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Ibas busca incidir em diplomacia mundial

Nova York, Estados Unidos, 12/8/2011 – Nada parece deter a repressão na Síria, cujo regime ignorou os apelos do secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, desafiou seu Conselho de Segurança, rechaçou pedidos da Turquia e do mundo árabe e ignorou ameaças e sanções de potências ocidentais. Contudo, poderá com Índia, Brasil e África do Sul? Estes três países do Sul, que formam a coalizão Ibas, são poderosos atores econômicos e, agora, também membros não permanentes do Conselho de Segurança da ONU, integrado por 15 Estados. E sua maior aspiração é alcançar o status de permanentes.

“Surge uma nova era em matéria de política internacional”, disse James A. Paul, diretor executivo da organização Global Policy Forum, de Nova York, que acompanha de perto os acontecimentos no Conselho de Segurança e, em geral, nas Nações Unidas. A iniciativa dos governos de Índia, Brasil e África do Sul de enviar a Damasco uma delegação de três membros para ajudar a relaxar a tensão política é extremamente importante, afirmou. “Os três são membros do Conselho e se opõem a uma ação militar contra a Síria, como a que sofre a Líbia”, disse Paul à IPS. “Consideram que a ação nesse país, promovida por Estados Unidos, Grã-Bretanha e França dentro do Conselho de Segurança, teve resultados desastrosos”, acrescentou.

O Ibas procura fazer todo o possível para promover uma solução pacífica do conflito sírio e deter a violenta repressão do governo de Bashar Al Assad contra manifestantes desarmados que pedem formas democráticas, afirmou Paul. Mas as organizações de direitos humanos não estão de acordo. “Estamos decepcionados com a declaração da delegação do Ibas que visitou a Síria” na semana passada, disse Peggy Hicks, diretora da Human Rights Watch. “Reconhecemos que em particular as conversações possam ter sido mais francas, mas os três países deveriam fazer mais do que repetir as mesmas explicações dadas pelo governo de Al Assad”, afirmou.

“Se a delegação tivesse deixado Damasco, visitado as cidades sitiadas pelas forças sírias ou algum dos vários centros onde os opositores estão presos, teria observado em primeira mão que as forças sírias são responsáveis pela morte e destruição ocorridas nos últimos meses”, disse Hicks. “É hora de falar em sanções, embargo de armas e comissões investigadoras”, acrescentou. A visita de representantes do Ibas a Damasco aumentou a pressão sobre o regime de Al Assad para que atue de forma responsável, afirmou Paul. “Vemos a emergência de uma diplomacia internacional flexível, inovadora e contrária a uma maciça e poderosa intervenção militar”, acrescentou. Segundo Paul, a Turquia está envolvida no processo e, diante do surgimento de novas potências, “podemos esperar mais iniciativas semelhantes, especialmente desses três países”.

Na qualidade de membros não permanentes, ocupam um assento no Conselho de Segurança por dois anos. Mas nos últimos tempos vêm realizando ações políticas coletivas em diferentes temas da agenda desse órgão. Este mês, a Índia está à frente da presidência rotativa do Conselho, o que dá ao Ibas e a Nova Délhi uma influência maior. Os três países estão “muito preocupados com a situação atual na Síria e condenam a violência de todas as partes”, disse a delegação do Ibas ao presidente da Síria. “Lamentam a perda de vidas humanas e estão preocupados com o aspecto humanitário” da repressão. Também pedem o “fim imediato da violência e urgente respeito por todas as partes envolvidas pelos direitos humanos e pela legislação humanitária internacional”, acrescentou a delegação.

O presidente sírio teria garantido aos membros do Ibas seu compromisso de promover uma reforma para uma democracia multipartidária, incluída a revisão da Constituição vigente. Está previsto que a emenda constitucional esteja terminada em fevereiro ou março do próximo ano. O mandatário também “reconheceu que as forças de segurança cometeram alguns erros nas primeiras etapas dos protestos e que faziam esforços para evitá-los”, diz um comunicado divulgado pelo Ibas. Além disso, a presidência do Conselho de Segurança condenou “as violações de direitos humanos generalizadas e o uso da força contra civis por parte das autoridades sírias”, em uma declaração divulgada no começo deste mês com aprovação dos três países. E também reafirmou “o forte compromisso com a soberania, a independência e a integridade territorial da Síria”.

A agitação política na Síria, que começou em março, já custou a vida de mais de duas mil pessoas, entre civis e membros das forças de segurança. A Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Navi Pillay, pediu o fim do “banho de sangue e da brutalidade” exercida pelas autoridades sírias. O Ibas, criado em junho de 2003, é um “mecanismo de coordenação entre três países emergentes democráticos, multiétnicos e multiculturais, decididos a contribuir com a construção de uma nova arquitetura internacional para juntarem suas vozes em assuntos globais e aprofundar seus vínculos em várias áreas”. Entretanto, seu interesse principal é a cooperação e a associação com os países menos adiantados e em desenvolvimento em matéria social e econômica. Envolverde/IPS