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Insurgentes estão mais divididos sem Bin Laden

Peshawar, Paquistão, 5/5/2011 – O assassinato do líder da rede Al Qaeda, Osama bin Laden, desferiu um duro golpe ao já atribulado movimento Talibã do Paquistão e a outros grupos armados semelhantes. “A morte de Osama é um revés muito sério para os movimentos antinorte-americanos em todo o mundo”, disse à IPS o analista de temas de defesa Hasan Askari Rizvi. “A maioria das organizações armadas antinorte-americanas tomam suas forças da Al Qaeda. Estes grupos não estão formalmente associados a essa rede, mas aceitaram Osama como seu líder”, acrescentou. Rizvi disse que agora cabe à direção da Al Qaeda realizar um exame de consciência para enfrentar a situação após a morte de seu líder.

Várias organizações de guerrilheiros islâmicos operam nas caóticas Áreas Tribais Administradas Federalmente (Fata) no Paquistão, perto da fronteira com o Afeganistão. Cada uma segue sua própria agenda. Nas Fata há sete agências tribais, onde opera a mesma quantidade de grupos talibãs paquistaneses. E entre eles há sérias diferenças.

O jornalista Khalid Khan, radicado no Waziristão, no Norte do Paquistão, disse que o vazio pela morte de Osama aprofundará os rachas entre as facções terroristas. Na área da “agência de Mohmand houve uma batalha no ano passado entre o Talibã paquistanês e Lashkar Jhangvi, na qual 25 pessoas foram assassinadas. A situação estava ficando mais perigosa, mas o pessoal de Bin Laden interveio e os dois grupos enterraram suas diferenças”, disse Khan.

“Bin Laden foi uma força inspiradora para a Al Qaeda, e os muçulmanos de todo o mundo fizeram generosas doações para fortalecê-lo contra os Estados Unidos. Porém, não creio que o fluxo de doações continue, porque as pessoas não confiam no movimento Talibã do Paquistão como confiava em Osama”, acrescentou Khan.

O professor de ciência política Johar Ali disse à IPS que o assassinato de Bin Laden não freará por completo a guerra antinorte-americana no Paquistão e no Afeganistão, mas enfraquecerá o Talibã e a Al Qaeda. “É provável que o líder egípcio Ayman Muhammad Rabaie al-Zawahiri se converta em líder da Al Qaeda. Mas a morte de Osama continuará pairando sobre esta organização e o Talibã porque ele era respeitado”, ressaltou Ali.

Osama bin Laden havia cruzado o Paquistão para fugir do bombardeio das forças aliadas no final de 2001. Os governos dos Estados Unidos e do Afeganistão insistiram durante muito tempo que o líder extremista se escondia nas áreas tribais do Paquistão, acusação que as autoridades paquistanesas negavam com veemência. “Seu assassinato perto da academia militar na cidade fortificada de Abbottabad coloca em xeque o papel do Paquistão na luta contra o terrorismo”, disse Akram Tanoli, professor de Ciência Política na Universidade de Peshawar.

No dia 2, o presidente, Asif Ali Zardari, o primeiro-ministro, Yousaf Raza Gillani, e o chefe da Inteligência Inter Serviços (ISI), Ahmed Shuja Pasha, discutiram em uma reunião a situação criada pela morte de Bin Laden, e depois divulgaram um comunicado anunciando que as forças dos Estados Unidos haviam assassinado o líder da Al Qaeda. “O comunicado buscou transmitir ao movimento Talibã do Paquistão que eles não tiveram nenhum papel na operação. Este país já está assediado por agressivas campanhas armadas” dos talibãs, disse Tanoli.

Nos últimos tempos, os Estados Unidos fizeram uma série de acusações quanto a que a ISI teria vínculos próximos com o Talibã e com a Al Qaeda. Inclusive, um informe de Washington, baseado em entrevistas com presos no centro de detenção localizado na base de Guantânamo, apontava a ISI como um celeiro de terroristas, e dizia que as trataria do mesmo modo que tratava a Al Qaeda. “Talvez as forças paquistanesas quisessem eliminar a dominante desconfiança dos Estados Unidos, razão pela qual caçaram Osama”, disse Tanoli.

O analista político Saleh Omar declarou à IPS que para a Al Qaeda é um grande contratempo ter perdido seu líder e fundador. “Não se sabe se os líderes da organização que restam serão capazes de manter vivo o movimento”, acrescentou. O próprio Bin Laden estava seriamente doente e nos últimos anos não se associava com o terrorismo porque estava em fuga, disse Omar. O Talibã e a Al Qaeda já perderam apoio entre o público devido aos mortais ataques suicidas contra mercados e mesquitas. Envolverde/IPS