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IPS premia Jayantha Dhanapala, promotor do desarmamento nuclear

Jayantha Dhanapala. Foto: CC BY-SA 3.0
Jayantha Dhanapala. Foto: CC BY-SA 3.0

Nações Unidas, 17/11/2014 – Jayantha Dhanapala, ex-secretário-geral adjunto da Organização das Nações Unidas (ONU) para Assuntos de Desarmamento (1998-2003) e firme defensor de um mundo sem armas nucleares, receberá o Prêmio ao Êxito Internacional pelo Desarmamento Nuclear, patrocinado pela agência de notícias Inter Press Service (IPS).

Dhanapala “contribuiu enormemente com a construção de bases sólidas sobre as quais algum dia a comunidade mundial cumprirá essa grande ambição”, afirmou Randy Rydell, até há pouco alto funcionário para Assuntos Políticos no Escritório da ONU para Assuntos de Desarmamento. Pouco faltou para que desmantelasse artefatos nucleares com suas próprias mãos, brincou Rydell.

Desde 2007, o também ex-embaixador do Sri Lanka preside a organização Conferências Pugwash sobre Ciência e Assuntos Mundiais, ganhadora do Prêmio Nobel da Paz 1995. Precisamente naquele ano, Dhanapala desempenhou um papel crucial na Conferência dos Estados Partes do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP).

O prêmio da IPS é copatrocinado pela organização não governamental budista Soka Gakkai Internacional, com sede em Tóquio, que lidera uma campanha mundial para abolir as armas atômicas, e será apresentado hoje em cerimônia oficial na ONU. O acontecimento, que será assistido por altos funcionários das Nações Unidas, embaixadores e representantes dos meios de comunicação e da sociedade civil, é organizado pela Associação de Correspondentes da ONU (Unca).

“Quando o Tratado de Não Proliferação se estendeu indefinidamente em 1995, a pessoa mais responsável por converter o desarmamento nuclear em uma obrigação legal permanente foi o embaixador Jayantha Dhanapala”, afirmou à IPS Douglas Roche, ex-senador e ex-embaixador canadense para temas de desarmamento, além de professor visitante na Universidade de Alberta.

Segundo Roche, a “magistral diplomacia” de Dhanapala – que estabeleceu uma ligação entre os poderosos Estados nucleares e o mundo não nuclear – foi a responsável por delinear três promessas específicas. A primeira foram os esforços sistemáticos e progressivos para a eliminação das armas atômicas. A segunda, um Tratado de Proibição Completa dos Testes Nucleares em 1996. E a terceira, uma primeira conclusão das negociações para uma proibição dos materiais físseis.

“Dhanapala elevou a norma global e criou consciência mundial quanto às armas nucleares serem incompatíveis com a plena implementação dos direitos humanos”, pontuou Roche, presidente e fundador da Middle Powers Initiative e ex-presidente do Comitê de Desarmamento da ONU na 43ª Assembleia Geral, em 1988.

Jonathan Granoff, presidente do Global Security Institute (GSI), apontou à IPS que “ninguém fez mais para preservar e fortalecer o sistema legal internacional que restringe a propagação das armas nucleares e fixa claramente o ponto de referência para a eliminação universal das armas nucleares do que o embaixador Jayantha Dhanapala”.

Granoff acrescentou que “sua liderança no Departamento de Assuntos de Desarmamento da ONU e como presidente da Conferência de Revisão e Extensão de 1995 teve suas raízes em um ponto de vista que claramente guia sua vida”.

Quando era um jovem estudante, durante a Crise dos Mísseis em Cuba, se perguntou “como podiam as duas superpotências do momento colocar milhões de cidadãos inocentes, em Estados não nucleares e não alinhados, diante do perigo de explosão, radiação, efeitos climáticos e genéticos de semelhante intercâmbio de armas”, recordou Granoff.

Dhanapala se dedicou incansavelmente a conscientizar nações, organizações e indivíduos, bem com a lhes dar poder para que atuassem com base na noção de que entre as armas nucleares e a civilização há uma única opção: ou uma ou outra, destacou o presidente do GSI. “Seu trabalho na arena internacional exemplifica a fusão de aspirações idealistas baseadas em valores universais e políticas práticas informadas pelas limitações das realidades políticas e do poder”, acrescentou Granoff, que também é alto assessor do Comitê sobre Controle de Armas e Segurança Nacional da Associação de Advogados Norte-Americanos.

Granoff também ressaltou que ele foi crucial na hora de reviver o interesse da ONU na questão “desarmamento e desenvolvimento”, em uma época em que o gasto militar estava voltando a aumentar, e no pós-Guerra Fria, enquanto as necessidades sociais e econômicas ficavam sem serem satisfeitas em vastos setores do mundo.

Dhanapala foi diretor do Instituto das Nações Unidas de Investigação sobre o Desarmamento (1987-1992), cuja base financeira ampliou com êxito, bem como suas áreas de estudo, para incluir os desafios não militares à segurança.

Também foi membro de duas das comissões internacionais mais influentes para a promoção do desarmamento nuclear: Comissão de Canberra (1996) e Comissão de Armas de Destruição em Massa, ou Comissão Blix (2006). Depois recebeu uma concessão da Fundação MacArthur que lhe permitiu publicar seu livro Multilateral Diplomacy And The NPT: An Insider’s Account.

Entre as várias instituições cujos conselhos assessores integrou estão o Instituto Internacional de Estocolmo para a Investigação da Paz e o Centro de Genebra para o Controle Democrático das Forças Armadas. Também foi presidente honorário do Escritório Internacional pela Paz. Em todos os cargos que ocupou em sua carreira, afirmou Rydell, Dhanapala inspirou seus colegas a lutarem de modo persistente pelos interesses da comunidade mundial, embora tivesse que enfrentar grandes obstáculos.

“Um dia o desarmamento nuclear finalmente será alcançado deste modo”, acrescentou Rydell. E Roche destacou à IPS que “se os Estados nucleares tivessem cumprido os padrões fixados pelo embaixador Dhanapala, hoje o mundo seria um lugar mais seguro”.

O Prêmio ao Êxito Internacional da IPS, por contribuições à paz e ao desenvolvimento, já foi entregue ao ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva (2008), ao ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan (2006), ao Chamado Mundial à Ação Contra a Pobreza (2005), ao Grupo dos 77 (G77) países em desenvolvimento (2000), ao ex-secretário-geral da ONU Boutros Boutros-Ghali (1995), e ao ex-presidente finlandês Martti Ahtisaari (1991), Envolverde/IPS