Governos não cumprem promessas de ajuda para REDD+

Programa da ONU de redução de emissões de desmatamento e degradação florestal e a Parceria de Carbono e Florestas não arrecadaram as quantias prometidas pelos países para financiar inciativas de preservação.

A ideia por trás do REDD+ é simples: governos entram com o financiamento inicial para que os programas de preservação e manejo sustentável possam começar e depois a iniciativa privada os manteria funcionando através da compra dos créditos de carbono florestal gerados pelos projetos.

Gráfico mostra o quanto foi prometido (pledge) para a FCPF e o quanto gasto (spent).

 

Porém, esse modelo não está conseguindo decolar porque as promessas realizadas ao longo dos últimos anos por países reunidos em negociações climáticas não estão sendo cumpridas.

É o que aponta o estudo “Assessing the Financial Flows for REDD+: the Pledge-Implementation Gap” (algo como, “Avaliando os Fluxos Financeiros do REDD+: a diferença entre a promessa e a implementação”), divulgado nesta quarta-feira (29) pela consultoria IdeaCarbon.

De acordo com o documento, as duas maiores entidades do REDD+ não receberam ainda os recursos prometidos e mesmo o que realmente arrecadaram não estão conseguindo repassar de maneira ágil.

A Parceria de Carbono e Florestal (FCPF) teria direito a US$ 345 milhões conforme os compromissos anunciados por diversos países, com US$ 200 milhões indo para o Fundo de Preparação (‘Readiness Fund’) e US$ 145 milhões para Fundos de Carbono.

Desses US$ 200 milhões, US$ 123,5 milhões foram reservados para os Acordos de Participação dos Doadores (Donor Participation Agreements – DPAs) e não foram necessariamente disponibilizados ainda pelos governos. Para o Fundo de Preparação propriamente dito entraram US$ 86,19 milhões, sendo que somente US$ 9,857 milhões teriam sido gastos no ano fiscal de 2009 -2010. Além disso, apenas 10% desse total, US$ 959,000, foram liberados para que os países escolhessem eles mesmos onde investir.

Já o Programa da ONU (UN-REDD) recebeu US$ 94 milhões, de um total prometido não divulgado mas que seria muito maior. Desses, US$ 26,7 milhões foram transferidos para escritórios da FAO, PNUMA e PNUD na Bolívia, República Democrática do Congo, Indonésia, Panamá, Tanzânia, Vietnã e Zâmbia. Outros US$ 24,6 milhões foram encaminhados para programas chamados de “Ajuda Internacional”. Mais US$ 24 milhões foram aprovados pelo UN-REDD, mas ainda não foram destinados.

A IdeaCarbon afirma que a FCPF e o UN-REDD possuem modelos diferentes de distribuição de recursos e que é difícil realizar uma comparação entre eles. Mas o programa da ONU parece mais eficiente em repassar o dinheiro pelo menos no que diz respeito à burocracia e ao fluxo de volumes.

Implicações

A maior parte dos recursos para o financiamento de programas de REDD+ é originária de ricos países europeus, que atualmente se encontram em uma situação não muito favorável economicamente. Portanto, se o dinheiro não apareceu até agora, dificilmente vai surgir nos próximos meses.

“O REDD não é diferente de outras formas de ajuda para o desenvolvimento de nações pobres. Dessa forma, parece claro que o financiamento do setor público tende a continuar insuficiente”, explicou Nick Oakes, autor do estudo.

Para o pesquisador, algumas consequências do atraso do repasse de verbas já são bem visíveis. Uma delas sendo que o REDD+ não vai se popularizar tão cedo, já que os países com áreas florestais dificilmente vão conseguir financiar por si mesmos esse tipo de mecanismo. Então, o cenário de milhares de hectares de florestas protegidas pelo REDD+ ainda está muito distante da realidade.

Outra consequência da falta de interesse dos governos em liberar verbas é o impacto que essa indecisão tem na iniciativa privada. Se o setor público não aposta no REDD+, dificilmente as empresas o farão.

O atual estágio do mecanismo também prejudica o andamento das negociações climáticas internacionais.  A Conferência do Clima de Cancún (COP 16) em 2010 terminou comemorando os avanços para a preservação das florestas. A estagnação da iniciativa agora pode passar a impressão que na realidade pouco foi conseguido.

Finalmente, existe a questão da divisão entre os países que estão mais bem equipados para receber o REDD+ e aqueles que não possuem nenhuma infraestrutura – justamente os mais pobres e que teoricamente precisam com mais urgência da ferramenta. Isto porque para receber esses recursos internacionais, os países devem cumprir uma série de pré-requisitos, como preencher as Propostas de Preparação para o REDD se quiserem eles mesmos aplicar o dinheiro. Assim, esse modelo acaba favorecendo algumas nações em estágios mais avançados de desenvolvimento.

Segundo Oakes, o REDD+ tem um grande potencial, mas a falta de progresso poderá ser fatal para a ferramenta. “Será preciso pelo menos mais uma década para que seja criado o impulso necessário para que o REDD+ realmente movimente investimentos pesados. Eu não sei que impactos essa demora terá no desmatamento global, mas não parece nada bom”, concluiu.

* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.