Arquivo

Guantânamo diante da Casa Branca

Diane Wilson faz greve de fome diante da Casa Branca em protesto contra a prisão de Guantânamo. Foto: Ted Majdosz

Nações Unidas, 17/5/2013 – Há 19 dias Diane Wilson, uma pescadora de 65 anos do Estado do Texas, tomou a decisão de realizar uma greve de fome diante da Casa Branca. Vestida com um traje alaranjado igual ao usado pelos prisioneiros em Guantânamo, ela exige há mais de duas semanas o fechamento da prisão nessa base militar, onde estão detidos suspeitos de terrorismo.

O presidente Barack Obama é alvo de fortes críticas por não cumprir sua promessa de fechar a prisão. Embora o mandatário argumente que a medida está bloqueada pelo Congresso, ativistas afirmam que ao menos se poderia iniciar o processo de transferência dos presos que foram absolvidos de toda acusação.

A prisão de Guantânamo começou a funcionar em 2002. Segundo informações, pelo menos cem dos seus 166 presos realizam greve de fome, alguns sendo alimentados à força. Organizações defensoras dos direitos humanos condenaram esta prática, que consideram uma forma de tortura. Não é a primeira vez que se faz uma greve de fome em Guantânamo. A primeira foi em 2005, e dela participaram cerca de 200 prisioneiros.

IPS: O que procura com este protesto?

Diane Wilson: A prisão deve ser fechada. É o que quero. Estou em greve de fome em solidariedade com esses presos de Guantânamo, que simplesmente querem justiça. Todos sabem que o presidente Obama pode fechar Guantânamo agora mesmo. Pode fazer isso. Já deveria ter feito.

IPS: Considerando que é uma mulher de 65 anos, o que fará se seu corpo simplesmente não resistir apenas consumindo água, um pouco de sal e um tablete de potássio?

DW: Cada vez que esses pensamentos passam pela minha cabeça, penso nos homens em Guantânamo. Eu posso deitar em uma cama macia à noite, posso conversar com outras pessoas e não ficar em uma cela fria. Não sou humilhada nem torturada, e se eles podem fazer eu também posso. Além disso, não é a primeira vez que jejuo por vários dias. A vez que fiquei mais tempo foi por 45 dias, quando protestei para impedir que a companhia de energia Valero explorasse as areias de alcatrão em Houston, no Texas. Era um pouco mais jovem, e a idade está pesando. Mas estou apenas começando. Basicamente, sou otimista, e realmente acredito que as pessoas podem fazer diferença. De certa forma me rendi ao jejum, e manterei enquanto puder. Não me preocupo com a possibilidade de o corpo não aguentar. Tudo que tenho de fazer é pensar naqueles homens em Guantânamo. Sei que podemos fechar essa prisão, e se for preciso estou disposta a percorrer esse caminho.

IPS: Por que escolheu a Casa Branca para protestar?

DW: Protesto diretamente diante da Casa Branca. É um lugar estratégico. Há alguns dias me prendi nas grades. Uso um traje alaranjado e tenho correntes ao redor das pernas e do pescoço. Também uso um capuz negro. Esta é minha forma de representar Guantânamo diante da administração de Obama. Sou uma constante lembrança das condições em que vivem os prisioneiros de Guantânamo. Para conseguir uma mudança, é preciso protestar diante de seus narizes.

IPS: Como as pessoas reagem quando a veem?

DW: Algumas sabem que faço um protesto. Outras apenas param para ver. Às vezes, passam e dizem que estão do meu lado. Eu diria que quase 90% das pessoas com as quais falo concordam com minha causa. Muitas crianças que vêm conhecer a Casa Branca se mostram curiosos. Há muitos estrangeiros, que sempre se mostram curiosos e conversam comigo. Também há muitos senadores que chegam e me dizem que faço um bom trabalho. Alguns até me dão a mão e dizem para seguir em frente.

IPS: Qual sua inspiração?

DW: Me inspiro muito em Gandhi. É meu homem.

IPS: Como se define? Como uma militante política, ambientalista ou simplesmente uma pescadora?

DW: Quando me perguntam, digo que sou uma pescadora. Represento a quarta geração de uma família de criadores de camarão. Não fiz nada politicamente até completar 40 anos. Acordei tarde. Creio que há muitos problemas com os diferentes movimentos (da sociedade civil). Há o ambiental, o indígena e o dos direitos humanos, e todos tendem a estar em campos separados. Mas existe uma ligação entre todos. Acredito que, por ser pescadora e ter vivido em uma baía, não tenho senso de fronteiras, e por isso surgiu meu ativismo.

IPS: Qual foi a reação dos seus familiares?

DW: Geralmente, não digo a eles o que estou fazendo, deixo que saibam. Meus parentes são em sua maioria do (opositor) Partido Republicano, e amam George W. Bush (presidente entre 2001 e 2009). Não gostam que eu faça este tipo de coisa.

IPS: Você é autora do livro An Unreasonabel Woman (Uma Mulher Insensata). Considera-se alguém com quem não é possível conversar?

DW: Não, apenas estou pedindo pelas vidas destes homens. Envolverde/IPS