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Índia torce por Brasil e África do Sul

Seleção de Criquete da Índia.

Kolkata, Índia, 27/5/2011 – A Índia sempre torceu pelo Brasil no futebol e agora torcerá pela África do Sul em críquete, pelo fato de o treinador sul-africano Gary Kirsten ter dirigido o selecionado local que este ano ganhou pela primeira vez em 28 anos a copa mundial. Kirsten regressou ao seu país após o torneio e depois de uma difícil separação de seus torcedores e companheiros indianos. “Foi uma das piores despedidas”, afirmou antes de partir. O que Kirsten deu ao críquete indiano e à sua equipe é incomparável, disse Kiran More, ex-jogador e chefe de seleções nacionais.

“Ele pôde fazer isso porque compreendeu a cultura do país”, acrescentou More. “Há muitos indianos vivendo na África do Sul. Ele conhecia nossa cultura e fez um trabalho maravilhoso, e ganhou o respeito dos indianos”, disse o ex-jogador. “Kirsten tem seu próprio estilo de funcionamento e foi louvável a forma como lidou com os jogadores mais experientes”, acrescentou More. Kirsten fez com que a África do Sul concentrasse sua adulação no críquete, considerado quase como uma religião na África do Sul, país que dividirá o pódio com o Brasil, por quem os indianos torcem quando se trata de futebol.

Durante a Copa do Mundo da Fifa, a paixão pelo futebol ficou tão forte como quando se enfrentam fanáticos de Bengala Ocidental e Mohun Bagan, dois clubes rivais. Mas o Brasil une as pessoas. As cores da equipe de futebol da cidade de Kolkata, capital de Bengala Ocidental, são verde e amarelo. Deixando a histeria gerada pelo argentino Diego Maradona, os fanáticos deste Estado de 90 milhões de habitantes vivem, bebem e sonham com o Brasil durante o campeonato mundial.

Caminhar pelas ruas de Kolkata durante uma Copa do Mundo é como passear pelo Rio de Janeiro, pois os muros estão pintados de verde a amarelo e com as estrelas que representam os campeonatos conquistados pelos brasileiros. Quando o Brasil joga, os jovens pintam o rosto com as cores características, mergulhados na febre do samba. A visita de Pelé, em 1977, ainda está gravada na memória dos habitantes de Kolkata. O técnico Parreria, em 2006 foi treinador da equipe de Bengala Oriental, e seu compatriota Djair Miranda Garcia é preparador físico do Chirag United Sports Club.

Mas a Índia quer mais, e solicitou formalmente ao Brasil o envio de treinadores para promover o futebol local. Quando o chanceler Antônio Patriota se reuniu em março, em Nova Délhi, com seu colega indiano, S. M. Krishna, este lhe comunicou o interesse de seu país em matéria de futebol. “Os ministros reiteraram a necessidade de melhorar a cooperação esportiva por meio do memorando de entendimento assinado em fevereiro de 2008 entre Brasil e Índia e aplaudiram a iniciativa de realizar a década do esporte no Brasil. Também elogiaram a proposta de enviar treinadores de futebol para a Índia”, diz uma declaração conjunta dos chanceleres.

“Só os brasileiros podem melhorar o futebol indiano porque somos habilidosos e temos muitas coisas em comum”, disse o ex-jogador e comentarista Prasun Banerjee. “Nenhum outro país nos ajudará como o Brasil. Precisamos de treinadores brasileiros. Nossos hábitos alimentares são semelhantes, os habitantes de Bengala vivem de peixe e arroz, amamos genuinamente esse país”, acrescentou. Além das preferências quanto aos alimentos, os especialistas em futebol atribuem a afinidade às semelhanças físicas entre jogadores brasileiros e indianos.

Com a África do Sul existe uma afinidade cultural. Os entendidos em críquete afirmam que Kirsten conseguiu dirigir a seleção indiana graças à compreensão de sua cultura, algo que, talvez, tenha aprendido com a grande diáspora indiana que reside nesse país. O próprio Kirsten sentiu-se eufórico pelo triunfo e amor que lhe dedicaram os indianos. “Estou muito agradecido por ter feito parte desta vitória que significa tanto para a Índia. Os últimos três anos foram um privilégio para mim, pois aprendi sobre a Índia, conheci talentosos jogadores e também uma enorme quantidade de pessoas maravilhosas”, acrescentou.

Agora, não é apenas o comércio, mas também o esporte, que une Brasil, Índia e África do Sul. Envolverde/IPS