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Guiana se esforça na luta contra a mudança climática

Vista aérea de Georgetown, Guiana. Foto: Desmond Brown/IPS

Georgetown, Guiana, 24/4/2012 – A Guiana é conhecida como o celeiro do Caribe e pela aventura que a Amazônia oferece. Entretanto, o mesmo ambiente natural que lhe dá fama está em perigo pela mudança climática. Durante seu governo, o ex-presidente Bharrat Jagdeo (1999-2011) levou adiante várias iniciativas ambientais que fizeram com que este país da Comunidade do Caribe (Caricom) fosse reconhecido por sua gestão do ecossistema, conservação da biodiversidade e pelos esforços na luta contra o aquecimento global.

Porém, as autoridades afirmam que este país de 750 mil habitantes continua sendo “muito vulnerável aos impactos da mudança climática”, alertou o primeiro-ministro, Samuel Hinds. “Continuamos prejudicados por eventos climáticos extremos, em especial intensas chuvas que causam inundações tanto em áreas costeiras como no interior do país”, acrescentou.

Cerca de 90% da população e a maioria das atividades econômicas se concentram em uma estreita faixa costeira, o que torna boa parte da população vulnerável às inundações causadas pelo aumento do nível do mar. A Guiana sofreu em 2005 grandes inundações após a queda de fortes chuvas durante três semanas seguidas, o que causou perdas econômicas equivalentes a cerca de 67% do produto interno bruto (PIB).

Jagdeo defende a causa dos países em desenvolvimento na luta contra a mudança climática. Também destaca o papel das florestas na luta contra este fenômeno. Além disso, foi em 2009, durante seu mandato, que avançou a estratégia de desenvolvimento baixo em dióxido de carbono (CO²), também conhecida como LCD, que recebeu amplo apoio nacional e internacional.

No contexto desse programa, a Guiana recebe fundos para fomentar serviços no ecossistema florestal. Os recursos são utilizados para organizar atividades econômicas que liberem poucas emissões contaminantes e protejam o meio ambiente, ao mesmo tempo em que impulsionem o crescimento e o desenvolvimento.

Guiana e Noruega assinaram em novembro de 2010 um acordo, o segundo maior da iniciativa de Redução de Emissões Provocadas pelo Desmatamento e pela Degradação das Florestas (REDD+), sob o qual o país europeu vai colaborar com US$ 250 milhões até 2015 para evitar a destruição ambiental.

Este país cumpriu os objetivos dois anos consecutivos e obteve US$ 70 milhões. Os fundos serão usados para apoiar os projetos de LCD que transformarão as economias locais e a nacional, e contribuirão para os esforços de adaptação à mudança climática aumentando a resiliência frente a futuros eventos climáticos extremos.

A imagem da Guiana como país em desenvolvimento e encabeçando a luta contra o aquecimento global cresceu enormemente, mas Jadgeo disse que os governos do Caribe estão “dormindo” em relação a este tema, enquanto o mundo rico é incapaz de chegar a um acordo para transitar pelo caminho da sustentabilidade.

“A situação mundial atual é de fracassos, muitos fracassos nas Conferências das Partes da Convenção Marco das Nações Unidas sobre a Mudança Climática realizadas em Copenhague, Cancún e Durban”, disse Jagdeo aos delegados presentes à Conferência sobre Turismo Sustentável no Caribe, um encontro anual convocado na semana passada pela Organização de Turismo do Caribe.

“O caminho que transitamos nos levará a um aumento de quatro graus na temperatura mundial. Esse aumento em relação aos números da era pré-industrial fará com que florestas e corais morram de forma natural, que o nível do mar aumente e percamos a maioria de nossas praias no Caribe. Este é o futuro que contemplamos agora”, acrescentou.

Jagdeo pediu às autoridades do setor turístico que utilizem sua influência para fazer com que os governos e as sociedades sejam mais conscientes da ameaça ao estilo de vida predominante no Caribe. Um estudo do Banco Mundial mostra que entre 10% e 15% dos países mais vulneráveis diante de eventos meteorológicos extremos estão no Caribe. Um desastre pode ter enorme impacto sistêmico na sociedade.

Jagdeo pediu urgência aos delegados na Conferência no sentido de buscar soluções para os problemas meteorológicos nos próximos dias. Reconhecendo os grandes déficits fiscais e as enormes dívidas, pediu que pensassem em formas inovadoras de financiamento. “Os fundos climáticos, recursos já disponíveis para medidas de adaptação e mitigação, podem ser usados no setor turístico”, afirmou. “Temos que ser criativos” para garantir que essa atividade tenha acesso aos recursos econômicos e possa servir para dotar-se de energia verde renovável e barata.

Richard Skerritt, presidente da Conferência e ministro de Turismo de San Cristóbal e Nieves, afirmou que, devido à urgência dos desafios econômicos e fiscais que a região enfrenta, a Guiana pode ter sucumbido à tentação de ampliar a extração de madeira e ouros recursos de sua vasta extensão de floresta. Mas este país reconheceu o impacto negativo do desmatamento no longo prazo e está convencido de que não deve ser obrigado a escolher entre prioridades de desenvolvimento no curto prazo e a luta contra a mudança climática, destacou.

“Apesar das temíveis nuvens negras da recessão que pairam sobre nossa região, e ao insistente chamado para que nos apressemos em colocar nossas economias em ordem, o governo da Guiana continua escolhendo proteger praticamente a totalidade de seus 16 milhões de hectares de florestas”, disse Skerritt. “Isto é, cerca de 80% do valor da terra da Guiana são preservados mediante decisões tomadas de forma deliberada e responsável”, ressaltou. Envolverde/IPS