A Amazônia pode ser definida por suas características marcantes. Além de abrigar tribos indígenas, que colaboram para a construção da identidade da floresta, ela possui a maior riqueza natural e diversidade biológica do mundo. A região é caracterizada também por grandes transformações culturais, econômicas e principalmente ambientais devido ao desmatamento desenfreado provocado pela irresponsabilidade do homem.
Embora os pesquisadores saibam que é muito difícil estudar a Amazônia como um todo, eles se reúnem a cada ano para realizar estudos científicos a fim de compreender mais o universo amazônico. No entanto, muitas dessas pesquisas, que fazem parte da história do levantamento de informação sobre a região, ficam restritas a arquivos de empresas, universidades, agências, ou até integram os acervos particulares de pesquisadores.
O programa “Amazônia em Transformação: História e Perspectivas”, foi lançado em 2009 pelo Instituto de Pesquisas Avançadas da Universidade de São Paulo (IEA/USP), com o objetivo de aglutinar as informações não publicadas sobre a floresta nos últimos 40 anos e, a partir disso, analisá-las para verificar sua relevância e torná-las acessíveis.
Segundo o engenheiro agrônomo e diretor executivo do Programa do IEA/USP, Warwick Manfrinato, a missão do programa é bem específica: “não vamos gerar nova informação, mas vamos pegar as que já existem e dar um aspecto de validação para saber se é uma ciência que deverá estar, ou não, nas nossas prateleiras. Queremos pegar aquela informação que já existe e trazê-la para o conhecimento de todos”.
A literatura cinza, informações novas, é uma ciência produzida por alguém, mas que não foi validada por um grupo de revisores. Para o pesquisador, abordá-las é o maior diferencial do projeto. “Do ponto de vista acadêmico, uma das principais coisas é a gente trabalhar com essa literatura da Amazônia, porque não existe no Brasil uma instituição que valide a literatura cinza. Tem muitos pesquisadores gerando informação, coletando dados, fazendo relatório, mas que não vai parar em uma revista científica”, enfatiza.
Não somente o levantamento de informações, relatórios e estudos integram a dinâmica do projeto, como também a coletânea de um material mais vasto, composto por mapas, filmes e fotografias. Segundo o engenheiro agrônomo, todo material resgatado ajudará nas pesquisas atuais e futuras e servirá para o planejamento de políticas públicas.
O projeto “Amazônia em Transformação: História e Perspectivas” já recebeu um investimento de mais de R$ 300 mil do Programa de Infraestrutura da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) para gastos com digitalização e disponibilização desse acervo na internet, e para a aquisição de equipamentos necessários para o trabalho de validação das pesquisas. Além da ajuda financeira, o programa conta com a participação de diversas instituições acadêmicas, organizações não governamentais, além de órgãos públicos, como por exemplo o Instituto Socioambiental (ISA) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
* Michelle Magri é estudante de jornalismo e participou do projeto “Descobrir a Amazônia, Descobrir-se Repórter“, da Oboré.