi interrompida. “O dinheiro destinado aos lixeiros acabou no final de fevereiro, e não haverá coleta pelo menos até junho”, informou Kumboz.

Hamada al-Bavari, do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha), informou que foi lançada uma resposta de emergência com a colaboração do grupo de assistência italiano Cooperazione Internazionale (Coopi). Bayari disse à IPS que o Coopi forneceu fundos para que a coleta continue até junho. Desta forma foi evitado um desastre imediato, mas os problemas crônicos do manejo do lixo em Gaza persistem.

Os lixões estão abarrotados, os veículos de coleta não funcionam, as toxinas do lixo vazam para as águas subterrâneas e não há meios de dispor lixo perigoso. “O severo cerco dos últimos cinco anos afetou todos os aspectos do manejo de lixo”, pontuou Kumboz, se referindo ao bloqueio imposto por Israel, que proíbe a entrada de material de construção na Faixa de Gaza.

A municipalidade tem 75 veículos coletores, “mas metade deles completamente inutilizada”, afirmou Kumboz. “O resto está com mais de 15 anos de uso, e precisa de reparos. Devido às proibições de Israel para importar armas, não podemos obter as peças que precisamos para mantê-los. Algumas conseguimos através dos túneis desde o Egito, mas é muito caro e não é seguro”, acrescentou.

Segundo Kumboz, o tema mais urgente são os lixões lotados. Gaza não pode expandir esses lugares devido à falta de materiais de construção e aos constantes ataques israelenses nas áreas de fronteira, onde ficam os três principais. Um informe do Banco Mundial de fevereiro de 2011 alertava que na época os três maiores lixões de Gaza estavam “alcançado sua capacidade máxima”.

O estudo acrescenta que a situação “se agravou ainda mais pelas ações militares israelenses, que geraram substanciais quantidades de escombros de prédios danificados, alguns contaminados com substâncias perigosas”. Algumas dessas substâncias são asbesto, usado em muitos tetos de Gaza, químicos e toxinas das bombas israelenses, e lixo hospitalar, como mostras de sangue e fluidos, com doenças infecciosas.

Também se pode encontrar lixo radioativo ou químico, segundo um informe de setembro do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). Durante os ataques de Israel contra Gaza no inverno 2008-2009, “os incineradores não funcionaram devido aos cortes de eletricidade. Portanto, todos os lixões receberam indiscriminadamente materiais perigosos, como lixo sanitário”, diz o estudo do Pnuma.

A isso se deve acrescentar mais de 35.700 animais, entre bovinos, ovinos e caprinos, e mais de um milhão de aves que morreram nos ataques, para cuja disposição a municipalidade carecia de meios. Outros oito dias de contínuos ataques israelenses em novembro de 2012 agravaram o problema, acumulando escombros e lixo perigosos.

Dos três principais lixões da Faixa de Gaza, apenas o de Deir Al Balah foi construído dentro de padrões sanitários aceitáveis, diz o informe do Banco Mundial, de março de 2012. Os três lixões ficam perto da Linha Verde, fronteira que separa Gaza e Israel, e através da qual são frequentes as incursões israelenses, o que dificulta os trabalhos de tratamento do lixo. O documento do Banco Mundial também alerta que uma eventual expansão do lixão de Johr Ad Deek “implica riscos”.

No dia 5 de janeiro deste ano, o exército israelense disparou contra um caminhão coletor no lixão de Beit Hanoun. O Centro Palestino para os Direitos Humanos informou que o veículo estava a 150 metros da fronteira quando foi atacado. Um dos trabalhadores, Awad al Zaanim, foi ferido na cabeça por disparos. “Grande parte de Beit Hanoun está na área fronteiriça. Há muitas invasões e bombardeios israelenses ali. Tudo isto causa problema para o manejo do lixo sólido”, disse Sufyan Hamad, chefe municipal no norte de Gaza. “Estamos proibidos de ir ao lixão. Israel impede nossa aproximação a 300 metros da fronteira”, acrescentou.

Somente o de Sofa, no sudeste, poderia ser expandido, segundo o Banco Mundial. Porém, sugere que sejam construídos outros dois para servir a toda a Faixa, bem como a “substituição da frota de coleta por uma nova”. Mas isto parece impossível para muitos. “Há cinco anos esperamos que os caminhões, já que estão na cidade de Ramalá, na Cisjordânia, entrem em Gaza”, disse Hamad. “O problema são os israelenses. São eles que dizem que os caminhões não podem entrar”, acrescentou. Envolverde/IPS