Estudo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) diz que investimento brasileiro em máquinas e equipamentos nos últimos anos superou média mundial e teve resultados melhores no crescimento do PIB. Cenário deve se manter até 2014, elevando produtividade das empresas e afastando pressões inflacionárias. Para o Banco Central, que decide, no dia 20, se mexe na taxa de juros por causa da inflação, o aumento da produtividade em ritmo menor ao dos salários põe em risco controle de preços.
BRASÍLIA – O Banco Central (BC) decide no dia 20 se muda ou mantém a taxa de juros, para que os preços subam até o limite tolerado pelo governo. No último relatório trimestral de inflação, que apresenta a visão e a estratégia do banco, o BC apontava reajustes salariais em ritmo supostamente superior ao aumento da produtividade das empresas, como “risco muito importante”.
Estudo, divulgado no dia 18 pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), diz, no entanto, que o atual perfil dos investimentos brasileiros, mais concentrados em máquinas e equipamentos do que no resto do mundo, permite ao país crescer sem pressões inflacionárias nos próximos anos.
Segundo o BNDES, desde 2005, o Brasil investe em máquinas e equipamentos mais do que a média mundial e com resultados melhores em termos de produtividade, que é a capacidade de uma empresa produzir mais sem precisar subir os preços, pois os custos dela ficaram iguais ou menores. “Este fato eleva a produtividade do investimento no Brasil, contribuindo para a expansão do produto potencial”, afirma o documento.
O “produto potencial” citado no estudo dos economistas Fernando Puga e Gilberto Borça Jr. é o limite de crescimento suportado pelo país sem que o avanço do consumo seja mais rápido do que a possibilidade de as empresas elevarem a produção. Quando este descasamento acontece, as empresas sentem-se tentadas a reajustar os preços para lucrar mais, pois não temem ficar sem clientes.
No governo Fernando Henrique Cardoso, o BC trabalhava com um PIB potencial em torno de 3,5% ao ano. Na gestão Lula, o número passou para algo entre 4,5% e 5%.
De acordo com o texto, no ano passado, o investimento brasileiro em máquinas e equipamentos atingiu 7,9% do PIB, ligeiramente acima da média internacional de 7,6%, tomando como base pesquisa feita em 2005 pelo Banco Mundial – o estudo diz que a comparação é válida, apesar da defasagem de tempo.
Ao calcular o impacto dos investimentos no crescimento econômico, o BNDES diz que o Brasil consegue resultados 20% superiores à média mundial. A cada ponto percentual aplicado em máquinas e equipamentos aqui, o Brasil cresce 0,16%. No resto do mundo, o índice é de 0,13%. Até a China, com alto nível de investimento, perde neste quesito. “O Brasil consegue viabilizar maiores taxas de crescimento econômico com menor esforço em termos de taxas de investimento”, afirma o estudo.
Nos próximos anos, o quadro deve até melhorar. O estudo considera que, até 2014, o país investirá R$ 1,8 trilhão em máquinas e equipamentos. Caso a estimativa se confirme, o gasto com máquinas e equipamentos alcançaria 11% do PIB, acima dos 7,9% observados no ano passado. O impacto no crescimento econômico passaria de 0,16% para 0,17%, a cada ponto percentual investido.
“Significa que, para um mesmo esforço em termos de aumento do investimento, o Brasil consegue alcançar taxas de crescimento de longo prazo mais altas, sem incorrer em desequilíbrios e pressões inflacionárias”, diz o estudo.
* Publicado originalmente no site Agência Carta Maior.