Reunidos em São Paulo para discutir mudança climática, vida urbana e qualidade de vida os prefeitos das principais cidades do mundo.
Várias das cidades representadas no C40 estão na vanguarda na redução de emissões de gases estufa. Nova York está mudando sua frota de táxis para veículos híbridos e elétricos. Está implantando ciclovias e devolvendo espaço ocupado por automóveis à população. Portland está virando paradigma de “cidade do clima”. Em várias dessas cidades há movimentos por “telhados verdes” e “telhados brancos”. Na Europa muitas já adotaram o “pedágio urbano” para desestimular o tráfego de carros no centro da cidade e estimular o uso de transporte coletivo. Veículos leves sobre trilhos, bondes modernos (tramways), metrôs estão sendo implantados para permitir a transição do transporte individual para o coletivo com qualidade. Como modelos de transição, há o recurso do BRT (Bus rapid transit), particularmente em cidades de países em desenvolvimento: Bogotá, Cidade do México, Curitiba.
A experiência das últimas COPs, em Copenhague e Cancún, e a expectativa de pouco ou nenhum avanço em Durban, na COP17, indicam que qualquer acordo global vinculante dependerá da adoção de políticas domésticas. Uma vez adotadas, essas políticas podem ser consolidadas em um acordo global, avaliadas e incrementadas. Se esse caminho “de cima para baixo” é o mais viável, as cidades e, particularmente, as grandes metrópoles, têm um papel decisivo.
Primeiro, porque muitas estão na vanguarda das ações relativas à mudança climática, tanto em termos de mitigação (redução de emissões), quando de adaptação (preparação para enfrentar eventos climáticos extremos mais frequentes, elevação do nível do mar, etc…).
Segundo, porque só essas reunidas em São Paulo representam perto de 20% das emissões de gases estufa. Emissões derivadas principalmente do setor de transportes urbanos (particularmente carros particulares e ônibus a diesel) e consumo corporativo e residencial de eletricidade.
Terceiro, por uma razão política. Essas cidades têm força e influência, formam opinião no que se refere à gestão urbana e podem demonstrar a eficácia das políticas que adotam, estimulando sua adoção nacionalmente. Elas pode, em particular, mostrar que o caminho para uma sociedade de baixo carbono não envolve perdas líquidas. Ao contrário permite elevação do bem-estar, da qualidade de vida e dos ganhos econômicos.
O Brasil tem pouco a mostrar em ações efetivas e em lideranças ativas no campo da mudança climática e da sustentabilidade. Ao contrário, essa reunião acontece em um momento de grande retrocesso na área ambiental no país: aprovação de mudanças no Código Florestal; política energética atrasada no campo das energias eólica e solar; licença para as obras de Belo Monte, no momento em que o projeto é abandonado pelo investidores recusa em avaliar a sério os riscos das usinas nucleares; protecionismo que impede a venda aqui de carros elétricos.
Na política, nada temos de parecido com o neo-republicano Bloomberg, que governa Nova Iorque e preside a C40, ou com o ex-presidente democrata Bill Clinton. Só Marina Silva se destaca como liderança comparável aos líderes de outros países presentes em São Paulo. Mas ficou confinada a um partido pequeno, que resiste à modernização democrática por ela proposta. Os grandes partidos do PT ao PSDB, do PMDB ao DEM, são todos atrasados na questão climática e ambiental.
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** Publicado originalmente no site Ecopolítica.