
A inovação frugal está sendo superestimada? As empresas ocidentais podem ficar tranquilas?
O Tata Nano, o carro mais barato do mundo, tornou-se um símbolo antes mesmo da inauguração de sua primeira linha de montagem em 2009. O grupo Tata, o conglomerado indiano de maior renome mundial, o anunciou como o primeiro passo de uma revolução. Inovações frugais permitiriam que bens de consumo, dos quais um carro de US$ 2 mil é apenas um aperitivo, ficassem ao alcance de indianos e chineses comuns. Engenheiros asiáticos recriariam produtos ocidentais despidos de todos os supérfluos. A economia de custos seria tão imensa a ponto de espalhar essas ideias frugais pelo mundo todo. O Nano anunciaria a chegada da Índia do mesmo jeito que a Toyota outrora anunciara a ascensão do Japão.
Todavia, o miraculoso carro foi prejudicado por problemas desde o início de sua produção. Protestos de fazendeiros forçaram a Tata Motors a mudar a unidade de produção de lugar repetidas vezes. As vendas iniciais não pegaram fogo, mas alguns carros sim, literalmente. Consumidores rurais não demonstraram entusiasmo em trocar seus caminhões por carros. A falha do Nano em cumprir suas promessas levanta uma questão mais vultosa. A inovação frugal está sendo superestimada? As empresas ocidentais podem ficar tranquilas?
Dois novos livros – Reverse Innovation de Vijay Govindarajan e Chris Trimble, e Jugaad Innovation de Navi Radjou, Jaideep Prabhu e Simone Ahua – sugerem que a resposta para ambas as perguntas é “não”. Govindarajan, da Tuck Business School do Dartmouth College, aconselha a General Electric em assuntos relacionados à inovação frugal e escreveu um estudo inovador na mesma área em parceria com o chefe da GE, Jeff Immelt. Jugaad Innovation é o livro mais completo sobre o assunto publicado até agora (jugaad é uma palavra em hindi que quer dizer “improvisação inteligente”). O livro mostra que a inovação frugal está desabrochando por todo o mundo emergente, apesar da dificuldade dos gurus da administração em concordar num termo para descrever o fenômeno. Eles também argumentam convincentemente que tal tipo de inovação implicará mudanças para os países ricos também. As multinacionais estão começando a abraçar ideias desenvolvidas no (e para) o mundo emergente, para produzi-las no ocidente. Esta tendência certamente se acelerará. Os indianos venceram. O Tata Nano pode não ter mudado o mundo, mas a inovação frugal o fará.
* Publicado originalmente no site Opinião e Notícia.