Nova York, Estados Unidos, 14/11/2011 – Pelo menos 587 civis foram assassinados entre meados de abril e agosto pelas forças do governo da Síria na localidade de Homs, informou no dia 11 a organização Human Rights Watch (HRW). Trata-se do maior número de mortos para uma única localidade nesse país do Oriente Médio. As violações cometidas pelas forças de segurança sírias incluem torturas e execuções extrajudiciais, e constituem crimes contra a humanidade, afirmou a HRW.
O informe “Vivemos como na guerra: repressão a manifestantes na localidade de Homs” se baseia em mais de 110 entrevistas com vítimas e testemunhas. Homs se converteu no lugar mais conflitivo da Síria desde que começaram os protestos contra o governo de Bashar al Assad, em meados de março. Peggy Hicks, diretora de campanhas globais da HRW, disse à IPS que a violência em Homs inclusive ficou mais grave depois do período investigado, que foi de abril a agosto.
A organização informou que outras 104 pessoas em Homs morreram no dia 2 deste mês, quando o governo sírio acertou com a Liga Árabe uma iniciativa para uma solução política para a crise. Segundo informou Hicks à IPS, a principal mensagem do informe é “destacar que Homs é uma amostra do problema geral. Esta situação não será resolvida enquanto não houver um substancial aumento do compromisso dos países da Liga Árabe e do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) em particular”.
Milhares de pessoas foram vítimas de prisões, desaparecimentos forçados e torturas sistemáticas em Homs, segundo a HRW. Embora a maioria tenha sido libertada várias semanas depois, centenas ainda permanecem desaparecidas. Entre os detidos há jovens, meninos, meninas, mulheres e idosos. A HRW documentou dezenas de incidentes nos quais as forças de segurança e as milícias apoiadas pelo governo atacaram violentamente e dispersaram manifestantes pacíficos.
As autoridades sírias disseram que a violência em Homs é promovida por grupos terroristas e incitada do exterior. A IPS tentou entrar em contato com o embaixador da Síria na ONU, mas não teve resposta. O abuso e os assassinatos também se propagaram para outras cidades, como Tal Kalakh e Talbiseh. A HRW admitiu que também deveriam ser investigados casos de violência cometida por manifestantes, entretanto, explicou que esses incidentes não justificavam o desproporcional e sistemático uso da força letal por parte do governo.
Ex-presos que falaram com investigadores da HRW disseram que foram torturados com choques elétricos e metais quentes, e obrigados a permanecer em posições incômodas durante horas e até dias. “Tive os olhos vendados, mas podia ouvir as pessoas à minha volta gritando e implorando por água. Pude ouvir o som de descargas elétricas e os interrogadores ordenando que pendurassem as pessoas pelas mãos”, contou um ex-preso.
A HRW declarou que o caso da Síria deveria ser enviado ao Tribunal Penal Internacional, com sede em Haia, e exortou a Liga Árabe a suspender o status de membro desse país e impor um embargo e sanções a indivíduos responsáveis pelas violações dos direitos humanos. “Homs é um microcosmo da brutalidade do governo sírio”, disse Sarah Leah Whitson, diretora da HRW para o Oriente Médio. “A Liga Árabe precisa dizer ao presidente Assad que violar seus acordos tem consequências, e que agora apoia uma ação do Conselho de Segurança para acabar com a carnificina”, acrescentou.
Hicks destacou à IPS que a organização também pede uma presença internacional no terreno para que os civis possam denunciar a violência. “A Síria disse que permitiria a entrada de observadores da Liga Árabe, e, se isso ocorrer, será um passo importante, que dever ser dado de forma urgente, com pessoas suficientes e recursos para fazer uma diferença no terreno”, acrescentou. Envolverde/IPS