A inspeção ambiental nos veículos a diesel foi responsável por evitar a morte de 252 pessoas na cidade de São Paulo em 2010, de acordo com estudo da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) apresentado no dia 18. A pesquisa aponta também que foram evitadas 298 internações por problemas provocados pela poluição – no caso do diesel, principalmente de material particulado. A impureza do ar agrava doenças como asma e pneumonia.
“É como se a gente fumasse um pouco sem querer, cerca de dois ou três cigarros. Não é muito em comparação ao fumante, mas afeta bebês, gestantes, asmáticos”, explicou à Folha.com o médico Paulo Saldiva, coordenador do Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da Faculdade de Medicina da USP. Segundo o especialista, cerca de quatro mil pessoas morrem todos os anos em consequência da poluição do ar em São Paulo, mais do que os óbitos registrados em razão da aids e da tuberculose somados.
O relatório considerou cálculos do consultor Gabriel Branco, com base nos dados da inspeção em 2010. Os 121 mil veículos a diesel inspecionados foram responsáveis por reduzir uma quantidade de material particulado que seria produzida por 20 mil veículos. “Ou seja, é como se a inspeção tivesse ‘retirado’ da frota da cidade 20 mil veículos”, comparou Branco.
Os veículos a diesel produzem 40% do material particulado na atmosfera. Segundo especialistas, a tecnologia do diesel no Brasil é atrasada, pois um ônibus daqui polui até 15 vezes mais que os da Europa e Estados Unidos. O estudo da USP aponta que, caso toda a frota a diesel esperada pela inspeção se submetesse ao teste (240 mil veículos), teriam sido evitadas 498 mortes e 588 internações no ano passado.
“Quando o médico tem um paciente com sobrepeso, ele recomenda uma dieta. Mas, nessa área, a saúde não tem o que fazer. Você não pode recomendar para ninguém que tenha ar engarrafado, que fuja da cidade. O remédio está nas mãos de outras secretarias”, observou Saldiva.
No bolso
O estudo da USP aponta ainda que, com a redução das internações, a inspeção economizou ao sistema de saúde público e particular US$ 987,4 mil (R$ 1,6 milhão). Caso toda a frota fosse inspecionada, seriam economizados US$ 1,9 milhão (R$ 3 milhões). Para Saldiva, “é mais fácil você sensibilizar as pessoas por dinheiro do que por fila de hospital”.
“O gestor tem que ter esta informação, porque ele sabe quanto custa mudar, mas não sabe quanto custa manter”, Paulo Saldiva.
De acordo com Saldiva, o próximo estudo a ser realizado será o do impacto da inspeção nos automóveis e motos, que emitem monóxido de carbono e hidrocarbonetos.
* Publicado originalmente no site EcoD.