Hora de mudar, mas sem perder a alma
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Por Aldem Bourscheit, para o VI CBJA –
São Paulo (SP) – Co-fundador da Associação de Repórteres de Ciência e Ambiente (Arca) e há 26 anos atuando no diário Público, de Portugal, o jornalista Ricardo Garcia avalia que as novas tecnologias estão proporcionando novas práticas, trazendo novos resultados, reduzindo custos e ampliando a dimensão de inúmeras pautas. “A tecnologia é hoje o principal driver de mudanças do Jornalismo, pois possibilita a exploração de diferentes formatos e linguagens para a veiculação de informações, como multimídia, cruzamento de dados e infografias”, disse durante sua apresentação no 6º Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental, na capital paulista.
Como cada vez mais pessoas se valem de equipamentos como celulares e tablets para acessarem notícias e outras fontes de informação – no Brasil 40% das notícias são hoje acessadas pela ponte do Facebook -, é preciso reconhecer e se ajustar a essas realidades para ampliar o alcance e a leitura do que se produz e se veicula. “As notícias têm que ir aonde as pessoas estão, não mais ao contrário”, contou Garcia. Também é necessário buscarbandeiras para se destacar em meio ao tsunami de novidades de rápida digestão que flui pelos meios digitais. “É difícil vender temas complexos, como as mudanças climáticas. Mas usar formatos ou temas sexys, como meteorologia, pode servir de ponte para pautas mais relevantes”, contou o jornalista.
Exemplo prático dessas possibilidades se encontra nos jornais A Tribuna e Expresso Popular, de Santos (SP), que têm veiculado reportagens no formato de fotonovelas (confira aqui) e trocado informações com leitores via WhatsAPP.
Todavia, frente à necessária busca pela audiência e em meio ao mar de possibilidades e descobertas do mundo digital, não se pode driblar o senso de apuração, de se checar e de apurar os dados para levar aos leitores ou internautas a informação de melhor qualidade. “A padronização de notícias é recorrente, inclusive no Jornalismo Ambiental. Fugir da veiculação de conteúdo viral (notícias replicadas massivamente por meios digitais) é difícil, mas aprofundar conteúdos mais relevantes é possível e necessário. Um novo que não incorpore o tradicional não faz sentido. As bases do Jornalismo não podem ser esquecidas”, ressaltou Garcia.
Em Green Ink (Tinta Verde), um dos papas do Jornalismo Ambiental, o norte americano Michal Frome, ressalta que o papel do jornalista é “iluminar as questões importantes de uma forma que permita aos cidadãos participar inteligentemente do processo democrático”. Nesse sentido, associar as novas tecnologias ao que a tradição do bom Jornalismo trouxe de melhor pode ser o espírito da coisa. “Mas curiosidade e um bloquinho de notas ainda fazem toda a diferença”, lembrou a jornalista Amelia Gonzalez, colunista do G1. (#Envolverde)
* Aldem Bourscheit é jornalista formado pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos/RS) e especializado em Meio Ambiente, Economia e Sociedade pela Faculdade Latino Americana de Ciências Sociais (Flacso/Argentina). Tem 15 anos de atuação em jornais, rádios, governos, ONGs e setor privado, cobrindo temas Socioambientais, Agropecuária e Ciência. Experiência em desenho e aplicação de planejamento estratégico, análise de políticas públicas e setoriais em ambientes nacional e internacional. Coordenou a Comunicação do Programa Cerrado-Pantanal e atuou em Políticas Públicas junto ao WWF-Brasil.




