Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas das Nações Unidas aponta que é extremamente provável, 95%, que as emissões antropogênicas sejam o principal fator responsável pelo aquecimento global.
Depois de quatro anos de elaboração, com o trabalho direto de 259 autores de 39 países, que contaram com a ajuda de mais de 50 mil comentários para avaliar 9200 estudos sobre as mudanças climáticas, foi apresentado nesta sexta-feira (27) o “Sumário para os Formuladores de Políticas” do Grupo de Trabalho I (GT I – saiba mais) do Painel intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC).
A primeira informação que esse documento destaca é que entre os membros do IPCC – milhares de cientistas de mais de uma centena de países e diversas disciplinas diferentes – existe a confiança de 95% de que as emissões de gases do efeito estufa (GEEs) resultantes das atividades humanas foram responsáveis por mais de metade da elevação média da temperatura registrada entre 1951 e 2010 (mapa ao lado).
“As emissões continuadas de gases do efeito estufa causarão ainda mais aquecimento e transformações em todos os componentes do sistema climático. Limitar as mudanças climáticas exigirá uma redução substancial e sustentada dessas emissões”, afirmou Thomas Stocker, co-presidente do GT I.
“A temperatura da superfície global para o fim do século XXI é projetada para provavelmente ultrapassar os 1,5?C de aquecimento em relação ao período entre 1850 a 1900 em todos os cenários, menos o mais conservador, e ficar acima de 2?C nos dois piores cenários”, completou.
O sumário afirma que essa elevação na temperatura, causada pela maior concentração de GEEs na atmosfera em 800 mil anos, resultará em uma série de transformações em nosso planeta e na forma como acontecem os fenômenos climáticos (veja tabela no fim do texto).
É considerado altamente provável que até o fim do século o nível dos oceanos suba entre 26 cm a 82 cm, causando impactos para cerca de 70% das regiões costeiras do planeta . A elevação entre 1900 e 2012 foi de 19 cm.
“Com os oceanos se aquecendo, as geleiras e mantos de gelo reduzirão, significando que o nível global do mar continuará a subir, mas a uma taxa mais veloz do que a que vimos nos últimos 40 anos”, afirmou Qin Dahe, co-presidente do GT I.
A crescente acidificação também é um problema que tende a se agravar, sendo que, desde o início da Era Industrial, o pH da superfície dos oceanos subiu 0,1, com um aumento de 26% na concentração de íons de hidrogênio.
A acidificação é a principal responsável pelo processo de “branqueamento” dos recifes de coral. Sem os corais, todo o ecossistema marinho está em perigo.
Segundo o IPCC, nas últimas duas décadas, a Groelândia e a Antártica perderam massa de gelo, e praticamente todas as geleiras do planeta passaram pelo mesmo processo.
A taxa de derretimento nas geleiras teria sido entre 91 a 361 gigatoneladas ao ano no período entre 1971 a 2009.
Na Groenlândia, é muito provável que a perda de gelo tenha acelerado recentemente, passando de 34 gigatoneladas ao ano entre 1992 a 2001, para 215 gigatoneladas anuais entre 2002 e 2011.
Credibilidade
“Observações das mudanças no sistema climático são baseadas em linhas múltiplas de evidências. Nossa avaliação da ciência descobriu que a atmosfera e os oceanos estão mais quentes, que a quantidade de neve e gelo diminuiu, que o nível dos oceanos subiu e que a concentração dos gases do efeito estufa cresceu”, afirmou Dahe.
Durante a reunião desta semana em Estocolmo, na Suécia, onde representantes de mais de uma centena de países participaram da discussão final para a elaboração deste sumário, muito foi falado da desaceleração do aquecimento global nos últimos 15 anos.
O texto final concorda que há um “hiato” na elevação das temperaturas, mas que de nenhuma forma isso compromete a tendência de “robusto aquecimento multi-decadal” já verificado e que deve prosseguir no futuro.
“A temperatura da superfície da Terra em cada uma das últimas três décadas foi sucessivamente mais quente do que qualquer década anterior desde 1850 no hemisfério Norte”, afirma o sumário.
Variabilidade naturais podem ser a resposta para a desacelaração temporária, entre elas a La Niña.
Necessidade de Agir
O IPCC espera que, com essas novas informações, as Conferências das Partes das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COPs) e outros fóruns de negociações possam avançar mais rapidamente em direção a um acordo climático ambicioso.
“Este Sumário para os Formuladores de Políticas fornece um panorama importante da base científica das mudanças climáticas. É uma fundação sólida para considerações dos impactos das mudanças climáticas nos sistemas humanos e naturais e sobre as maneiras para lidarmos com esse desafio”, declarou Rajendra Pachauri, presidente do IPCC.
Para o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, o sumário é um alarme para os governos, que não têm se mostrado suficientemente preocupados com as mudanças climáticas. “As informações estão aí. Agora precisamos agir.”
Christiana Figueres, presidente da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC), reforçou a mensagem. “Para retirarmos a humanidade da zona de perigo, os governos precisam adotar ações imediatas e estabelecer um acordo climático em 2015 que ajude a acelerar a resposta global às mudanças climáticas.”
O documento também destaca, infelizmente, que precisamos nos preparar para medidas de adaptação, já que muitas das transformações do clima já são inevitáveis.
“Como um resultado de nosso passado, presente e futuro esperado de emissões de CO2, estamos destinados a enfrentar as mudanças climáticas e seus efeitos por muitos séculos, mesmo se as emissões pararem”, alertou Stocker.
O “Sumário para os Formuladores de Políticas” é um resumo do relatório “Mudanças Climáticas 2013 – As bases físicas científicas”, que será divulgado em fevereiro de 2014.
O grande documento síntese de todos os relatórios dos Grupos de Trabalho do IPCC será a Quinta Avaliação (IPCC Fifth Assessment Report – AR5), que deve ser apresentada durante a COP 20, no final do ano que vem em Lima, no Peru.
* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.