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Grandes economias na cabeça de energias renováveis

Campos de painéis solares em Provenza, França. Foto: Coralie Tripier/IPS

Nova York, Estados Unidos, 14/6/2012 – Na semana que antecede a Cúpula Rio+20, o Conselho para a Defesa dos Recursos Naturais (CDRN), com sede nos Estados Unidos, divulgou uma lista de países segundo seu uso de fontes renováveis de energia que é liderada pela União Europeia e mostra o significativo avanço do Sul em desenvolvimento.

A última vez que os governantes do mundo se reuniram para discutir sobre desenvolvimento sustentável foi na Cúpula da Terra de 2002, em Johannesburgo, conhecida como Rio+10. Desde então, houve significativas mudanças em matéria de fontes alternativas de energia. “Decidimos observar os avanços realizados desde 2002 e checar como estavam os países”, disse Jake Schmidt, diretor de programa climático internacional do CDRN. O informe publicado esta semana mostra que os países mais ricos avançaram para um mundo mais sustentável.

“Desde 2004, os investimentos em novas energias limpas no Grupo dos 20 (G-20) países industrializados e emergentes aumentaram quase 600% no conjunto”, diz o estudo, mas há muito por fazer, pois as fontes renováveis representam apenas 2,6% do consumo dos países ricos e emergentes. As nações europeias produzem mais eletricidade a partir de energia eólica, solar, geotérmica e das marés do que qualquer outro país. A Alemanha encabeça a lista, seguida da UE como bloco e da Itália, segundo o CDRN.

A lista também mostra brechas claras entre os países do G-20. Enquanto 10,7% da energia da Alemanha procede de fontes limpas, nos Estados Unidos é apenas 2,7%, e países grandes como a Rússia investem muito pouco nelas. Algumas nações em desenvolvimento, embora desempenhem um papel menor, investem cada vez mais em fontes limpas. Brasil, China e Turquia lideram esta relação. Pequim aumentou 7,605% seus investimentos no setor desde 2002, segundo o estudo.

“Há uma lista variada de países como África do Sul, Índia, China, Indonésia e outros, com um papel estratégico, bem como o G-20 tradicional”, detalhou Dan Kammen, professor do grupo recursos e energia da Universidade da Califórnia, na cidade de Berkeley, nos Estados Unidos. O estudo mostra avanços significativos de vários países, mas que estão longe de ser suficiente. Segundo a tendência atual, a quantidade de energia produzida a partir de fontes renováveis deve aumentar de 2% para 7% até 2020, uma quantidade que deve ser duplicada. “O mundo precisa disso”, enfatizou Schmidt.

“O que realmente necessitamos no Rio é que os países, as companhias e as cidades assumam uma série de compromissos precisos de curto prazo para ampliar as fontes renováveis”, acrescentou Schmidt. “É mais importante que atores importantes cheguem à Rio+20 com compromisso por país para aumentar a incidência das energias renováveis em 15% da eletricidade gerada em 2020”, ressaltou.

Também são necessárias ações urgentes para eliminar os Subsídios Prejudiciais para o Meio Ambiente, por meio dos quais são financiadas energias contaminantes, segundo Kammen. “O investimento em fontes renováveis, estimado em US$ 160 bilhões no ano passado, é muito impressionante, mas não podemos esquecer que os subsídios globais são estimados entre US$ 400 bilhões e US$ 500 bilhões, e isso apenas para combustíveis fósseis”, observou.

“Não é só uma ameaça para os milhares de novos empregos que são criados no setor de energias renováveis, mas também para nossa saúde, nosso meio ambiente e nosso planeta”, apontou Schmidt. Para alcançar esses objetivos de curto prazo deve-se aumentar a cooperação entre os países, afirmou o especialista do CDRN. “Sempre há colaboração para ajudar os países a superarem as barreiras tecnológicas ou de fundos, e precisamos levar isso a outro nível. Necessitamos incrementar os esforços para trabalhar em conjunto”, comentou.

“Há diversos benefícios, alguns locais, como melhorar a qualidade do ar, da água e diversificar a mistura de energia e, naturalmente, também benefícios globais”, opinou Kammen. Contudo, para que seja realidade, é preciso registrar os progressos conforme avança o tempo e publicá-los regularmente. “Devemos garantir que os compromissos sejam cumpridos. Temos que responsabilizar os governos pelos avanços, ou pela falta deles”, alertou Schmidt.

A Rio+20, que acontecerá na semana que vem, é considerada uma oportunidade única para que os governantes do mundo, organizações não governamentais, empresas, entre outros, discutam sobre energias renováveis, uma das prioridades da conferência. Porém, o resultado dependerá principalmente da participação dos países, e apenas seis do G-20 confirmaram presença na cúpula.

“Os países do G-20 não são essenciais, mas são grandes economias, e a participação e o compromisso de seus governos serão importantes sinais de êxito para a Rio+20”, considerou Schmidt. “Será um claro sinal de que essas nações querem um mundo com crescimento mais sustentável. Ainda há muito por fazer, mas o avanço é impressionante. O desafio é avançar”, acrescentou. Envolverde/IPS