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A incrível relação entre selfies e objetivos de desenvolvimento sustentável

Adolescente navega pela internet em um cibercafé de Nairóbi no Quênia. Foto: David Njagi/IPS
Adolescente navega pela internet em um cibercafé de Nairóbi no Quênia. Foto: David Njagi/IPS

 

Washington, Estados Unidos, 21/7/2014 – “Minha prima era uma excelente aluna. Terminou o secundário com ótimas notas e se matriculou na universidade. Mas seus pais a obrigaram a abandonar os estudos e queimaram todos seus livros e outros materiais. Então, ela colocou fogo em seu corpo”. Assim, macabro como o desenlace particular dessa história, no Iraque é comum esse tipo de relato, de mulheres jovens que pretendem estudar e encontram resistência nas gerações mais velhas.

A organização internacional Amar U.S., que promove a construção de paz, lançou a campanha digital Stop-GBV (sigla em inglês de “não à violência de gênero”) que permite que mulheres que foram testemunhas ou sofreram violações de direitos humanos compartilhem suas histórias por meio das plataformas digitais.

Chritopher Kyriacou, diretor-executivo da Amar U.S., afirmou que as redes sociais permitiram que esta iniciativa “florescesse”, bem como conseguisse uma notória participação de jovens em sua página no Facebook. “Muitas estudantes assumem a responsabilidade de buscar e investigar casos de violência de gênero e discriminação e escolhem temas para discutir em classe”, ressaltou.

A página do Facebook permite que as estudantes “publiquem imagens e textos relacionados com a violência de gênero e participem da difusão desses temas”, explicou Kyriacou. O diálogo digital da Amar é apenas uma das instâncias nas quais a presença da tecnologia se expandiu para regiões do mundo historicamente sem voz.

Segundo a infografia feita em 2013 pela Squared Online, uma organização de marketing digital da Grã-Bretanha, se prevê que a quantidade de usuários de redes sociais no Oriente Médio e norte da África aumentará 191% entre 2011 e 2017. O estudo também mostra como essa região lidera a lista de usuários ativos no Twitter e a quantidade de contas registradas no Youtube.

Essa tendência levou muitas organizações internacionais de desenvolvimento a aproveitar a expansão da tecnologia e das redes sociais em iniciativas de educação, saúde pública e direitos humanos em que trabalham. A comunidade internacional reconhece cada vez mais a importância das ferramentas digitais e inovadoras para envolver a vasta população na faixa dos 15 aos 35 anos em sua agenda democrática. Este ano o lema do Dia Mundial da População, celebrado no dia 11 deste mês, foi “investir nos jovens”.

O diretor-executivo do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), Babatunde Osotimehin, disse que, se os jovens se “capacitarem e estiverem informados poderão contribuir mais plenamente com suas comunidades e nações”. Com esse objetivo no horizonte, Osotimehin se mostrou entusiasmado com as possibilidades da tecnologia para dar voz aos jovens, e considerou que “não é ético” que tão vasto setor da população fique à margem do processo democrático.

“Acreditamos que as possibilidades da tecnologia são enormes e por isso vemos uma urgente necessidade de trabalhar com eles nesse setor”, disse Osotimehin à IPS. “Vemos pessoas que ainda não vão à escola, mas portam um telefone inteligente. Em 1999, a Nigéria tinha apenas 400 mil telefones fixos, enquanto agora tem mais de cem milhões de celulares”, ressaltou.

Para aproveitar a penetração da tecnologia em escala global e devido ao seu interesse na juventude, o UNFPA lançou uma “campanha de selfies”, incentivando os jovens de todo o mundo a enviar suas fotografias para as redes sociais usando #SPD 2014 (siglas em inglês do Dia Mundial da População 2014). O significado simbólico da iniciativa, que vai até setembro, é dar aos jovens um papel central no desenho da agenda da Organização das Nações Unidas (ONU) posterior a 2015, quando serão estabelecidos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

“Quando se está longe de reuniões globais como a Assembleia Geral da ONU, nas quais seus governos participam enquanto Estados membros, seu selfie diz que querem estar na fotografia da futura agenda de desenvolvimento”, explicou Laurent Zessler, representante do UNFPA que lançou a campanha em Fiji.

Além de oferecer um meio para que este particular setor da população compartilhe suas histórias e defenda seu papel nas futuras decisões da ONU, a tecnologia também facilita maior e mais rapidamente transmissão de informação que lhes é útil. Um exemplo perfeito dessa estratégia da organização Text to Change (TTC), que se descreve como uma empresa social que “envia e recebe informação por meio da telefonia móvel nos países emergentes”.

Josette de Vroeg, diretora de comunicações dessa organização, com sede na Holanda, disse que o TTC foi criado com a premissa de que “cada cidadão do mundo deve ter acesso à informação, independente de ser rico ou pobre”.

“Emviamos aos participantes uma mensagem personalizada e adequada no momento certo, oferecendo informação crucial quando mais precisa”, explicou de Vroeg à IPS. “O principal objetivo é reduzir a mortalidade materna e infantil”, acrescentou, se referindo à particular efetividade demonstrada pela TTC em oferecer importante informação sobre saúde a jovens grávidas na Tanzânia.

De Vroeg destacou que, com ajuda de sócios como o Centro para a Prevenção e o Controle de Enfermidades, dos Estados Unidos, e do Ministério da Saúde da Tanzânia, foram enviados mais de 30 milhões de mensagens de texto gratuitos e participaram 500 mulheres. Com presença atual em 16 países, De Vroeg disse que a TTC neste momento realiza a “maior campanha interativa de SMS”.

“Da população africana, 80% dispõem de telefone celular. Por isso, é o meio mais importante para realizar conexões. A TTC conecta as organizações com seus grupos de interesse e de difícil acesso via móvel”, acrescentou.

Perguntada sobre qual a resposta das populações alvo de uma campanha tão inovadora, De Vroeg disse que as reações foram mais do que positivas. Os beneficiários da TTC disseram que as mensagens de texto os ajudaram a fazer negócios, aprender sobre HIV (vírus causador da aids) e a melhorar sua auto-estima. Envolverde/IPS