Arquivo

Ilhas do Pacífico vencem a baixa conectividade com a internet

Sydney, Austrália, 25/2/2013 – As ilhas do Pacífico têm uma das menores penetrações de internet do mundo, mas moradores das cidades com conhecimentos tecnológicos promovem o surgimento de várias redes sociais dedicadas a gerar debate público e cobrar responsabilidade do governo. Porém, estes fóruns da internet ficarão limitados em sua capacidade de se refletir nas reformas políticas e sociais da região se não houver uma ação real. 

Em Vanuatu, onde apenas 7,4% da população de 260,5 mil habitantes tem acesso à internet e 3,7% usam Facebook, a Youth Against Corruption Vanuatu (YACV – Juventude contra a corrupção em Vanuatu) se converteu no primeiro grupo de discussão virtual a evoluir até ser uma organização “real” em 2011. Agora conta com mais de 700 membros.

“Começou como um grupo de debate entre uma rede de pessoas que utilizavam correio eletrônico e redes sociais para discutir sobre a corrupção em Vanuatu, e sobre quais medidas os jovens podiam tomar para combatê-la”, contou à IPS sua presidente, Linda Rokrok. “Mas ficou claro que os membros do grupo na internet devem agir, em lugar de apenas falar sobre estes assuntos”, acrescentou.

A YACV realiza atividades anticorrupção para jovens, grupos socialmente marginalizados e comunidades rurais, e enviou uma petição ao governo de Vanuatu pressionando para que sejam implementadas obrigações no contexto da Convenção das Nações Unidas Contra a Corrupção. O Grupo de Teatro Contra a Corrupção Eleitoral, liderado por jovens da YACV, atuou em comunidades urbanas e rurais antes das eleições gerais de outubro do ano passado.

Rokork disse que no país há grupos contra a corrupção independentemente da internet, mas que o uso das redes sociais “definitivamente amplificou o alcance e a propagação do apoio à YACV, além de assentar as bases da organização”. Contudo, ainda resta uma brecha digital nas ilhas do Pacífico, onde dez milhões de pessoas habitam um terço do planeta em comunidades insulares separadas por vastas distâncias oceânicas.

Embora 52% da população da Polinésia francesa e 27,8% da de Fiji estejam na internet, estas proporções caem para 9,9% em Kiribati, 5,9% nas Ilhas Salomão e 2,1% em Papua Nova Guiné. Apesar de sua crescente popularidade, o Facebook é usado apenas por 21% dos moradores de Fiji, 9,89% dos habitantes de Samoa e 1,87% dos que habitam Papua Nova Guiné.

Em contraste, os telefones celulares se tornaram onipresentes em áreas rurais e urbanas, com a queda nos custos devido à reforma no setor das telecomunicações e de uma maior competição de mercado. A internet móvel também está disponível nas Ilhas Cook, Fiji, Papua Nova Guiné, Samoa, Tonga e Vanuatu. No entanto, um estudo do Instituto de Políticas Públicas do Pacífico (PIPP) revela que 95,5% dos lares de Vanuatu possuem um telefone celular, mas que 72% dos consultados nunca utilizaram a internet.

Muitas nações insulares do Pacífico trabalham para se conectar a cabos submarinos de fibra ótica, mas o custo dos serviços de tecnologias para a informação e a comunicação na região é muito maior do que em países industrializados vizinhos. Em Papua Nova Guiné, o analista político Deni ToKunai, conhecido como Tavurvur, mantém seu próprio blog, The Garamut, e disse à IPS que “os celulares permitem acessar a internet, derrubando, em boa parte, barreiras que por muito tempo impediram este acesso por parte da maioria da população, que não vive em áreas urbanas”.

No entanto, “o maior obstáculo é o custo para comprar créditos (da internet) a partir de rendas já limitadas”, destacou Tavurvur. Uma conexão limitada à internet pode equivaler a 12,1% da renda média em Papua Nova Guiné, e a 9,5% em Vanuatu, mas isto sobe para 85,5% da renda mensal média nas Ilhas Salomão e 150,9% em Papua Nova Guiné.

Para Tavurvur, não há ponto de comparação entre o alcance que têm internet e rádio em seu país, onde este último “deve ser o meio mais popular”. Porém, os meios digitais permitem se expressar e colaborar de um modo que, segundo o PIPP, se assemelha às “assembleias de aldeia” e são aproveitados por pessoas cujas vidas estão assoladas pela corrupção, por falta de serviços básicos, desemprego, vulnerabilidade a altos índices de crime e violência.

Nos últimos tempos, um debate em um grupo do Facebook de Papua Nova Guiné (Sharp Talk Papua Nova Guiné) com 9,5 mil integrantes abordou o mau manejo dos fundos públicos, o estado dos hospitais e o serviço médico, o sequestro e a violação de mulheres, entre outros assuntos. Em Vanuatu, o fórum da internet Yumi Toktok Stret, com dez mil membros, também promove o debate público.

Porém, será que aqueles que estão no poder estão pendentes dos debates digitais? Com algumas exceções, que incluem os governos de Kiribati e Fiji, a maioria dos líderes da região ainda não usa internet de um modo dinâmico que lhes permita dialogar com a oposição.Segundo o PIPP, “os líderes da região estão notoriamente ausentes, mas o debate online continua sem eles”.

Derek Brien, diretor-executivo do PIPP, disse à IPS que os debates na internet “podem ter sucesso se os meios sociais se vincularem a formas mais tradicionais de desenvolvimento de políticas”, mas atualmente “o impacto político destes debates é limitado”. Para Tavurvur, “a participação nas comunidades das mídias sociais em Papua Nova Guiné é um passo em um processo que pode, ou não, levar à ação física. Tudo isto depende da motivação humana para agir de modo decisivo. Porém, os meios sociais são frequentemente um catalisador”.

Tarvurvur recordou os fatos de novembro de 2011, quando seu país se viu em meio a uma luta política pelo poder entre o Partido da Aliança Nacional, de Michael Somare, e o Congresso Nacional do Povo, de Peter O’Neill. “As mídias sociais foram a forma pela qual muitos cidadãos expressaram suas preocupações e frustrações diante do impasse. Isto levou à criação de uma aliança de organizações não governamentais, de grupos da sociedade civil e de estudantes universitários em todo o país que adotaram uma posição em nome do que chamavam “a maioria silenciosa”, afirmou. Envolverde/IPS