Uma nova análise acerca das geleiras tibetanas corrobora uma hipótese defendida por várias pesquisas realizadas na área até hoje: que os glaciares do local estão diminuindo em um ritmo acelerado. O estudo, baseado em 30 anos de medições por satélites, está sendo considerado por alguns especialistas como um dos mais abrangentes já feitos na região.
O trabalho, publicado no domingo (15) pelo periódico Nature Climate Change, foi desenvolvido pelo Instituto de Pesquisa Tibetana da Academia Chinesa de Ciências, e recolheu dados de 7,1 mil geleiras dos cerca de cem mil quilômetros quadrados das cordilheiras tibetanas, incluindo o Himalaia, o Karakoram, o Pamir e o Qilian, uma área conhecida como Terceiro Polo, que fornece água para aproximadamente 1,4 bilhão de pessoas na Ásia.
O estudo também analisou as alterações na estimativa de massa – diferença entre o acúmulo e a perda de gelo – de 15 geleiras, e concluiu que “a maioria das geleiras tem encolhido rapidamente na área estudada nos últimos 30 anos”, comentou Yao Tandong, glaciologista e um dos autores da pesquisa.
Os cientistas perceberam, no entanto, que há uma grande variação na redução das geleiras, explicada grandemente pelos ventos e massas de ar que atuam na região. No Himalaia central e oriental, por exemplo, onde neva durante o período influenciado pelas quentes monções provenientes da Índia, um pequeno aumento nas temperaturas de verão pode afetar as geleiras drasticamente.
Já o Korakoram e o Palmir, que estão sob influência dos ventos do oeste vindos da Europa, ganham massa com a neve de inverno, e por isso são menos afetados pelo aquecimento, pois as temperaturas no inverno ainda se mantêm abaixo de zero.
“O aumento de temperatura é importante. Mas seu efeito nas geleiras também depende dos regimes climáticos. Isto explica por que a maioria das geleiras, que estão estáveis ou aumentando, é do planalto do Karakoram ou do Pamir”, observou Yao.
A pesquisa vai ao encontro de um trabalho também recentemente publicado pela Nature, que sugere que as geleiras tibetanas estavam perdendo gelo em um ritmo de apenas 10% do que o estimado anteriormente. Este trabalho, que avaliou informações coletadas durante sete anos pelo satélite Experimento de Clima e Recuperação de Gravidade (Grace), também indicou que as geleiras himalaicas estariam crescendo.
A análise realizada a partir dos dados do Grace recebeu muitas críticas de que as medições haviam sido realizadas em um espaço muito curto de tempo, e de que o Grace poderia não ser o sistema ideal para realizar esse tipo de experimento.
“Já que os satélites Grace só podem sentir a força gravitacional e não podem dizer a diferença entre o gelo e a água, eles podem ter confundido a expansão dos lagos glaciais (que aumentaram 26% em 40 anos devido ao degelo dos glaciares) com o aumento da massa glacial”, explicou Yao.
De fato, um dos autores da pesquisa com o Grace, John Wahr, admitiu que as críticas a seu trabalho são válidas. “Essa é uma fraqueza importante do Grace para qualquer estudo glacial não polar”, declarou Wahr, que é especialista em sensoriamento remoto pela Universidade do Colorado Boulder.
Por fim, a análise da Academia Chinesa de Ciências mostra como o monitoramento e medição das geleiras pode ser difícil. “O estudo enfatiza a complexidade das respostas das geleiras na região e a importância da verdade para fazer análises precisas. Estudos de estimativa de massa são extremamente trabalhosos e frequentemente podem ser perigosos, mas nunca há um substituto para pesquisas empíricas”, concluiu Lonnie Thompson, glaciologista da Universidade Estadual de Ohio e coautor do estudo.
* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.