Atribui-se a Karl Marx esta frase pertinente: “só se fazem as revoluções que se fazem”. Quer dizer, a revolução não configura um ato subjetivo e voluntarista. Quando assim ocorre, é logo vencida por imatura e falta de consistênica. A revolução acontece quando as condições da realidade estão objetivamente maduras e simultaneamente existe nos grupos humanos a vontade subjetiva de querê-la. Então ela irrompe com chance, nem sempre garantida, de vencer e se consolidar.
Atualmente teríamos todas as condições objetivas para uma revolução. Revolução é aqui tomada no seu sentido clássico como a mudança dos fins gerais de uma sociedade que cria os meios adequados para alcançá-los, o que implica a mudança nas estruturas sociais, jurídicas, econômicas e espirituais desta sociedade.
Atualmente a degradação geral em quase todos os âmbitos, especialmente na infra-estrutura natural que sustenta a vida é tão profunda que, em si, se necessitaria de uma radical revolução. Do contrário, podemos chegar tarde demais e assistir a catástrofes ecológico-sociais de magnitude nunca antes vividas pela história humana.
As duas grandes guerras mundiais, a de 1914 e a de 1939, e as que se seguiram após, vitimando cerca de 200 milhões pessoas, pulverizaram esse otimismo. Hoje ninguém nos pode dizer em que direção caminhamos: nem os sábios e santos Dalai Lama e o Papa Francisco. Mas os eventos se sucedem com toda a sua ambiguidade, alguns esperançadores, outros amedrontadores.
Filio-me à tradição judaico-cristã que afirma: a história só pode ser pensada partir de dois princípios: o da negação do negativo e o do cumprimento das promessas. A negação do negativo quer dizer: o criminoso não vai triunfar sobre a vítima. O peso do negativo da história não detém o sentido definitivo. Pelo contrário, o Criador “enxugará toda lágrima dos olhos, a morte não existirá mais nem haverá luto nem pranto, nem fadiga, porque tudo isso já passou”(Apocalipse 21,4).
O princípio do cumprimento das promessas sustenta:”eis que renovo todas as coisas; haverá um novo céu e uma nova terra; Deus morará entre nós e todos os povos serão povos de Deus”(Apocalipse 21, 5; 1 e 3). É a esperança imorredoura da tradição bíblica que não desaparecia nem quando judeus eram levados às câmaras nazistas de extermínio.
Com referência à situação atual reporto-me a uma frase de Walter Benjamin, citada por um seu estudioso franco-brasileiro, Michael Löwy:”Marx havia dito que as revoluções são a locomotiva da história mundial. Mas talvez as coisas se apresentem de maneira completamente diferente. É possível que as revoluções sejam o ato, pela humanidade que viaja nesse trem, de puxar os freios de emergência”(Waler Benjamin:aviso de incêncio, Boitempo 2005, p. 93-94). Nosso tempo é de puxar os freios antes que o trem se arrebente no fim da linha.
* Leonardo Boff é filósofo, teólogo, escritor e comissionado da Carta da Terra.
** Publicado originalmente no site Mercado Ético.