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Instabilidade política na Tunísia não afeta o FSM

Delegação de jovens tunisianos se dirige ao interior do país para promover o Fórum Social Mundial. Foto: Monika Prokopczuk/IPS

Túnis, Tunísia, 25/3/2013 – A poucos dias do começo do Fórum Social Mundial (FSM), a sociedade civil da Tunísia e de sua capital se prepara para receber cerca de 50 mil pessoas procedentes de todo o mundo. Ainda restam questões a serem resolvidas antes do encontro que acontecerá entre 26 e 30 deste mês, como a segurança na cidade universitária onde acontecerão as atividades do FSM, um dos maiores motivos de preocupação de organizadores e convidados.

No dia 6 de fevereiro, foi morto o dirigente esquerdista Chokri Belaid em sua residência na capital, o que gerou instabilidade política, levou à renúncia do primeiro-ministro Hamadi Jebali e motivou manifestações populares. “Recebemos e-mails todos os dias de gente preocupada pela instabilidade política”, indicou Haifa Nakib, encarregado da logística e da gestão do FSM. “Eu lhes digo, não acreditem em tudo o que aparece na televisão. A Tunísia não está em guerra e a situação é pacífica. Não há terrorismo aqui. na verdade, o governo vai garantir o local”, afirmou.

As autoridades colaboram com a organização do FSM, e inclusive enviaram uma equipe de segurança para diversos pontos ao redor do campus universitário, que os organizadores esperam que seja “discreta”. Cheima Ben Hamid, uma coordenadora voluntária, informou à IPS que também haverá segurança dentro do campus. Além disso, disse estar tranquila porque o governo “instruiu os ministérios a colaborarem com a organização do FSM o máximo possível”.

O Fórum Social Mundial representa o maior expoente dos movimentos sociais do mundo para impulsionar um desenvolvimento alternativo à globalização dominante, e suas edições anuais começaram em 2001 na cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Para esta edição, cerca de 4.500 organizações de 85 países já estão registradas. França e Tunísia encabeçam a lista de participantes, cada um representado por cerca de 300 grupos. Brasil, Bélgica, Itália e Marrocos também terão presença importante com cerca de 50 organizações cada um. Dos Estados Unidos chegará a maior delegação já vista em um FSM, com 66 organizações registradas. Também do Canadá virá um grande número de participantes.

Entre os principais temas a serem discutidos neste encontro se destacam os direitos das mulheres, a juventude e a cultura. Um dos principais focos de atenção desta edição do FSM será a Primavera Árabe, mas outras questões, como a crise econômica global e a ecológica, também estão na agenda. Em uma demonstração do compromisso com o bom desenvolvimento do FSM, as autoridades de migração facilitaram a participação de cidadãos de países com os quais a Tunísia não possui acordos diplomáticos, nem existe embaixada. Basta uma carta-convite para obter um visto, por isso cidadãos do Peru ou de Israel não terão problemas para participar do encontro.

De forma simultânea ao FSM, acontecerá a terceira edição do Fórum Mundial de Mídia Livre, que começou ontem e prosseguirá paralelo ao primeiro. Várias centenas de representantes de meios de comunicação participarão de painéis e debates, bem como na cobertura do próprio Fórum. Será criada uma área de mídia livre para esse fim, enquanto as rádios comunitárias sem fins lucrativos foram identificadas como o formato preferido.

Outro “fórum dentro do fórum” será o acampamento da juventude, que reunirá pessoas entre 18 e 30 anos e oferecerá um espaço para esportes, bailes, competições gastronômicas e debates. “Oferecemos aos jovens um espaço próprio. Há atividades planejadas para o dia e para a noite. Serão quatro dias seguidos sem dormir”, detalhou à IPS um entusiasmado Khalil Teber, integrante da comissão de jovens e um dos organizadores deste fórum específico. “Nossa ideia é apresentar a juventude tunisiana ao mundo, inclusive a revolução do seu ponto de vista. Queremos a participação de todos os jovens tunisianos ali, sem importar sua filiação política”, ressaltou Teber.

Além de ser realizado onde nasceu a Primavera Árabe, o FSM deste ano será significativo porque nele se discutirá em detalhe o seu futuro. Organizadores e participantes têm claro que outras mobilizações sociais, com o movimento Ocupemos, agora têm um papel transcendente. Muitos falam da necessidade de o FSM evoluir. Isso implica a integração de diferentes movimentos e iniciativas no processo de avanço.

“Se o conteúdo for efetivo e o fórum social se reavivar nesta edição, poderá avançar”, oinou Ben Hamida. O responsável pela comunicação do FSM, Romdhane Ben Amor, destacou: “O que realmente importa é o que acontecerá depois do Fórum. Deve surgir uma nova forma de pensar e uma nova visão do mundo. E, se o FSM pode ajudar o movimento social tunisiano e mundial a consolidar suas fortalezas e a encontrar novas formas de cooperação, então será um sucesso”. Envolverde/IPS