Desde 2008, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) vê a possibilidade de incluir insetos na dieta humana. A ideia tem a participação do entomologista (estudioso de insetos) Arnold Van Huis, da Universidade de Wageningen, na Holanda. Esta inclusão, além de benéfica para a saúde, também ajuda no combate ao efeito estufa.
Nos últimos anos, o consumo de carne, que era de 20 quilos por ano, cresceu para 50 quilos, e em 20 anos a perspectiva é de que cada pessoa coma 80 quilos de carne por ano. Devido a esse aumento, a Organização das Nações Unidas recomendou que todas as pessoas passem, pelo menos, um dia por semana sem consumir carne e que diminuam ainda mais ao longo do tempo, para que dessa forma possam controlar as mudanças climáticas.
A entomofagia, que é a prática de comer insetos, ainda não é permitida no Brasil, mas estudos comprovam a importância nutricional dos insetos. Um grupo de cientistas, trabalhando com a agência espacial japonesa, pesquisou o bicho da seda e os cupins, e descobriram que eles seriam fonte de uma dieta rica em gorduras e aminoácidos.
Mais de mil tipos de insetos já fazem parte do cardápio de 80% dos países, principalmente na porção oriental do globo, e são mais populares nas regiões tropicais, onde ficam maiores e são mais fáceis de serem capturados.
Frank Franklin, professor e diretor de nutrição pediátrica da Universidade do Alabama, nos Estado Unidos, afirma que baixas calorias e poucas proteínas são as principais causas de morte em crianças e que a proteína dos insetos poderia ser uma solução mais barata se processada em uma forma semelhante a uma pasta de amendoim, para aqueles que sofrem dessa má nutrição.
A população do Laos (país asiático) sofre com deficiência de cálcio e uma proposta de se construir uma grande indústria leiteira no país foi colocada em questão, mas por saberem que a maior parte dos asiáticos tem intolerância à lactose, essa proposta não pôde ser realizada.
Considerando então que grilos e gafanhotos são ricos em cálcio e que 90% da população do Laos já comeu insetos em algum momento, o órgão das Nações Unidas vem desenvolvendo um projeto de criação de insetos, que aproveita os conhecimentos de 15 mil agricultores familiares que cultivam gafanhotos na Tailândia, um país vizinho. Está aí uma boa solução para a saúde dessa população.
Em grande parte do mundo, comer insetos não é estranho. No sul da África, as lagartas Mopani são salgadinhos populares, já os japoneses preferem as larvas de insetos aquáticos, e no México, as pessoas comem gafanhotos.
Diminuição dos gases do efeito estufa
De acordo com as pesquisas do entomologista Van Huis, as fazendas de insetos produzem uma quantidade muito menor de gases de efeito estufa se comparadas à pecuária. Ele afirma que os insetos produzem 300 vezes menos óxido nitroso (que também tem efeito estufa) e muito menos amônia, que é tão comum nas criações de porcos e aves.
As fazendas de insetos poderiam ainda gerar renda para comunidades carentes e proteger as florestas, pois além de elas serem o habitat de várias espécies, não precisariam ser destruídas pelo avanço das pastagens.
Legalização da entomofagia
No Brasil ainda não é permitido a prática da entomofagia. Por esse motivo o empresário mineiro Luiz Otávio Pôssas Gonçalves, dono de uma companhia que cria e comercializa insetos, pediu ao Ministério da Agricultura o reconhecimento do seu negócio como um “estabelecimento produtor de insetos para consumo humano”.
Esse pedido acabou abrindo espaço para a legalização da entomofagia no Brasil. O Ministério da Agricultura pediu indicação bibliográfica ao empresário, alegando que se trata de um tema polêmico, mas que será discutido, pois representa oportunidade real de se combater o aquecimento global no Brasil e no mundo.
Dados da FAO, que também está discutindo a possibilidade de incluir insetos na dieta humana, mostram que cerca de 80% dos países possuem insetos em seu cardápio e 23 dessas nações ficam no continente americano.
Caso a proposta de Gonçalves seja aceita, podemos ter um cardápio recheado de insetos. E dessa forma estaremos contribuindo com o combate ao aquecimento global.
* Publicado originalmente pelo EcoD e retirado do site Mercado Ético.